Como Brie Larson foi do Oscar para a Marvel

Créditos da imagem: Marvel Studios/Reprodução

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Como Brie Larson foi do Oscar para a Marvel

Durante nossa visita ao set de Capitã Marvel, a atriz falou das suas dúvidas e por que decidiu entrar para o MCU

01.10.2019, às 11H53.

A carreira de Brie Larson começou cedo. Seus primeiros papéis vieram quando tinha 9 anos. Aos 11, aprendeu a tocar guitarra e escrever as próprias músicas, que ela publicava no seu site. Aos 12 anos, estrelou ao lado de Kat Dennings (a Darcy do núcleo do Thor no MCU) a comédia Raising Dad, que foi cancelada após uma temporada. Em 2003, depois de não conseguir o papel de Wendy na nova versão de Peter Pan para os cinemas, Larson escreveu a canção "Invisible Girl", que acabou lhe rendendo um contrato com Tommy Mottola na Casablanca Records (que também tinha Lindsay Lohan no seu catálogo de artistas). O álbum Finally Out of P.E., de 2005, chegou a receber certa atenção na MTV e na Billboard, mas vendeu apenas 3.500 cópias - saiba mais.

Deixando a carreira musical de lado, Larson lutava para se manter como atriz, tendo perdido papéis em filmes como Juno, e trabalhava como DJ para se sustentar enquanto também mantinha uma revista de arte e literatura. Em 2009, foi escalada como Kate Gregson, a filha da personagem de múltiplas personalidades de Toni Collette em United States of Tara, permanecendo na série até o seu cancelamento, em 2011. Enquanto isso, participou de Scott Pilgrim Contra o Mundo como Envy Adams. Apesar de ser um fracasso comercial, o filme de Edgar Wright foi um dos pontos de virada da sua carreira, que passou a se dividir entre dramas independentes, como Um Tira Acima da Lei (2011) e O Problema de Morris Bliss (2011), filmes de maior alcance como  Anjos da Lei (2012), participações na TV e uma carreira paralela como corroteirista e codiretora de curtas-metragem. Seu primeiro papel como protagonista veio com Temporário 12 (2013), que lhe rendeu uma indicação como Melhor Atriz no Independent Spirit Awards. Dois anos depois, em 2015, chegava a hora da sua consagração definitiva. Depois de papéis menores em Quem Procura Acha e Descompensada, Brie Larson protagonizou O Quarto de Jack.

O papel da jovem raptada que se torna mãe em cativeiro lhe rendeu todos as principais honrarias da temporada de premiações de 2016, incluindo o Oscar de Melhor Atriz. Meses depois, enquanto divulgava Kong - Ilha da Caveira na San Diego Comic-Con, Brie Larson foi oficializada como a Capitã Marvel do Universo Cinematográfico da Marvel. Porém, aceitar ser a primeira heroína protagonista do MCU não foi nenhum pouco fácil, como contou a atriz durante a passagem do Omelete pelo set do filme: “Demorei um bom tempo para decidir e sou muito grata a Marvel por ter sido muito paciente enquanto precisei de um bom tempo para fazer essa escolha, pois optar por fazer um filme como esse não muda apenas a minha vida. Também muda a vida da minha família, do meu parceiro, dos meus amigos. Então é preciso considerar tudo com cuidado, especialmente porque sou introvertida. A ideia de me colocar, de escolher me colocar em uma posição em que posso ser mais observada me parece totalmente bizarra (...) Parece que vai contra a minha natureza. Precisei de um tempo para pesar minhas opções sobre o que eu poderia trazer para isso criativamente e o que significava em um contexto amplo. E dei a mim mesma um pouco mais de crédito, que sou mais esperta do que percebo e posso encontrar um caminho dentro disso. E não sou só eu descobrindo esse caminho, vou precisar da ajuda do público enquanto busco por equilíbrio, porque quero contar histórias sobre pessoas. E quero continuar a ser uma pessoa. Não quero sentir essa separação que estou em uma bolha que é completamente diferente de todos”.

