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Enquanto Isso | Todo fim de ano um engarrafatarse

Mais: Quatro campanhas para apoiar e um Bat-pênis

21.10.2022, às 17H07.
Atualizada em 21.10.2022, ÀS 19H29

Todo mundo que acompanha o quadrinho brasileiro sabe que o Catarse é a grande feira da HQ nacional. Não uma loja; uma feira. A plataforma online de financiamento coletivo, que tem pouco mais de dez anos, foi adotada por vários tipos de feirantes, desde o artista independente no primeiro trabalho à editora grande que quer conversar com as bases. Virou vitrine da HQ brasileira.

Todo mundo que acompanha o quadrinho brasileiro também sabe que fim de ano é época de engarrafatarse. É o período em que todo mundo quer lançar seu projeto de financiamento coletivo. Tem a ver com as feiras não virtuais, como a CCXP em dezembro – para o quadrinista chegar lá com uma grana de apoio. Também tem a ver com um pouco de desorganização: você tem que fazer o projeto naquele ano, mas deixa para última hora.

 

Gráfico 1 - Clique para ampliar

Depois de alguns anos de engarrafatarses, também se comenta que, por causa do acúmulo de projetos no final do ano, fica mais difícil financiar um quadrinho no Catarse nesse período. A concorrência, afinal, é maior. É isso mesmo?

Eu mesmo estou promovendo uma campanha de financiamento coletivo no Catarse neste exato momento (Balões de Pensamento 2! Já apoiou?). Acompanho outras campanhas que estão penando para bater suas metas neste final de 2022. Não é o caso de todas – tem algumas que voam –, mas a impressão é de que a concorrência contribui para o que eu estou chamando de sufocatarse. Eu também estou no sufoco.

Mas eu queria saber da realidade dos números. Fui atrás do próprio Catarse. Conversei com Leandro Saioneti, analista de projetos de jogos e HQs da plataforma. Falei que queria saber mais desses acúmulos de projetos no final do ano, pedi alguns números brutos e ele mandou.

Confirmei que:

1 – O engarrafamento de projetos de quadrinhos no Catarse no fim do ano é real; mas é menor do eu supunha.

E descobri que:

2 – A taxa de sucesso de projetos no fim do ano é praticamente a mesma do resto do ano. Ou seja, o número de projetos sobe, mas a quantidade de projetos que bate a meta se mantém. Às vezes até sobe.

3 – Tem épocas piores no ano para se tentar financiamento do projeto.

Também confirmei que a pandemia mexeu com o Catarse. E complicou minhas contas.

Gráfico 2 - Clique para ampliar

Antes de chegar nas minhas conclusões, alguns números de contexto. O Catarse começou a funcionar em fevereiro de 2011, há quase doze anos. Teve um crescimento aos saltos: passou de 276 para 546 projetos do primeiro para o segundo ano, mais do que dobrou este número no ano seguinte e bateu 7167 projetos em 2017 (veja no Gráfico 1). Entre 2018 e 2021, ficou entre os 5000 e 6000 projetos por ano. Isto, claro, no total – projetos de quadrinhos, literatura, educação, esportes, jornalismo, jogos, gastronomia, fotografia, socioambientais etc.

O pessoal dos gibis descobriu a plataforma lá no início, em 2011, mas bem tímidos: foram só dois projetos naquele primeiro ano de Catarse. O primeirão que deu certo foi Achados e Perdidos, de Eduardo Damasceno e Luis Felipe Garrocho.

O crescimento também aconteceu aos pulos: 16 projetos de HQ no segundo ano, 58 no terceiro, 62 no quarto, 137 em 2015 e mais de 400 em 2019 (veja no Gráfico 2). O primeiro ano da pandemia, de 2020, foi o único de queda: 344 projetos. No ano passado, o crescimento retomou, com 511 projetos. Este ano, considerando apenas nove meses e meio, já teve 523 projetos de financiamento coletivo de HQ. Outro recorde.

Quadrinhos já chegaram a representar 20% da plataforma em termos de número de projetos. Hoje ficam na faixa dos 8% e, na média geral dos 11 anos de existência do Catarse, 6%. (Isto, claro, em número de projetos, não em números de faturamento.) É bom lembrar que o Catarse está longe, bem longe, de ser uma feira só de quadrinistas ou editoras de quadrinhos.

