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Filmes
Crítica

O Agente Secreto | Crítica do novo filme de Wagner Moura

Leia crítica do filme vencedor de dois prêmios no Festival de Cannes

Omelete
5 min de leitura
09.11.2025, às 20H07.

Em muitos sentidos, espionagem é a arte do apagamento. Uma pessoa apaga seu nome, esconde sua história e ofusca suas intenções e parte para o território desconhecido buscando não deixar rastros. Não é à toa que o diretor Kleber Mendonça Filho tenha escolhido este gênero, ou ao menos seus ossos, para pautar seu misterioso, grandioso e triste O Agente Secreto, um exame de como uma borracha é passada por cima de pessoas e lugares no Brasil que existe em inevitável conversa com Ainda Estou Aqui e Retratos Fantasmas, filme anterior do diretor recifense.

É para a cidade de Mendonça Filho que Marcelo (Wagner Moura) está indo na cena de abertura que descreve o Brasil de 1977 como um local de pirraça. É justo dizer que é isso que o espera na capital pernambucana. Por que Marcelo está fugindo e de quem são detalhes melhor guardados, mas também é justo dizer que o regime militar não facilita sua vida, e essa ambientação – trazida à vida com um trabalho de recriação visualmente maravilhoso – dá a O Agente Secreto campo fértil para KMF fazer o que faz de melhor: usar pilares do cinema de gênero para discutir temas relevantes para o Brasil e para o mundo. Assim como faroestes corriam por baixo da pele de Bacurau, filmes de espiões informam as cenas de telefonemas escondidos, identidades falsas e perseguições intensas.

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Não se trata, porém, de um exercício de linguagem simples. O Agente Secreto tem uma clara ideia do que movimenta sua história. Neste Brasil, gerido por chefes de indústrias e policiais corruptos, forças que se beneficiam de seus contatos para fazer com que documentos desapareçam, ou sequer venham a existir. É como se as circunstâncias transformassem tudo e todos em agentes duplos, mas ninguém sabe sua missão e as informações verdadeiras estão sendo sistematicamente trancadas em cofres inacessíveis. O passado da família de Marcelo está incluso nisso, e quando ele começa uma nova vida, ele está tão interessado em descobrir quanto em não ser descoberto. 

Para concluir essa tarefa, Marcelo passeia por ruas e prédios que serão instantaneamente reconhecíveis para recifenses, seja por que permanecem de pé contra todas as expectativas – como a Praça do Sebo e o cinema São Luiz, também o foco de Kleber em Retratos Fantasmas – ou por que serão portais para o que um dia havia lá, mas hoje não existe mais. Essa discussão, porém, é crucial para todo o Brasil, como mostrou Ainda Estou Aqui, e o desaparecimento sem registros tem sido um dos focos do cinema global (só no último Oscar: Sem Chão, O Reformatório Nickel, Sugarcane, entre outros). 

Escrever tão cedo sobre o filme apresenta um desafios, já que a melhor maneira com a qual O Agente Secreto aborda essa ideia vem numa revelação do roteiro que, se eu fosse apostar, ficaria de fora de toda a divulgação e marketing. O texto é organizado de uma maneira que ajuda a contextualizar toda a narrativa se não em fatos históricos, mas na sensação da história. É como se o longa fosse transformado num relatório, e alguém estivesse tentando entender o que aconteceu. Mais do que truques, o roteiro escrito por Kleber Mendonça Filho parece adicionar camadas ao enredo, que brinca com mitos e verdade para sublinhar a ideia de que, ainda que esse filme seja uma ficção, ele fala de questões profundamente reais – algo que é sublinhado por um inesquecível e hilário uso da ideia folclórica da Perna Cabeluda. Os detalhes da cena são uma surpresa melhor guardada, e só são superados em graça pela carismática dona Sebastiana (Tânia Maria, hilária e destinada a ser o fenômeno do filme), a dona do prédio onde Marcelo mora que precisa reter informações, mas adora uma fofoca.

Não é à toa que um dos cenários mais importantes para o filme é o São Luiz. Sempre interessado nos cinemas como locais de registro, onde a arte reflete e preserva a vida cotidiana, além de oferecer um ambiente comunal cada vez mais raro nas cidades, Kleber traz este templo do Recife para o centro da narrativa. Ali, Marcelo encontra um local para respirar, como se estivesse protegido pelo poder dos filmes de manter coisas vivas.

O Agente Secreto é bom?
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Como este personagem, Wagner Moura entrega uma atuação de nuances e tristezas, mas também de um homem em ação. Em seu olhar, há um pesar palpável – o principal aliado para que ele não vire um avatar da audiência, passeando pela cidade e pelos mistérios como um guia, mas permaneça uma pessoa com quem nos importamos, e portanto, que não queremos ver ser apagada. À sua volta, figuras como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Alice Carvalho, Carlos Francisco e outros oferecem temperos de romance, humor e suspense em papéis de adversários e aliados nessa jornada para fugir do esquecimento e da violência.

Independente do sucesso de Marcelo em conquistar essa liberdade, O Agente Secreto conclui com uma dose potente de melancolia. Não é algo derivado de um único acontecimento, mas um reconhecimento geral de que a luta dele é apenas uma, de que pessoas são mortas e construções são demolidas para dar lugar a outras coisas, tipicamente mais rentáveis, e de que o Brasil segue entendendo, ainda, o grau do que foi perdido em sua história. Para Kleber Mendonça Filho, isso não é algo que se resume à ditadura. É um elemento infelizmente inseparável do verde-amarelo, algo que existia antes dos militares e que até hoje nos afeta. Assim, O Agente Secreto é posicionado como uma espécie de épico, escancarando de forma intrigante através da dinâmica espiã de revelar segredos aquilo que foi varrido para baixo do tapete.

[Texto publicado originalmente durante a cobertura do Festival de Cannes 2025 em 19 de maio de 2025]

Nota do Crítico

O Agente Secreto

O Agente Secreto

2025
158 min min
País: Brasil
Direção: Kleber Mendonça Filho
Roteiro: Kleber Mendonça Filho
Elenco: Maria Fernanda Cândido, Alice Carvalho, Gabriel Leone, Wagner Moura
Onde assistir:
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