Daisy Ridley e Adam Driver em Star Wars: A Ascensão Skywalker

Créditos da imagem: Star Wars: A Ascensão Skywalker/Lucasfilm/Reprodução

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Como Star Wars: A Ascensão Skywalker nega Os Últimos Jedi

Diretor J.J. Abrams voltou atrás em relação a decisões tomadas no longa de Rian Johnson, desde o papel de Rose na Resistência até a origem de Rey

21.12.2019, às 10H00.

Nos meses que antecederam a estreia de Star Wars: A Ascensão Skywalker, J.J. Abrams repetiu entrevista após entrevista que Os Últimos Jedi não atrapalhou seus planos para o encerramento da saga. Na realidade, o diretor e roteirista chegou a agradecer seu antecessor Rian Johnson, afirmando que ele o inspirou a ser mais ousado. "Rian me ajudou a lembrar por que fazemos esses filmes - a não fazer apenas algo que já vimos antes", disse a Total Film, em novembro. No entanto, quem já conferiu o Episódio IX nos cinemas percebe uma postura bem diferente nas telas. Abrams, em vez de dar continuidade aos conceitos apresentados no mais polêmico longa da nova trilogia, preferiu voltar atrás em relação à maioria deles, desde a árvore genealógica de Rey até o papel de Rose na Resistência.

De fato, Johnson desagradou parte dos fãs de Star Wars e não foi pouco. Logo de cara, a decisão de colocar Luke Skywalker, o símbolo máximo da esperança na franquia, jogando para trás seu sabre de luz e assumindo uma postura amarga e fria gerou revolta. Em um ato conciliatório com o público e com o próprio Mark Hamill, que declaradamente não gostou do tratamento que o Jedi recebeu na produção, J.J. Abrams o trouxe em A Ascensão Skywalker, novamente como fantasma da Força, para dizer 1) sabres de luz merecem mais respeito 2) ele estava errado em se isolar em Ahch-To e negar o conflito. É difícil, porém, não ler a atitude também como uma alfinetada a Rian Johnson, como se as visões de ambos sobre a jornada dos personagens fossem inconciliáveis, e não uma progressão.

Outro exemplo disso está na explicação da origem de Rey. Embora Os Últimos Jedi se sustente na ideia de que a presença da Força não depende de laços sanguíneos, Abrams preferiu ignorar esse conceito e justificar as habilidades da Jedi estabelecendo um parentesco com Palpatine, o Sith mais poderoso da história. “Seus pais eram ninguém, porque eles escolheram ser”, explica Kylo Ren em determinado ponto do capítulo final da saga, contradizendo o diálogo que ele mesmo teve com Rey no Episódio anterior. Assim, a trajetória da aparentemente comum jovem de Jakku, a nova esperança dessa geração de rebeldes, passa a ser mais calcada no fato de que sempre foi a herdeira do Império Sith do que propriamente na suas habilidades. A inexplicável presença da Força fica restrita, então, ao Finn, que tem “instintos” aguçados aqui e ali durante os preparativos para a batalha contra a Ordem Final.

Até mesmo Rose, a simples mecânica que se descobriu uma heroína da Resistência, sofreu as consequências desse cabo de guerra. A personagem acabou reduzida de protagonista a um acessório narrativo - uma decisão que, intencional ou não, parece a Lucasfilm, se não validando, abaixando a cabeça para os ataques racistas sofridos pela atriz Kelly Marie Tran na época do Episódio VIII.

É verdade que J.J. Abrams não anulou absolutamente tudo que Johnson criou. Os adoráveis porgs voltaram por um breve momento e as conexões entre Rey e Kylo Ren se mantiveram. Mas é perceptível a intenção do diretor de dar continuidade a O Despertar da Força, e não a Os Últimos Jedi. Por isso, não é de se surpreender que a trilogia termine com um quê de desconjuntada. Enquanto os fãs discutem quem é o vilão, se Abrams ou Johnson - que efetivamente fez um Episódio divisivo -, a responsabilidade desse resultado está mesmo nas mãos da Lucasfilm. Nas idas e vindas de diretores - Colin Trevorrow incluso -, o estúdio foi incapaz de garantir uma linearidade ao arco dos seus protagonistas, uma perda para a franquia e para os fãs.

Em meio a discussões acaloradas, Star Wars: A Ascensão Skywalker continua em cartaz nos cinemas.

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