Gráfico 3 - Clique para ampliar

Qual é a época do engarrafatarse, o período do ano em que o Catarse tem mais projetos de quadrinhos? O senso comum está certo: outubro e novembro costumam ser os meses em que mais campanhas terminam. Quando a pandemia não atrapalha as contas, ao menos.

Por que não dezembro? Porque dezembro é o mês em que o criador do projeto precisa estar com o dinheiro no bolso e/ou com o material pronto para levar à CCXP e outros eventos. Você tem que conseguir o financiamento antes de dezembro.

Em 2018 e 2019, por exemplo, o número de projetos de quadrinhos no Catarse ficou entre 10 e 30 entre janeiro e setembro. Em outubro e novembro, o número pulou para 60 a 70 (veja o Gráfico 3 - que considera o mês de encerramento de cada campanha). Um terço de todos os projetos do ano teve fechamento concentrado em dois meses.

Em 2020, o ano sem eventos presenciais, o número total de projetos caiu e a tendência mudou um pouco: os meses com maior número de projetos foram novembro (11% de todos os projetos do ano) e dezembro (13%). Foi um ano atípico.

No ano passado, ainda sem CCXP presencial nem outros eventos de porte, também houve uma concentração de projetos em dezembro (12%). E foi um ano de recorde: o Catarse superou os 500 projetos de quadrinhos.

Em 2022, até o momento, continuamos em pandemia e os números estão esquisitos. Apesar de, em setembro, o Catarse já ter superado o recorde de projetos de quadrinhos de todo o ano passado, a distribuição de projetos por mês está mais igualitária.

E uma curiosidade: o número geral de projetos no Catarse caiu em 2021 e 2022, enquanto o de quadrinhos aumentou (veja no Gráfico 1). Ou a crise econômica diminuiu as esperanças de menos quadrinistas do que do pessoal de literatura, jogos, gastronomia, fotografia, esportes etc., ou projetos de quadrinhos têm metas mais comedidas. Ou tem outro fator que eu não sei avaliar.

Gráfico 4 - Clique para ampliar

A época do ano afeta as chances de um projeto de quadrinhos bater a meta no Catarse? Sim. Mas a pior época não é o engarrafatarse. É o início do ano, quando a feira tem pouca gente.

Na média dos últimos cinco anos (setembro de 2017 a setembro de 2022), a média de sucesso de projetos de quadrinhos no Catarse é de 42%. Dois em cada cinco projetos atingem ou superam a meta.

(Importante: estou considerando "sucesso" como atingir os 100% da meta que o projeto define. Há campanhas flex, que geram quadrinhos mesmo quando não se atinge os 100%. Nos meus cálculos, não fiz a diferenciação entre campanhas flex ou tudo-ou-nada.)

Em janeiro e fevereiro, esta taxa de sucesso já caiu até 10% - em janeiro de 2018, quando um único projeto foi financiado entre dez. Entre 2018 e 2020, a média de sucesso das campanhas de janeiro e fevereiro ficou entre os 10 e os 24% - bastante baixa.

Nos últimos dois pares de janeiro-fevereiro, em 2021 e 2022, a taxa de sucesso ficou perto da média do ano – entre 40 e até 57%. Mas a pandemia e a falta de eventos, mais uma vez, complicam as contas.

A melhor época para fazer projetos? Os meses do meio do ano costumam ter menos projetos e mais taxas de sucesso. Em maio de 2018, março de 2019 e junho de 2020, mais de metade dos projetos bateram a meta. No ano passado, entre julho e setembro, dois em cada três projetos bateram a meta.

E no engarrafatarse? O número de projetos aumenta, mas a taxa de sucesso se mantém ou aumenta. Nos meses de outubro e novembro de 2018, 2019, 2020 e 2021, metade dos projetos atingiu a meta.

Era de se esperar que, com mais projetos, o número dos que dão certo fosse cair. Mas não. No final do ano, a grande feira do Catarse tem muitos feirantes, mas também tem muitos clientes. Ou o mesmo número de clientes gastando mais. Ou as duas coisas.

E quando há pouca oferta, no início do ano, há poucos clientes. O Catarse segue a regra da maior parte do comércio: o começo de ano é fraco, o fim de ano é bom.

