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Quem é Jean Smart, atriz duplamente indicada que levou o Emmy 2021

Com um par de indicações ao Emmy e sucessos na HBO, chegou a hora do público conhecer um pouco mais da atriz veterana

Omelete
7 min de leitura
20.09.2021, às 08H05.

Durante o período em que Mare of Easttown e Hacks estiveram em exibição, quase simultaneamente, pela HBO e HBO Max, dois termos começaram a pipocar no Twitter — mas ambos com o mesmo intuito, o de referir-se ao renascimento de uma estrela: Jean Smart. Alguns utilizaram “Jeanaissance”, enquanto outros “Smartaissance”. Seja lá qual foi o mais usado, o que parece é que 2021 está talhado a ser o ano em que a musa em questão foi descoberta — mais uma vez. 

A atriz não vem a ser uma novata na indústria, como seus créditos na Broadway e na televisão desde 1981 comprovam. Tampouco é alguém nunca celebrada anteriormente, como demonstram suas três estatuetas do Emmy na estante, além de outras 9 indicações na premiação televisiva, e outra ao Tony - o Oscar do teatro norte-americano. Mas por que, novamente, o termo “descoberta” está sendo associado à atriz com uma carreira premiada e com mais de 40 anos em atividade? (A outra vez que isso aconteceu também foi recentemente, logo quando Smart interpretou a matriarca de uma família envolvida com crimes na segunda temporada da antologia Fargo, da rede FX).

Nascida em Seattle, em 13 de setembro de 1951, Smart disse que sentiu ter nascido pronta para atuar. Na faculdade, se especializou em artes dramáticas e não perdeu tempo. Após a graduação, mudou-se para Nova York, e logo conquistou espaço na Broadway. Sua primeira chance ao estrelado foi interpretando a poderosa diva Marlene Dietrich, na peça biográfica Piaf, produção sobre a cantora francesa (cuja adaptação cinematográfica rendeu um Oscar de melhor atriz à Marion Cotillard). Mas seu nome só ganhou evidência em 1986, ao estrelar a comédia televisiva Designing Women, na qual interpretou Charlene Frazier até o ano 1991. 

Paramount/Divulgação
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Com o término da produção, Smart ficou dividida entre algumas produções no teatro nova-iorquino e papéis na televisão, como na fracassada adaptação da sitcom britânica Absolutely Fabulous, High Society, ao lado de Mary McDonnell (Battlestar Galactica), além de uma série de papéis menores em filmes independentes. Apesar da “baixa” no seu perfil, a atriz não ficou um ano da década sem trabalho. Logo no início dos anos 2000, Smart teve uma chance de renovar sua imagem ao aceitar o papel de Lana Gardner em Frasier, série estrelada por Kelsey Grammer. Muito bem recebida pela participação, Smart conquistou sua primeira indicação ao Emmy, que se converteu em uma vitória surpreendente (e depois em segunda vitória, após a produção da série pedir que ela reprisasse o papel em outra temporada).

Agora, com o perfil turbinado, Smart foi capaz de conquistar o seu primeiro papel principal na Broadway no revival da peça The Man Who Came To Dinner, que lhe rendeu sua primeira indicação ao Tony. Em seguida, uma série de personagens em filmes "maiores" popularizam ainda mais o seu currículo, como Doce Lar (2002), A Casa Caiu (2003), Hora de Voltar (2004) e Huckabees - A Vida É uma Comédia (2004). Para fechar com chave de ouro essa fase de sucesso, Smart ainda foi escalada como primeira-dama dos Estados Unidos, Martha Logan, na aclamada sexta temporada de 24 horas, série da Fox, estrelada por Kiefer Sutherland, que lhe rendeu uma nova indicação ao Emmy. Quando sua participação na série de ação acabou, uma nova estatueta dourada logo veio à sua estante. Desta vez, por uma nova produção, a comédia da rede ABCSamantha Who?, na qual Smart interpretou a desbocada e atrevida Regina Newly, mãe da personagem titular da série, vivida por Christina Applegate (Disque Amiga para Matar).

Mesmo com uma década recheada de sucessos, o que veio em seguida parecia muito óbvio: logo, a atriz se viu sem muitas opções. Embora tenha continuado trabalhando, os papéis não tinham o prestígio que seus trabalhos dos anos 2000. Ela não estava mais sendo escalada em grandes produções, ou séries badaladas. Pela idade e falta de um trabalho-assinatura (o tipo de papel que faz um ator ser reconhecido por anos a fio como, por exemplo, uma Courteney Cox, que terá para sempre a Monica Geller na manga), Smart teve que se contentar com uma série de telefilmes para redes menores, pontas em séries que foram canceladas em menos de uma temporada e filmes lançados direto para DVD. 

