Train Dreams, O Beijo da Mulher Aranha, Twinless e Rebuilding (Reprodução/Omelete)

Créditos da imagem: Train Dreams, O Beijo da Mulher Aranha, Twinless e Rebuilding (Reprodução/Omelete)

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Os 10 melhores filmes que vimos no Festival de Sundance 2025

Lista do Omelete tem terror, drama, musical, documentário e muito mais

Omelete
7 min de leitura
03.02.2025, às 15H01.

A seleção do Festival de Sundance 2025 traiu um evento - e um cinema independente estadunidense - em pleno processo de reinvenção. Se um dia o festival sediado em Park City (EUA) foi a primeira casa das inovações estilísticas da sétima arte dos EUA (Quentin Tarantino, Steven Soderbergh e mais vieram de lá), depois se tornou a principal trincheira de uma guerra por reconhecimento desse cinema independente no Oscar (vide Pequena Miss Sunshine e No Ritmo do Coração), e ainda depois ganhou aura de plataforma de lançamento para o novo horror estadunidense (Corra!, Hereditário, Fale Comigo)... agora ele parece estar em uma bifurcação de todas essas coisas, e estacionado em nenhuma.

Com “estúdios independentes” (que conceito!) pipocando por todo lado na seleção, que este ano incluiu produções da A24, Bleecker Street, Shudder e Hulu, Sundance luta para se inventar (muito mais do que reinventar) como festival de credibilidade na era da economia da atenção, do mesmo jeito que o cinema indie dos EUA luta para sobreviver em um ambiente cada vez mais corporativo. Como dizer coisas ousadas sem alienar o interesse do público, ou das instituições para as quais você deseja vender a sua história? A pergunta eterna do artista (“como posso ser ouvido?”) nunca foi mais complexa de se responder.

Os filmes que entraram no nosso top 10 do Festival de Sundance 2025 se localizam, todos, em algum lugar desse contínuo - mas, para muito além das preocupações mercadológicas, eles mostram que o bom cinema encontra um jeito de prosperar, de criar e de surpreender, mesmo nas condições mais inóspitas a ele. Talvez seja mais importante celebrá-lo agora do que nunca.

10. Rabbit Trap

Dev Patel em cena de Rabbit Trap (Reprodução)
Dev Patel em cena de Rabbit Trap (Reprodução)

Estreante em longas, [o diretor BrynChainey desenha esse arco de revelação com a obliquidade de um autor que sabe estar ganhando notoriedade na era do “horror elevado”. Porque sim, Rabbit Trap é um daqueles filmes de terror “sobre trauma”, e os momentos em que ele se esquiva dos confrontos diretos com o gênero em que se encontra, fazendo curvas e curvas de trama, picotando continuidades só para não “perder a seriedade”, são os seus mais frustrantes. Mas… essa é também a obra de um cineasta claramente conectado com as imagens que procura, e com o que elas dizem sobre a humanidade de seus personagens - e, no fim das contas, essa conexão fala mais alto do que os truques estilísticos cansados que ele emprega. - Caio Coletti

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9. O Beijo da Mulher Aranha

Jennifer Lopez em cena de O Beijo da Mulher Aranha (Reprodução)
Jennifer Lopez em cena de O Beijo da Mulher Aranha (Reprodução)

A vida é boa, e sua bondade está no amor, comenta Molina em certo momento de O Beijo da Mulher Aranha. O amor que nasce entre os dois na cela da prisão, nos diz o filme, é o mesmo amor que dita a necessidade da revolução, a sede por liberdade - liberdade que queremos usar para quê, mesmo? Ora, para amar mais e melhor. É nessas e noutras que Hollywood e seus romances de “felizes para sempre” podem ser úteis, e podem se provar mais genuínos do que imaginamos: seja no sacrifício ou no triunfo, eles garantem que continuemos a acreditar em um amor, no mínimo, possível. E isso já é motivo o bastante para continuar lutando por ele. - Caio Coletti

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8. 2000 Meters to Andriivka

Cena de 2000 Meters to Andriivka (Reprodução)
Cena de 2000 Meters to Andriivka (Reprodução)

Conforme 2000 Meters to Andriivka se aproxima da cidade titular, onde o líder do batalhão deve erguer uma bandeira da Ucrânia, Chernov intensifica o outro lado do filme. Entrevistas com soldados revelam suas vidas roubadas e tipicamente terminam com o diretor anunciando que, cinco meses depois daquela interação, o entrevistado morreria em outra batalha. Corpos se amontoam. Funerais são realizados. Na sequência mais intensa do filme, um soldado russo é capturado e questionado: “por que vocês vieram pra cá?”. Desesperado, ele admite: “eu não sei.” - Guilherme Jacobs

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7. Last Days

Sky Yang em cena de Last Days (Reprodução)
Sky Yang em cena de Last Days (Reprodução)

Last Days, assim, acaba se estruturando como uma fábula, uma tragédia, e um aviso sobre os perigos da aventura. A vida, parecem dizer Lin e Ripley, não é uma história empolgante - e ficar tentando transformá-la em uma pode facilmente escorregar para uma posição que desconsidera a vontade dos outros. Quando você quer tanto ser o protagonista de um livro épico, todo mundo acaba virando coadjuvante… e descartável, por mais que você jure o contrário. A audácia formal de basear o seu filme nessa dicotomia entre linguagens dramáticas pode passar despercebida de muita gente, mas seria obtuso também dizer que Last Days, por tentar entender a sedução pessoal dos ideais que levaram Chau à seu destino, e tratar esse destino como tragédia (não pela forma como acabou, mas pelos eventos que o levaram até esse fim), subscreve a esses mesmos ideais ou os glorifica. - Caio Coletti