Gráfico 5 - Clique para ampliar

Os dados que eu levantei só dizem respeito a número de campanhas e atingimento de meta. Não levam em conta o valor que cada campanha estabelece de meta, se são projetos de autores de renome ou não, se são projetos de editoras ou não, se são editoras pequenas ou grandes, nem o engajamento que cada campanha consegue gerar (ou não). Nem, como já disse acima, a diferença entre o que é sucesso numa campanha flex e numa campanha tudo-ou-nada.

Uma campanha com meta de 10 mil reais é diferente da campanha que quer 100 mil. A campanha organizada pela editora Seguinte ou pela Todavia (cada uma fez um projeto) tem recursos e expertise diferentes da organizada pela Draco (42 projetos) ou pela Figura (20 projetos). Assim como a campanha de um Caetano Cury (4 projetos) ou de uma Cartumante (3 projetos, incluindo um de assinatura) já parte de uma base de apoiadores diferente da de quem está começando a carreira.

Ainda há discrepâncias aí no meio, como campanhas que definem metas muito baixas – que sabidamente não pagam os custos de produção da HQ – para propagandear o atingimento rápido da meta ou só para estar na feira Catarse. Tem campanhas que os criadores apenas soltam na plataforma e não divulgam. E também não levei em consideração as campanhas de assinatura, em que você paga mensalmente a um autor. Há autores que têm público de assinatura para financiar campanhas pontuais - e os números que citei acima tratam apenas de campanhas pontuais.

Tudo isso influencia o resultado das campanhas. São fatores qualitativos, que mereciam uma pesquisa bem maior para saber o quanto influem.

Outro fator que é impossível deixar de lado quando se trata do Catarse é o das campanhas que não cumprem o prometido. Este ano foi atravessado por críticas de leitores a projetos das editoras Skript, Graphite e Red Dragon, entre outras, por atrasos, cancelamentos e outros problemas de entrega. O crítico Alexandre Linck fez uma pesquisa sobre o assunto, publicada aqui.

Sendo apenas o espaço da feira, o Catarse não se responsabiliza pelo que está na banquinha de cada feirante. A plataforma cede o espaço e o que passa por ela é a compra – o dinheiro, do qual ela fica com um percentual – no caminho entre comprador e editora ou autor. O resto da relação fica entre estes dois polos.

É o que diz a declaração que o Catarse emitiu há algumas semanas, justamente relativa a estas reclamações. No comunicado à imprensa, o Catarse ressaltou que não faz curadoria dos projetos que abriga nem é uma loja, e que torna a plataforma livre para quem quiser usá-la como “espaço de conexão”. Dentro desta ideia, o Catarse não se envolve no cumprimento da promessa que a editora ou o autor fez aos apoiadores.

O comunicado ainda cita uma pesquisa feita pela plataforma junto ao Benfeitoria – outro site de financiamento coletivo – que apurou que 92% dos projetos conseguem entregar tudo que prometem. A pesquisa, porém, foi feita entre criadores de projetos e não entre apoiadores.

Mesmo considerando que a taxa de insatisfação seja de 8%, este valor baixo  já prejudica a imagem do Catarse, do financiamento coletivo como um todo e a confiança geral de quem quer apoiar um projeto. O Catarse, evidentemente, diz que quer zerar esse número. No caso de campanhas ou criadores que repetidamente não cumprem o prometido, a plataforma pode abrir os dados privados de editora ou autor para o apoiador lesado começar um processo judicial. O Catarse também pode impedir aquela editora ou autor de seguir com uma campanha no ar ou de abrir novas.

O último caso aconteceu recentemente com a editora Graphite, efetivamente banida da plataforma por período não divulgado.

O Catarse teve recordes imponentes com quadrinhos nos últimos dois anos. Em 2021, Confinada, de Leandro Assis e Triscila Oliveira com a editora Todavia, arrecadou R$ 615 mil (891% da meta) de 7800 apoiadores e De Onde Viemos, de Carlos Ruas, arrecadou R$ 590 mil (841% da meta) entre 6400 apoios. Curiosamente, os dois projetos encerraram a campanha em outubro, mês de engarrafatarse. Arlindo, de Ilustralu (via Editora Seguinte) chegou perto dos R$ 400 mil, ou 455% da meta.

