O ano de 2025 veio com muita expectativa para o cinema e streaming, e após o fim do primeiro semestre, já podemos dizer que ele vem entregando. Entre grandes filmes nacionais, blockbusters de todos os tipos e sucessos em festivais, há um pouco de tudo.
Confira outras listas:
A lista abaixo contém, em ordem alfabética, os melhores filmes do ano que o Omelete já assistiu. Alguns ainda serão lançados, mas colocamos aqui para que você já anote no calendário. Outros já estão disponíveis, e é só correr pra conferir. Essa lista será atualizada regularmente, então volte sempre!
O Agente Secreto
Onde assistir: Nos cinemas em 6 de novembro.
Em muitos sentidos, espionagem é a arte do apagamento. Uma pessoa apaga seu nome, esconde sua história e ofusca suas intenções e parte para o território desconhecido buscando não deixar rastros. Não é à toa que Kleber Mendonça Filho tenha escolhido este gênero, ou ao menos seus ossos, para pautar seu misterioso, grandioso e triste O Agente Secreto, um exame de como uma borracha é passada por cima de pessoas e lugares no Brasil que existe em inevitável conversa com Ainda Estou Aqui e Retratos Fantasmas, filme anterior do diretor recifense, e conta com uma grande atuação de Wagner Moura. - Guilherme Jacobs (Leia a crítica).
Better Man - A História de Robbie Williams
Onde assistir: Disponível para streaming no Prime Video.
Difícil não sair da projeção de Better Man sem a impressão de que Michael Gracey e Robbie Williams foram feitos um para o outro. O diretor, que vem de uma formação como artista de efeitos especiais e se tornou nome forte em Hollywood após o sucesso de O Rei do Show, divide com o ex-integrante do Take That, que se tornou um dos maiores popstars do planeta (e provavelmente o maior popstar do Reino Unido), uma paixão irremediável pelo espetáculo. O impulso de ambos, como artistas, é mergulhar nos exageros mais cafonas do showbusiness sem lastro de culpa acadêmica, e de alguma forma extrair deles o que há de mais puramente, instintivamente prazeroso como narrativa - e como terapia. Eles estão aqui pelo básico, e chegam no básico pelo caminho mais extravagante possível. - Caio Coletti (Leia a crítica).
Bolero, A Melodia Eterna
Onde assistir: Disponível para compra e aluguel no YouTube e Apple TV.
Em uma cena logo no começo de Bolero: A Melodia Eterna, o maestro Maurice Ravel (Raphaël Personnaz) interrompe o ensaio de uma de suas novas composições para dar uma bronca nos músicos: “Vocês não sabem que a valsa exige precisão extrema? O ritmo precisa ser mantido a todo custo”. Na missão de contar a história de vida do compositor, e da criação da obra-prima que batiza o seu filme, a cineasta francesa Anne Fontaine parece ter levado essa instrução muito a sério. A Melodia Eterna é um filme de rigor inquebrantável. Composto por encenações econômicas e tão preocupado com estender seus silêncios quanto em mostrar a música do seu biografado, a cinebiografia se apoia no estoicismo do protagonista para comunicar emoções mudas, por vezes até irrealizadas. - Caio Coletti (Leia a crítica).
Cloud - Núvem de Vingança
Onde assistir: Em cartaz nos cinemas.
Nenhuma experiência é individual mas algumas são mais coletivas que outras. É o que aprende o jovem Ryosuke Yoshii (Masaki Suda) quando decide abandonar seu emprego numa fábrica em Tóquio para ser empreendedor em tempo integral, revendendo online com valores inflacionados os produtos que ele compra no atacado, de bolsas finas a bonecos colecionáveis. Não é uma atividade segura e exige cautela, mas Cloud - Nuvem de Vingança vai de suspense de paranoia a filme de ação sem que Yoshii se dê conta disso. À primeira vista, o diretor Kiyoshi Kurosawa parece estar se filiando a um tema recorrente do capitalismo tardio, uma trama de perseguição que permite nos vingar dos novos ricos e dos aproveitadores que nos exploram, em chave sádica próxima de filmes como O Menu e séries como The White Lotus. As facilidades do discurso moralizante não parecem interessar ao cineasta, porém, e Cloud se afiança ao ponto de vista de Yoshii para desenvolver uma narrativa mais preocupada com os efeitos da alienação. - Marcelo Hessel (Leia a crítica).
Dreams (Sex Love)
Onde assistir: Em cartaz nos cinemas, e depois no Reserva Imovision.
Meio estudo da perda de inocência, meio filme de amadurecimento, meio documento sobre o poder da arte para nos ajudar a entender os outros (e a nós mesmos), Dreams – parte de uma trilogia que Dag Johan Haugerud compôs com Sex e Love – vê no desejo o combustível para muitas coisas. Ele pode partir nosso coração, atiçar nossa criatividade e nos motivar a cometer loucuras. Apesar disso tudo, porém, talvez nada no longa seja tão especial quanto sua franca análise do que acontece quando o desejo passa. Quem somos, depois de passar por seu crivo? Quem somos quando o sonho acaba? - Guilherme Jacobs (Leia a crítica).