20th Century Television/Divulgação
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O que parecia ser o começo do fim de uma carreira respeitável na televisão mudou com a ligação de Noah Hawley, no início de 2015, convidando-a para fazer parte da nova temporada de Fargo, série de antologia sensação do ano anterior, transmitida pela rede FX. Interpretando a mãe de uma família envolvida com crimes, a atriz contou ao ET que aceitou o papel em um piscar de olhos. “Poucos atores conseguem mostrar do que são capazes, em qualquer momento, em suas carreiras. Então, quando você consegue algo como um papel como eu fiz em Fargo, você quer”. Eleita por inúmeras publicações como uma das melhores performances daquele ano, Smart foi bastante acolhida pela internet, que foi quando o termo “Jeanaissance” surgiu pela primeira vez. 

Parecia que a atriz estava pronta para voltar ao estrelado. Mas não foi exatamente assim. Após o sucesso do seu papel pela minissérie, ela ficou um ano sem trabalhar pela primeira vez na sua carreira. Em um painel realizado pela Split Screens Fest, realizado pelo IFC Center, em Manhattan, em 2018, ela demonstrou sua indignação: “Fiquei muito orgulhosa disso [de Fargo]. Mas depois? Não apareceu uma oferta de emprego! Nenhuma. Por mais de um ano. Acho que foi por causa da minha aparência, eu envelheci. Sabe de uma coisa, se eu fosse um cara, aposto como teria recebido algumas ofertas de emprego.”, ela contou. Após o período sabático, o que deve ter parecido uma eternidade a ela, Hawley novamente entrou em contato oferecendo o papel de Melanie Bird, em Legion, adaptação da HQ da Marvel, novamente para a FX, que ela interpretou durante três temporadas.  

Warner/Divulgação
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Mas foi com outra adaptação dos quadrinhos que Smart novamente retornou aos holofotes — e aparentemente, sem hora de voltar. Criada por Damon Lindelof, na minissérie Watchmen, de 2019, a atriz ganhou destaque interpretando Laurie Blake, que, curiosamente, não foi escrita originalmente para ela. “A HBO me contratou dois dias antes das gravações começarem. Devo agradecer à Sigourney Weaver, que recusou o papel. Então, obrigada, Sigourney”, brincou a atriz enquanto conversava com Bowen Yang (Saturday Night Live), em um segmento da Variety. A performance deve ter ressoado com os produtores da renomada emissora, pois logo em seguida, a veterana assinou dois projetos distintos, Mare of Easttown e Hacks, seu primeiro papel principal em quase quatro décadas trabalhando na televisão.

Em Mare of Easttown ela interpreta a mãe da detetive Mare (Kate Winslet), um papel que até remete ao mesmo que ela fazia em Samantha Who?, uma mãe desbocada, irritante, mas com boas intenções apesar de tudo. Basicamente um papel na sua zona de conforto, que mesmo assim consegue roubar algumas cenas sem nem perceber. O que Mare faz — e muito — é levantar o status-quo da atriz como contraste ao seu desempenho em Hacks

Na pele de uma humorista cafona na produção da plataforma de streaming da Warner Media, Smart simplesmente desaparece totalmente no papel. Não há nenhum resquício que nos faça lembrar de outras personagens mencionadas anteriormente aqui no texto. Ela nos seduz na pele de Deborah Vance, e nos rejeita assim que estamos prontos para nos declarar. É uma personagem que pode facilmente cair no clichê (sua relação com Hannah Einbinder, a co-protagonista, tem um quê de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada), mas ela encontra graça e humanidade, além de retirar sutilezas em pequenos momentos que impedem que seu personagem vire uma caricatura barata. Isso sem contar as habilidades da atriz até em comédia física, vivendo até mesmo um boneco de cera.

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Embora 2021 tenha sido o maior ano de sua carreira, a atriz passou por um momento bastante difícil. Enquanto gravava o último episódio de Hacks, seu marido, o também ator Richard Gilliland, que ela conheceu durante as filmagens da série Designing Women, faleceu inesperadamente. E isso aconteceu justamente enquanto estava em um velório imaginário para a série da HBO Max. Em entrevista à revista The New Yorker, Smart disse que precisou de uma pausa de uma semana antes de poder concluir a sequência, mas logo retornou, pois “precisava fazer o meu trabalho e atuar em um momento difícil pareceu uma bela distração”, disse. 

Além de ter levado o Emmy na categoria de melhor atriz em comédia, neste ano foi anunciado que Jean Smart também será honrada com uma estrela na calçada da fama. Nesta semana, a atriz também foi adicionada ao elenco de Babylon, aguardado novo longa de Damien Chazelle (La La Land) ao lado de Brad Pitt e Margot Robbie. Também correm rumores de que além de estrelar, ela também será produtora executiva de Miss Macy, próximo filme de Tate Taylor (Histórias Cruzadas). 

Seja lá como for chamada, “Jeanaissance” ou “Smartaissance”, se a era significar mesmo um período de bons papéis para Jean Smart, nas telinhas ou nas telonas, só espero que não seja passageira.

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