Este ano, a editora Figura conseguiu levantar mais de R$ 100 mil em menos de um dia com a Coleção Toppi – volumes 1 e 2; Little Nemo, da mesma editora, bateu na semana passada a maior meta que o Catarse já teve em um projeto de quadrinhos, R$ 180 mil, e segue arrecadando apoios até a semana que vem.

De outro lado, Brega Story, de Gidalti Jr., um dos quadrinhos brasileiros mais comentados da história recente – e de um autor já premiado – só levantou pouco mais de R$ 20 mil na plataforma. Meta 2, a continuação de uma HQ também premiada com o Jabuti, ainda não atingiu a meta (o trocadilho é triste). Juliana Fiorese, artista que já financiou outros sete projetos no Catarse, ainda não conseguiu movimentação com seu último, Fragmentos (in)ConscientesOutro projeto em que eu mesmo estou envolvido, Novembro 2graphic novel de Matt Fraction e Elsa Charretier, dois nomes fortes da HQ norte-americana, ainda não decolou, a seis dias de encerrar.

Neste momento, há 36 projetos de financiamento coletivo de quadrinhos no Catarse que a plataforma classifica como “reta final”: encerram hoje ou até o fim do mês. Doze já superaram a meta, o que dá um em cada três. Segundo os números do Catarse no mês de outubro dos últimos cinco anos, seis destes projetos que ainda não bateram a meta vão chegar lá até o fim do mês. Dezoito, não.

A situação econômica atrapalha muito quem está procurando apoiadores. Com inflação e desemprego, é difícil ter grana sobrando para apoiar projetos de Catarse. A situação política, que é motivo de quase toda a discussão atual no país (com razão) também não colabora. O engarrafatarse está aí. E faltam só 40 dias para a CCXP.

QUATRO PROJETOS PARA APOIAR

Um dos pontos curiosos da série Apagão, capitaneada pelo roteirista Raphael Fernandes, é que ela pega a crise do momento no Brasil – onde nunca falta uma crise – e sublima em pancadaria de gibi. A crise energética que ameaçou blecautes pelo país há dez anos (lembra?) inspirou o primeiro volume, Cidade Sem Lei/Luz. Agora, o subtítulo sugere crises de hoje: o novo volume chama-se Apagão: Fogo nos Fascistas.

No meio da pancadaria, tem uberização do trabalho, fogo no Borba Gato, escravidão urbana e o movimento dos Entregadores Antifascistas. E os fascistas, claro.

O desenhista e colorista do novo volume – o quarto da série, se não contar a expansão para áudio-jogo e card game – é Dilacerda. No release, o roteirista Raphael Fernandes diz que a série se encaminha para o final. Você pode apoiar Fogo nos Fascistas até 17 de novembro.

Em 2020, o lendário Ota e a Tai Editora financiaram o projeto de A Garota Bipolar. O projeto devia ter sido entregue no final daquele ano. Não foi. Ota ficava mexendo e remexendo e redesenhando e acrescentando tiras da personagem e estourou um prazo atrás do outro.

Até que, em setembro do ano passado, Ota faleceu. O projeto ficou inacabado. A Tai Editora finalizou a produção tal como Ota queria – com todas as edições da sua personagem Bipolar, o gibi que ele só vendia na própria mão em eventos, mais material inédito – e acrescentou uma biografia escrita pelo jornalista Francisco Ucha.

Quem apoiou o projeto em 2020 está recebendo sua edição agora, segundo a editora. O livro passou de 100 páginas para 160 e ganhou o subtítulo The UltimOTA Edition. Quem não apoiou na época pode apoiar hoje – e o livro é despachado imediatamente. A nova campanha está no ar até 2 de novembro.

Sucesso nas redes (400 mil seguidores somados) e uma das minhas quadrinistas preferidas (que já apareceu algumas vezes aqui na coluna), Cecília Ramos ou Cartumante está encampando uma das campanhas de maior sucesso no Catarse este ano. Perto de completar um mês na plataforma, Obrigada! Foi um Transtorno já bateu duas vezes a meta e segue crescendo.

É uma coleção das tiras que a autora publica no Instagram e no Twitter. O humor é fino: tem a vida sexual dos passarinhos, desafios de pedir comida em aplicativo, a realidade de trabalhador autônomo e como (não) gozar no Brasil de hoje. E gênios da lâmpada. E dragões. E tatuagens.