Extermínio: A Evolução
Onde assistir: Em cartaz nos cinemas.
Extermínio: A Evolução não se apoia em metáforas baratas do aqui e agora. Não há representantes de políticos e bilionários do momento atual. O uso de uma infeção trará o covid-19 à mente, assim como a separação do Reino Unido – em quarentena do resto do mundo – fala do Brexit, mas o contraste que Danny Boyle encontra (ou cria) em todos os aspectos do filme fala em alto e bom som do ruído no centro da vida moderna sem precisar literalizar nada. O filme transborda com a sensação de que há perigos mil à nossa volta, e a escolha de um pré-adolescente como protagonista da história – construída de ponta a ponta por Boyle e Alex Garland como um conto sobre a perda da inocência – reforça a triste verdade de que até os mais jovens estão vulneráveis a essas ameaças. - Guilherme Jacobs (Leia a crítica).
It Was Just an Accident
Onde assistir: Em breve na MUBI.
O filme de Jafar Panahi não se trata de uma comédia comum, mas encontra no humor desconfortável que surge das discussões e decisões arriscadas dos personagens – como a dos noivos de fazer tudo isso já vestidos para o casamento – um fio condutor nos ligando diretamente ao coração da narrativa, já que cada riso é acompanhado por um momento de conscientização acontecendo simultaneamente com os protagonistas e o público. São respiros que deixam claro não só o absurdo da situação, como sublinham a disposição de pessoas injustiçadas a cometer absurdos em nome de justiça, ou menos de algo que exorcize seus demônios. E o que exatamente é isso? Esta é a pergunta que anima o drama de It Was Just An Accident. Enquanto uns acreditam em olho por olho, outros consideram agir com misericórdia. Tortura e morte são, afinal, as armas do inimigo. - Guilherme Jacobs (Leia a crítica).
Oeste Outra Vez
Onde assistir: Disponível para streaming no Telecine.
Oeste Outra Vez passa muito tempo observando os ambientes onde vivem, sozinhos, os seus protagonistas. É até curioso notar, inclusive, que o design de produção do longa seja assinado por uma mulher (Carol Tanajura, veterana de filmes como Longe do Paraíso e A Cidade do Futuro). Em cada detalhe das casas de Totó (Ângelo Antônio), Durval (Babu Santana), Jerominho (Rodger Rogério) e Ermitão (Antonio Pitanga) fica evidente uma negligência que transborda em pias lotadas de louças sujas, fogões de porta quebrada, lixo amontoado pelos cantos… enfim, bagunças e desajustes estereotipadamente masculinos, que o filme usa para nos localizar firmemente em sua versão da masculinidade. São homens que nunca aprenderam a cuidar de si, do mundo ao seu redor, e muito menos dos outros. - Caio Coletti (Leia a crítica).
Pecadores
Onde assistir: Disponível para streaming no HBO Max.
Como já é tradição em sua filmografia, Ryan Coogler volta a usar o prisma do entretenimento para contar histórias muito mais profundas do que aparentam ser (e volta a usar Michael B. Jordan). Pecadores é um drama histórico comovente e visceralmente bem pesquisado que apresenta o blues como a música do diabo, tal como o gênero era rotulado na época pela preconceituosa alta-sociedade estadunidense do início do século XX, antes de lutar para reformulá-lo à sua própria maneira, amarrando suas origens à mitologia presente em religiões de matriz africana enraizadas nas crenças dos descendentes de escravos. - André Zuliani (Leia a crítica).
Predador: Assassino dos Assassinos
Onde assistir: Disponível no Disney+
Divertido, empolgante e com uma escala de ação para deixar qualquer fã do gênero na ponta do sofá, Predador: Assassino de Assassinos prova o quão divertido o personagem criado por Jim e John Thomas, na já longínqua década de 1980, ainda pode ser. O que Dan Trachtenberg entende bem - mais do que qualquer um que veio depois do filme original - é que precisamos nos importar também com a parte humana da história. É nela que estão elementos que queremos que sobrevivam ao final e que nos surpreendem quando a força brutal do Predador arranca uma cabeça, um braço, uma perna ou tudo junto de uma só vez. Nisso, A Caçada e Assassino de Assassinos acertam em cheio.
Sentimental Value
Onde assistir: Em breve nos cinemas e na MUBI.