O processo se tornou ainda mais difícil por conta dos segredos envolvidos em uma produção como a do Marvel Studios - “Precisei falar e pensar sozinha. Não podia falar com amigos ou família sobre isso por conta desse segredo. Mas [tomei a decisão] pelo o que o filme ia ser, qual era a história, o que a personagem era”. Pesou também, explicou Larson, o alcance da plataforma que teria: “Tive a experiência depois que fiz um pequeno filme indie chamado Temporário 12 que acabou sendo reconhecido internacionalmente. Levei esse filme para tantos festivais e vi o impacto que causou, pois fiz tantas sessões abertas para o público e coisas assim. Vi como afetava as pessoas. E uma vez que entendi o que esse tipo de trabalho pode significar, a ideia de fazer isso em uma escala maior - já que filmes indies são para um público muito específico, pessoas que estão buscando, procurando [fora do circuito]. Mas filmes como [Capitã Marvel] vão a todos os lugares. Não é preciso trabalhar tão duro para que a mensagem chegue lá. Estará lá. (...) Então se posso continuar com o sistema de valores que me tornam quem eu sou e colocar nisso para criar, senti que tudo estava se alinhando para [aceitar o papel] e eu estava negando a mim mesma o cumprimento de um destino, de certo modo. Precisei ver além, o que não quer dizer que não é confuso e dolorido às vezes, que me assusta, mas também acredito que encontrarei uma forma se seguir adiante pois estou comprometida o suficiente comigo mesma e em ser uma artista que não deixa nada ficar no seu caminho”.

Amo mitologia e essa é a nossa mitologia contemporânea. Sinto como se a  Marvel fosse uma companhia de teatro internacional. É como fazer parte da companhia de teatro mais cara do mundo. Estamos criando performances em grande escala. É um espetáculo, mas também baseado nos personagens, nas emoções. E eles não pegam atalhos quando se trata de performance. No fim do dia se trata das relações interpessoais que temos com os personagens. Para mim esse foi parte do apelo e parte do porquê não hesitei sobre [o roteiro e a personagem] nesse sentido”. Seu medo, continuou a atriz, era das coisas que acompanham um filme com tanta exposição: “Se não houvesse tanto interesse na minha profissão não precisaria pensar tanto a respeito. Eu brincaria um pouco mais. Mas meu trabalho é um pouco estranho. O quanto mais eu me exponho, o quanto mais falo, menos sou conhecida. Eu me torno mais uma mercadoria, mais uma ideia do que a verdade o quanto mais falo”.  

Entre os anseios de aceitar um papel que dominará os próximos anos da sua vida, Larson disse que tentou não esquecer do lado lúdico de ser uma heroína: “Antes de começarmos a filmar fiz uma promessa para mim mesma de que não me deixaria ficar imune a isso, tratar como mais um dia de trabalho. Isso é tão louco. O estranho é que é tão secreto que não posso compartilhar nada. E é isso que torna ainda mais mágico, como se pisasse em um portal todos os dias e depois saísse, porque ninguém sabe o que estou fazendo. Meus amigos sabem que estou muito cansada. Algumas vezes eu só dizia ‘Meu deus, cara, você não tem ideia de em quantos aliens em bati hoje’. É o máximo que podia dizer”.

Durante todo a conversa no set, Brie Larson pareceu ainda incerta sobre as expectativas em torno do papel que estava assumindo, preferindo evitar cobranças sobre ser a primeira heroína da Marvel a ter o próprio filme. “Tento não falar sobre expectativa  ou esperança em relação ao meu trabalho porque abre um caminho que não é necessariamente o motivo de ter me tornado uma artista. Estou aqui para surpreender as pessoas e trazer mais mistério e surpresa. Então a ideia de ter uma ideia sobre o que você deveria sentir ou pensar ou entender sobre isso parece contraintuitiva para mim”. Conforme a estreia do filme se aproximava, porém, a atriz foi se abrindo, tanto para o lado positivo do longa - o impacto da representatividade - como para o negativo - “trolls” pregando o boicote do longa e homens brancos indignados porque a atriz pediu mais diversidade entre os jornalistas durante a turnê de divulgação. “Ninguém está perdendo o lugar, estamos adicionando mais lugares”, precisou explicar.

Do Oscar para a Marvel, o que se vê na trajetória de Brie Larson em Hollywood é algo raro. Uma carreira que começou muito cedo e desabrocha até hoje a olhos vistos porque ela não esconde o seu processo de aprendizado, com todas as suas incertezas. Acusada por muitos de “não ter carisma”, o que Larson tem é uma verdade humana que muitos preferem que seja escondida por um sorriso, uma simpatia cobrada não só de astros de blockbusters mas das mulheres no geral. Com o sucesso de Capitã Marvel, vai ser interessante acompanhar os seus próximos passos, principalmente porque ela deve manter os pés no chão: “Não sinto que sou a Capitã Marvel, ainda sou eu. É apenas um personagem que interpreto. Sinto que é algo que precisarei lembrar as pessoas pelo resto da minha vida. Não posso mover planetas, mal me lembro de almoçar. Entende?”.

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