Dá para apoiar o projeto até 10 de novembro. Vale a pena dar uma conferida nas opções com brindes.

Outro dos meus quadrinistas preferidos, Raphael Salimena, anunciou livro novo de uma hora para outra. Adoro essas surpresas. Linha do Trem: É o que tem pra hoje vai reunir todas as tiras que Salimena publicou em 2020.

Já recomendei aqui a assinatura das tiras do Salimena – no Padrim, outra plataforma de financiamento coletivo. Ele entrega 20 tiras por mês, de nível legal a brilhante. E é um dos grandes ilustradores que temos.

É o que tem pra hoje vai sair pela Draco, que está administrando o projeto no Catarse. Já bateu várias metas estendidas e teve que anunciar novas, inclusive com material que vai ser exclusivo de quem vai apoiar na campanha – só até 2 de novembro.

O PÊNIS E A DEMISSÃO

Você lembra da polêmica com o pau do Batman? Em 2018, Bruce Wayne teve seu primeiro nu frontal nos quadrinhos (pelo menos nos oficiais) na edição 1 da mini Batman: Damned e a DC teve um ataque antipeniano. A edição impressa foi recolhida e a digital foi “corrigida”. O bat-pênis virou assunto fora do mundinho dos quadrinhos. O fato de ele ser torto para a direita rende até análise política.

O Bat-pênis também foi quase um momento de virada na vida de Will Dennis, um dos editores que havia coordenado a HQ de Brian Azzarello e Lee Bermejo. Dennis trabalhava na HQ há pelo menos três anos e, quando ela finalmente saiu, ele já havia se demitido da DC – pois resolveu que não queria se mudar quando a editora mudou-se de Nova York para Burbank, Califórnia, em 2015. Continuou em Damned, porém, como “editor-consultor”.

“Lee [Bermejo] mora na Itália, ele fica cercado por estátua com nu sempre que sai para tomar café”, Dennis disse em entrevista recente. “Não é grande coisa pra ele. Também não era para nós.”

O dia em que a revista foi publicada e houve o rebuliço com o pênis, porém, é um dia de que Dennis não esquece e conta em detalhes na entrevista à Fanbase Press. Foi o que o levou a um telefonema:

“Liguei pro Jim [Lee, um dos publishers da DC na época] e disse: ‘Olha o que vocês podem fazer: Me demitam. Agora. Vai ter dois benefícios: vai avisar que “tínhamos um editor renegado, que nem trabalhava mais na editora e não sabia o que podia e não podia. Ele trabalhava com gibi adulto, não sabia dos nossos critérios e tivemos que demitir porque não é de confiança com os nossos gibis.” Aí o Mark [Doyle, o editor oficial da edição] e os outros vão ficar safos. E você vai fazer de mim o cara mais sensacional e famoso dos quadrinhos, porque eu vou virar o cara que demitiram por causa do pau do Batman. E eu nunca mais vou ter que pagar cerveja na vida.’”

Dennis diz que a resposta de Lee foi “você é um imbecil” e a DC não topou a “demissão”.

No mais, Dennis também revela que as edições subsequentes de Damned também passaram por alterações. “Vocês deviam ter visto a cena da edição seguinte, com a Arlequina, que já estávamos fazendo e que era uma coisa insana, mas tivemos que mudar.”

As duas outras edições de Batman: Damned saíram com bastante atraso em 2018 e 2019. Não se sabe o que foi alterado. O material chegou no Brasil com o nome Batman: Amaldiçoado em 2019 – sem Bat-pênis.

UMA CAPA

De Manuele Fior em seu novo trabalho, Hypericon. Sai na semana que vem na Itália. É mais uma história romântica de um dos meus autores preferidos – existe quadrinho romântico melhor que Cinco Mil Quilômetros por Segundo?

Se passa em Berlim nos anos 1990 e conta a relação entre Ruben, um artista impetuoso, e Teresa, moça certinha que prepara uma exposição sobre Tutancâmon.

Tem preview da edição italiana no site da Coconino. Sai na França no mês que vem pela Dargaud. Como Fior teve uma acolhida recente no Brasil, com três álbuns em poucos anos (Cinco Mil, A Entrevista e Celestia), tenho alguma esperança de que também chegue aqui.