Talvez a última vez que Nora (Renate Reinsve) tenha entrado num papel para se entender, não para se esconder, seja no texto que escreveu ainda na escola, quando foi encarregada de se imaginar como um objeto inanimado e imediatamente personificou a casa onde sua família mora há gerações. Vemos isso na abertura de Sentimental Value, e o maravilhoso filme de Joachim Trier encerra essa sequência mostrando Nora, já mais velha, relendo suas palavras mas desprezando-as, uma conclusão que é narrada enquanto a câmera mostra uma rachadura na parede. Se a garota havia virado a casa, aquela é a cicatriz que persiste em seu interior. Mas a ferida não é exclusiva dela. Conforme Sentimental Value avança, percebemos que seus pais, sua avó e outros antepassados experimentaram depressão, morte e perseguição dentro daquelas salas, uma realidade que se infiltrou na arte da família. Se Nora usa as personagens que interpreta no teatro e televisão para fugir de si mesma, como define sua irmã mais nova Agnes (Inga Ibsdotter Lilleaas), seu pai – o cineasta Gustav Borg (Stellan Skarsgard, no papel de uma vida) – tem usado a experiência pessoal na arte há anos. - Guilherme Jacobs (Leia a crítica).
Sorry, Baby
Onde assistir: Ainda sem previsão para o Brasil.
Sorry, Baby é primariamente sobre a vida de uma mulher. Uma pessoa. Um mundo em si mesma. Agnes (Eva Victor, que também é diretora e rotieirsta do filme) é uma mulher que se sente sozinha depois que a s melhor amiga e muda para Nova York, que se sente estranhamente leve na amizade com benefícios desenvolvida com o vizinho Gavin (Lucas Hedges), que é brilhante como professora, que encontra companheirismo numa gatinha, e que sofreu algo que ninguém deveria sofrer. O roteiro de Victor – um texto que na própria organização em quatro capítulos, sendo cada um para um ano diferente, e apresentação fora de ordem cronológica já busca subverter suas expectativas – não é sobre como Agnes passa a ser uma metáfora ambulante da luta gerada pelo que a traumatizou. A palavra trauma sequer surge. É claro que a noite horrível com Decker (Louis Cancelmi), informa e infecta seu cotidiano, mas Agnes jamais é reduzida a uma série de sintomas. - Guilherme Jacobs (Leia a crítica).
Superman (2025)
As melhores versões do Superman são aquelas que entendem a essência de sua criação. O que o torna interessante não são as dúvidas sobre sua capacidade de vencer um inimigo — é claro que ele consegue – mas o quanto ele deseja não estar sozinho. Superman pode ser um alien mais forte do que uma locomotiva e mais rápido que uma bala, mas ele é mais parecido com eu e você do que um bilionário igualmente brilhante em solucionar crimes e em artes marciais. A diferença entre Clark e nós é que, um dia, ele descobriu que podia derrubar paredes. Superman de James Gunn entende isso, e por mais imperfeito que ele seja, essa compreensão – aliada ao quão aberto é seu abraço dos elementos de fantasia e ficção-científica dos gibis da DC – faz dele o início de uma nova era do cinema de heróis. - Guilherme Jacobs (Leia a crítica)
Train Dreams
Onde assistir: Em 21 de novembro na Netflix.
Não é só a narração de Will Patton, transbordando de sabedoria e calor, que faz Train Dreams parecer um livro. Parece óbvio dizer isso, já que o filme é uma adaptação da obra homônima de Denis Johnson, mas há uma qualidade literária para o trabalho do diretor Clint Bentley. Cada corte é uma página virada. Sua direção parece capturar a passagem das coisas. Do tempo, das estações. Das vidas. Destas, a principal é a de Robert Grainier, interpretado por Joel Edgerton numa atuação que parece comunicar as facetas e emoções do personagem em cada ruga, olhar e gesto. A vida de Grainier acontece num período fascinante. Train Dreams acompanha seus 80 anos, do fim do Século 19 até a era das corridas espaciais, e encontra neles o recorte perfeito para examinar não só a natureza das mudanças, como também as mudanças na natureza, sejam elas orgânicas ou causadas por mãos humanas. - Guilherme Jacobs (Leia a crítica).
The Ugly Stepsister
Onde assistir: Em breve no Brasil.
O filme norueguês, dirigido por Emilie Blichfeldt, por vezes parece a consequência lógica do elogiado A Substância de Coralie Fargeat, muito embora provavelmente tenha sido concebido e filmado antes do longa da francesa ganhar projeção internacional. Eis aqui, afinal, mais um body horror sobre o calvário social pelo qual metemos o corpo feminino, dirigido por uma cineasta europeia, que aposta nas estratégias de choque e em um bom humor meio torto para conquistar e provocar o público ao mesmo tempo. Acontece que The Ugly Stepsister é um pouco mais do que "o novo A Substância", e ainda bem. No pouco menos de 2h de duração da sua releitura de Cinderela pelos olhos de uma das "irmãs feias" da Gata Borralheira, Blichfeldt mostra que tem ideias mais sofisticadas do que Fargeat (uma autora de impulso criativo imparável, mas que opera muito no instinto de quem é fluente na linguagem em que se expressa) sobre a própria natureza da beleza, e como ela captura a mente feminina em um ciclo de autodestruição. - Caio Coletti (Leia a crítica).
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