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6. Predators

Cena de Predators (Reprodução)
Cena de Predators (Reprodução)

Um tremendo trabalho de montagem com imagens de arquivo, bastidores e entrevistas, Predators consegue encontrar respostas para a primeira interrogação, mas é o vácuo deixado pela segunda que realmente potencializa o filme de Osit. Se, após tantos episódios e imitadores, To Catch a Predator não levou a nenhum aprendizado que pudesse impedir o abuso infantil, ou que ao menos ajudasse a reabilitar aqueles que cometiam esses atos, para que serviu o programa? Entre análises psicológicas e testemunhos de ex-atores e policiais, Predators sugere que a humilhação pública era o alvo. O espetáculo, não a justiça, interessava. - Guilherme Jacobs

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5. Sly Lives! (aka The Burden of Black Genius)

Cena de Sly Lives! (Reprodução)
Cena de Sly Lives! (Reprodução)

Sly Lives! não conta com novas entrevistas do seu biografado, até por saber que o melhor jeito para ele dar sua última palavra sobre si mesmo é simplesmente sobrevivendo. E, como diz o título, ele vive: na música, que o filme retrata com tanto carinho e conhecimento de causa (não há momentos mais excitantes em Sly Lives! do que aqueles em que músicos descrevem em minúcias as faixas mais emblemáticas da banda de Stone); no contínuo de uma história política e artística do qual ele sempre vai ser parte gigantesca; e, olha só, também na vida real. Que Questlove tenha cavado fundo o bastante para encontrar uma versão definitiva dessa história em curso prova mais uma vez que o seu talento para a narrativa abraça também o cinema. - Caio Coletti

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4. Twinless

Dylan O'Brien e James Sweeney em cena de Twinless (Reprodução)
Dylan O'Brien e James Sweeney em cena de Twinless (Reprodução)

A matéria da qual Sweeney tira a sua história curiosa é a humanidade, em suas decisões de base mais irracional, seus instintos mais descontrolados, seus erros mais fatais. Em Dennis e Roman - e nas pessoas que os cercam -, o roteirista parte de alguns arquétipos, por vezes até maldosos e datados, para desenhar seres humanos que são críveis justamente nas falhas que Twinless exagera para efeito cômico (e, inclusive, com muita eficiência). No fundo, é claro, essa é uma dramédia de luto e reabilitação, mas não é uma que se debulha em soluções fáceis, que foge da raiva e das consequências dela, ou que deixa de mostrar o lado patético desse pesar. - Caio Coletti

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3. Train Dreams

Felicity Jones e Joel Edgerton em cena de Train Dreams (Reprodução)
Felicity Jones e Joel Edgerton em cena de Train Dreams (Reprodução)

Sem cair no sentimentalismo, Train Dreams entende seus personagens como parte de um ecossistema, de uma fauna e flora que refletem, desafiam, destroem e criam tanto quanto nós. Enxergar tudo isso através dos olhos do filme, e de Robert, é especial. Edgerton, um ator cujo exterior duro e áspero sempre foi contrastado pela sua capacidade de expressar carinho e vulnerabilidade, tem nesse papel o espaço ideal para exercer suas melhores qualidades como ator. Em suas mãos, e especialmente graças a seu rosto, Grainier é tanto guia quanto espelho. Enquanto ele preenche a lente poética e efêmera do diretor de fotografia Adolpho Veloso, observamos como o tempo e as condições mudam o homem e o mundo, e somos enfim levados a contemplar nosso lugar nisso tudo. - Guilherme Jacobs

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2. Rebuilding

Josh O'Connor e Lily LaTorre em cena de Rebuilding (Reprodução)
Josh O'Connor e Lily LaTorre em cena de Rebuilding (Reprodução)

Com a ajuda do diretor de fotografia mexicano Alfonso Herrera Salcedo, Walker-Silverman passa boa parte da 1h35 de Rebuilding encontrando e sublinhando todas essas relíquias. O longa está salpicado de planos-detalhe - plantas no canto da sala, sapos de cerâmica no jardim, potes de plástico cuidadosamente empilhados na pia, fotos antigas coladas na porta do armário, e por aí vai -, e é através deles que vai construindo, convincentemente, essa ideia de um universo que é impossível de abandonar. E que interessante que, diante de tantas histórias de imigração e amadurecimento que glorificam a ideia de “ir embora e encontrar o seu lugar no mundo”, Rebuilding faz elegia aos lugares em que já nos encontramos, e acha o seu conflito na ideia de ser obrigado a ir embora deles. - Caio Coletti

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1. The Ugly Stepsister

Cena de The Ugly Stepsister (Reprodução)
Cena de The Ugly Stepsister (Reprodução)

The Ugly Stepsister é um pouco mais do que "o novo A Substância", e ainda bem. No pouco menos de 2h de duração da sua releitura de Cinderela pelos olhos de uma das "irmãs feias" da Gata Borralheira, Blichfeldt mostra que tem ideias mais sofisticadas do que Fargeat (uma autora de impulso criativo imparável, mas que opera muito no instinto de quem é fluente na linguagem em que se expressa) sobre a própria natureza da beleza, e como ela captura a mente feminina em um ciclo de autodestruição. E ela tem seu próprio estilo, também, uma deturpação curiosa da linguagem visual dos contos de fada e sua feminilidade de bibelô - para a diretora, a distância desse luxo para a decadência, e dele para a nojeira, é muito menor do que pode parecer. - Caio Coletti

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