UMA PÁGINA

De Marjane Satrapi em Persépolis. A autora iraniana está leiloando os originais de seu clássico na Sotheby’s esta semana. O lance atual para a página acima é de 4.200 libras (R$ 24.300). Se você tiver interesse, ainda tem dois dias para dar seu lance nesta e em outras.

Em entrevista ao Guardian, Satrapi disse que está leiloando as 44 páginas do primeiro volume de Persépolis para financiar seu próximo trabalho – que ela não conta qual é, nem se será nos quadrinhos ou no cinema.

O jornal também lhe perguntou sobre as manifestações pelos direitos das mulheres que estão acontecendo nesse momento no Irã. Satrapi, que não põe os pés no seu país há 22 anos, declara:

“O que eu vivi, a juventude está vivendo agora. A minha esperança é que a situação vire e resulte em algo lindo, o que se chama de liberdade e democracia. E a grande diferença da minha época é que os meninos não nos apoiavam. O bonito de agora é que meninos e meninas estão juntos. É isso que me dá esperança, ao mesmo tempo que fico extremamente triste por conta de tanta violência. Não há nada mais bonito e inspirador do que a coragem delas.”

UM BALÕES

Continua no Catarse a campanha de Balões de Pensamento 2: ideias que vêm dos quadrinhos. É um livro e eu sou o autor.

Balões 2 é uma coletânea de textos que escrevi para o Blog da Companhia sobre autores de quadrinhos, sobre leitores de quadrinhos, sobre o mercado de quadrinhos, sobre tradução de quadrinhos e sobre pesquisar quadrinhos. Tem material inédito, como comentários sobre os textos e ilustrações que eu nem merecia de tão incríveis do Alexandre S. Lourenço (Robô Esmaga, Você é um Babaca, Bernardo, Boxe). Compre pelo menos pelas ilustrações.

Esta semana anunciei uma meta estendida: quando a campanha chegar a 120%, todos os apoiadores ganham uma coleção de postais com ilustrações do Alexandre S. Lourenço. Tem alguns acima.

A campanha fica no Catarse até o dia 7 de novembroVocê pode apoiar em várias modalidades, inclusive comprando com meu primeiro livro, Balões de Pensamento (ou Balões 1). Quem participar do Catarse também ganha descontos exclusivos na Loja Monstra.

Se você curte o que eu escrevo aqui, acho que vai curtir o que escrevi no livro. 

(o)

Sobre o autor

Érico Assis é jornalista da área de quadrinhos desde que o Omelete era mato. Também é autor dos livros Balões de Pensamento – textos para pensar quadrinhos e Balões de Pensamento 2 – ideias que vêm dos quadrinhos.

Sobre a coluna

Toda sexta-feira (ou quase toda), virando a página da semana nos quadrinhos. O que aconteceu de mais importante nos universos das HQs nos últimos dias, as novidades que você não notou entre um quadrinho e outro. Também: sugestões de leitura, conversas com autores e autoras, as capas e páginas mais impactantes dos últimos dias e o que rolar de interessante no quadrinho nacional e internacional.

#93 – Um almoço, o jornalismo-esgoto e Kim Jung-Gi

#92 – A semana mais bagunçada da nossa história

#91 – Ricardo Leite em busca do tempo

#90 – Acting Class, a graphic novel queridinha do ano

#89 – Não gostei de Sandman, quero segunda temporada

#88 – O novo selo Poseidon e o Comicsgate

#87 – O mundo pós-FIQ: você tinha que estar lá

#86 – Quinze lançamentos no FIQ 2022

#85 – O Eisner 2022, histórico para o Brasil

#84 – Quem vem primeiro: o roteirista ou o desenhista?

#83 – Qual brasileiro vai ao Eisner?

#82 – Dois quadrinhos franceses sobre a música brasileira

#81 – Pronomes neutros e o que se aprende com os quadrinhos

#80 – Retomando aquele assunto

#79 – O quadrinista brasileiro mais vendido dos EUA

#78 – Narrativistas e grafistas

#77 – George Pérez, passionate

#76 – A menina-robô que não era robô nem menina

#75 – Moore vs. Morrison nos livros de verdade

#74 – Os autores-problema e suas adaptações problemáticas

#73 – Toda editora terá seu Zidrou

#72 – A JBC é uma ponte

#71 – Da Cidade Submersa para outras cidades

#70 – A Comix 2000 embaixo do monitor

#69 – Três mulheres, uma Angoulême e a década feminina

#68 – Quem foi Miguel Gallardo?

