Antes da estreia de Os Eternos, Chloé Zhao pode levar um Oscar por Nomadland

Créditos da imagem: Searchlight Pictures/Divulgação

Filmes

Artigo

Antes da estreia de Os Eternos, Chloé Zhao pode levar um Oscar por Nomadland

Conheça a cineasta chinesa favorita para ganhar ao menos uma estatueta neste ano

Omelete
7 min de leitura
15.04.2021, às 16H00.
Atualizada em 25.04.2021, ÀS 22H08

[Artigo publicado originalmente em 15 de abril, antes de Chloé Zhao vencer a categoria de Melhor Direção no Oscar 2021]

Às vezes parece que basta um diretor se destacar no cenário independente para atrair a atenção dos grandes estúdios e ser contratado para comandar um blockbuster. Foi assim que Barry Jenkins, roteirista e diretor dos longas Moonlight e Se a Rua Beale Falasse, ambos vencedores de prêmios no Oscar, pavimentou seu caminho até ser chamado para encabeçar a sequência do "live-action" de O Rei Leão. Situação semelhante aconteceu com Taika Waititi, indicado ao prêmio da Academia pela primeira vez em 2005, com o curta-metragem Two Cars, One Night, e que se destacou nos anos seguintes com os independentes O que Fazemos nas Sombras e A Incrível Aventura de Rick Baker. Depois de estar a frente de Thor: Ragnarok e um episódio de The Mandalorian, ele filma agora Thor: Love and Thunder para o Marvel Studios. Mesmo a novata Emerald Fennell, indicada a melhor roteiro original e direção no Oscar 2021 com seu longa de estreia, Bela Vingança, já tem um filme baseado em quadrinhos para chamar de seu: a aventura solo da Zatanna.

Contudo, este não foi exatamente o caso de Chloé Zhao, a diretora de Os Eternos. Diferentemente do que se costuma imaginar, ela não foi encurralada, nem sequestrada pelo presidente do estúdio Kevin Feige até aceitar o projeto, como chegou a sugerir Jenkins, em tom de piada, em bate-papo com a cineasta na Variety. Pelo contrário, foi ela quem contou para todo mundo que queria fazer um filme do MCU e esperou o projeto ideal cair no seu colo. "Construir universos é uma das minhas paixões. É por isso que amo Star Wars. Existe um mundo tão rico que eu queria entrar nele e ver o que eu seria capaz de fazer", explicou.

Bom, deu certo! Depois de ser considerada para Viúva Negra, Zhao foi escolhida para comandar Os Eternos, o novo épico da Casa das Ideias que chega aos cinemas em 29 de outubro. No entanto, em 2021, o longa estrelado por Salma Hayek e Angelina Jolie é apenas um item na lista de conquistas de Zhao. Vencedora do prêmio de melhor direção em longa-metragem pelo DGA, o prêmio do Sindicato de Diretores, a cineasta chinesa chega à cerimônia do Oscar como a grande favorita para levar uma estatueta dourada. Não por Os Eternos, é claro. Mas pelo reflexivo Nomadland.

Estrelado por Frances McDormand, o longa narra a história de uma viúva que, como muitas famílias no interior dos Estados Unidos, perdeu seu ganha-pão e sua comunidade com a recessão de 2008. Independente - ou teimosa, segundo a irmã da personagem -, Fern decide levar uma vida itinerante depois da morte do marido e conhece pela estrada outros tantos viajantes que também moram em suas vans.

Como em seus filmes anteriores, Songs My Brothers Taught Me e Domando o Destino (The Rider, no original), o último trabalho de Zhao foi rotulado por parte da crítica como um docudrama. Embora nenhuma das três produções se propunha a retratar fatos ou personagens com um compromisso investigativo, a diretora tem essa fama por escalar pessoas sem experiência em atuação para viver versões ficcionais das suas próprias vidas. Segundo a própria cineasta, ela não é "o tipo de roteirista-diretora que consegue criar personagens assim em uma sala escura". Desta forma, trabalhar com atores “não-profissionais” deixa mais espaço para ela construir um universo ao seu redor, processo pelo qual ela é tão apaixonada.

Em Songs My Brothers Taught Me, por exemplo, a diretora escrevia pela manhã as cenas que gravariam naquele dia, sempre pedindo permissão para incluir eventos e situações da vida real dos atores. Foi assim que o incêndio da casa de Jashaun St. John foi incluído no filme. Os detalhes são todos criações de Zhao, mas o sentimento na tela é 100% genuíno.

Apesar de Nomadland ter como protagonista uma vencedora do Oscar, ele também é povoado por pessoas que de fato vivem como nômades, como duas das amigas de Fern, Swankie e Linda May, e o representante do movimento no Youtube, Bob Wells. Aliás, vale notar que a Searchlight Pictures, distribuidora do filme, chegou a fazer campanha para que os três fossem também indicados ao Oscar.

Derek Endres durante as filmagens de Nomadland

Searchlight Pictures/Divulgação

No entanto, talvez o personagem de Derek Endres seja o exemplo mais interessante do trabalho mais recente da diretora com atores não-profissionais. O jovem com quem Fern cruza em dois momentos distintos no filme entrou no roteiro depois de Chloé Zhao encontrá-lo na estrada. Originalmente, a diretora queria retratar uma jovem grávida, já que a protagonista de Nomadland nunca teve um filho. Mas a conversa com Derek foi tão rica que ela decidiu recalcular a rota.

"Ele é assim na vida real, como se tivesse vindo de uma outra era", contou a diretora a Barry Jenkins na Variety. "No momento que o conhecemos, [ficou claro que] se alguém iria representar esse espírito jovem e inquieto em busca de identidade seria o Derek. Ele começou a me contar várias coisas, muitas das quais você viu na tela, e nós escolhemos as partes que ele diria. No final, ele acabou no departamento de arte e ficou com a gente por um mês."

Era de se esperar que estando a frente de um blockbuster do Marvel Studios, em que cada detalhe faz diferença no intrincado calendário de lançamentos, a cineasta precisaria abandonar essa abordagem. No entanto, segundo o ator Kumail Nanjiani, esse não foi o caso. Ao encontrar com Zhao para discutir seu personagem em Os Eternos, Kingo, o comediante ouviu: "ele é você. Te escolhi porque queria que ele fosse você". "Foi assim que ela escolheu todo o elenco. Ela queria que todo mundo colocasse fragmentos deles nos personagens", afirmou Nanjiani à Vulture.

Coisa do destino

A diretora Chloé Zhao e a atriz Frances McDormand durante intervalo das filmagens de Nomadland

Searchlight Pictures/Divulgação

Como a Zhao mesmo frisa em diferentes entrevistas, tudo em Nomadland foi uma construção coletiva - até mesmo seu envolvimento com o projeto. Porque enquanto a cineasta chinesa planejava falar sobre a comunidade nômade dos EUA na perspectiva dos jovens, Frances McDormand adquiria os direitos de adaptação do livro de Jessica Bruder, Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century, que tratava do mesmo tema, mas a partir do olhar de pessoas idosas. Quando McDormand, que começava a dar seus primeiros passos como produtora, procurou a diretora para falar sobre a obra, Zhao sentiu que as peças do seu quebra-cabeça finalmente encaixavam. "Pareceu destino. Não senti que estava pulando para outro projeto, mas para uma versão mais aprofundada do que eu queria fazer", definiu à Vulture.

É curioso que o caminho das duas se cruzou por uma “contravenção” da premiada atriz. Mesmo com a agenda lotada de compromissos com a imprensa para promover Três Anúncios para um Crime no Festival de Toronto, McDormand decidiu dar uma escapada e seguir o conselho de um amigo, isto é, assistir Domando o Destino, o segundo longa da carreira de Zhao. Nos primeiros minutos, ela se sentiu tão imersa na história do jovem protagonista Brady Blackburn que quis se encontrar com a diretora chinesa para ver se poderia repetir esse efeito com Nomadland. A aclamação do público e da crítica, assim como a indicação ao Oscar, comprova como o plano foi bem-sucedido - e tudo indica que a cerimônia no dia 25 de abril fará coro à coleção de prêmios que Zhao e McDormand ganharam no último ano.

De largada, a cineasta chinesa se destaca por uma triste estatística da Academia: antes da sua indicação ao lado de Emerald Fennell, apenas outras cinco mulheres concorreram à melhor direção em 93 anos de prêmio - entre as quais, somente uma venceu: Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror. Além disso, ela é a primeira mulher não-branca e a primeira chinesa a disputar na categoria. Quer dizer, com ou sem estatueta, ela já fez história.

Não bastasse a indicação à direção, Zhao ainda aparece na lista deste ano concorrendo aos prêmios de Melhor Edição, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme, já que ela é também uma das produtoras de Nomadland. E, diga-se de passagem, com grandes chances de sair vencedora também nelas.

A diretora é certamente um dos novos nomes de Hollywood a ser acompanhado com atenção, independentemente da decisão da Academia. E se Nomadland for um presságio do que se pode esperar de Os Eternos, o novo lançamento da Casa das Ideias está em excelentes mãos.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.