#67 – Gidalti Jr. sobre os ombros de gigantes

#66 – Mais um ano lendo gibi

#65 – A notícia do ano é

#64 – Quando você paga pelo que pode ler de graça?

#63 – Como se lê quadrinhos da Marvel?

#62 – Temporada dos prêmios

#61 – O futuro da sua coleção é uma gibiteca

#60 – Vai faltar papel pro gibi?

#59 - A editora que vai publicar Apesar de Tudo, apesar de tudo

#58 - Os quadrinhos da Brasa e para que serve um editor

#57 - Você vs. a Marvel

#56 - Notícias aos baldes

#55 – Marvel e DC cringeando

#54 – Nunca tivemos tanto quadrinho no Brasil? Tivemos mais.

#53 - Flavio Colin e os quadrinhos como sacerdócio

#52 - O direct market da Hyperion

#51 - Quadrinhos que falam oxe

#50 - Quadrinho não é cultura?

#49 - San Diego é hoje

#48 - Robson Rocha, um condado, risografia e Cão Raivoso

#47 - A revolução dos quadrinhos em 1990

#46 - Um clássico POC

#45 - Eisner não é Oscar

#44 - A fazendinha Guará

#43 - Kentaro Miura, o karôshi e a privacidade

#42 - A maratona de Alison Bechdel, Laerte esgotada, crocodilos

#41 - Os quadrinhos são fazendinhas

#40 - Webtoons, os quadrinhos mais lidos do mundo

#39 - Como escolher o que comprar

#38 - Popeye, brasileiros na França e Soldado Invernal

#37 - Desculpe, vou falar de NFTs

#36 - Que as lojas de quadrinhos não fiquem na saudade

#35 - Por que a Marvel sacudiu o mercado ontem

#34 - Um quadrinista brasileiro e um golpe internacional

#33 - WandaVision foi puro suco de John Byrne

#32 - Biografia de Stan Lee tem publicação garantida no Brasil

#31 - Sem filme, McFarlane aposta no Spawnverso

#30 - HQ dá solução sobrenatural para meninos de rua

#29 - O prêmio de HQ mais importante do mundo

#28 - Brasileiros em 2021 e preguiça na Marvel

#27 - Brasileiros pelo mundo e brasileiros pelo Brasil

#26 - Brasileiros em 2021 e a Marvel no Capitólio

#25 - Mais brasileiros em 2021

#24 - Os brasileiros em 2021

#23 - O melhor de 2020

#22 - Lombadeiros, lombadeiras e o lombadeirismo

#21 - Os quadrinistas e o bolo do filme e das séries

#20 - Seleções do Artists’ Valley

#19 - Mafalda e o feminismo

#18 - O Jabuti de HQ conta a história dos quadrinhos

#17 - A italiana que leva a HQ brasileira ao mundo

#16 - Graphic novel é só um rótulo marketeiro?

#15 - A volta da HQ argentina ao Brasil

#14 - Alan Moore brabo e as biografias de Stan Lee

#13 - Cuidado com o Omnibus

#12 - Crise criativa ou crise no bolo?

#11 - Mix de opiniões sobre o HQ Mix

#10 - Mais um fim para o comic book

#9 - Quadrinhos de quem não desiste nunca

#8 - Como os franceses leem gibi

#7 - Violência policial nas HQs

#6 - Kirby, McFarlane e as biografias que tem pra hoje

#5 - Wander e Moebius: o jeitinho do brasileiro e as sacanagens do francês

#4 - Cheiro de gibi velho e a falsa morte da DC Comics

#3 - Saquinho e álcool gel: como manter as HQs em dia nos tempos do corona

#2 - Café com gostinho brasileiro e a história dos gibis que dá gosto de ler

#1 - Eisner Awards | Mulheres levam maioria dos prêmios na edição 2020

#0 - Warren Ellis cancelado, X-Men descomplicado e a versão definitiva de Stan Lee

 

(c) Érico Assis