Fase 4 firma o compromisso da Marvel com a diversidade; entenda

Créditos da imagem: Alberto E. Rodriguez/ Getty Images North America/AFP

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Fase 4 firma o compromisso da Marvel com a diversidade; entenda

Calendário de lançamentos mostra o estúdio saindo do discursivo e propondo projetos com heróis de diferentes etnias e orientações sexuais

Omelete
5 min de leitura
07.12.2019, às 11H45.

Diversidade é a palavra de ordem do calendário de próximos lançamentos da Marvel. Embora o termo em si não tenha feito parte das apresentações do presidente do estúdio Kevin Feige em eventos como a San Diego Comic-Con e a D23, este é definitivamente um denominador comum dentro da fase 4 do MCU, sobretudo se observarmos as produções focadas em heróis inéditos. Se no passado o elenco de um blockbuster da editora era dominado por atores brancos, em sua maioria homens, dessa vez a Marvel realmente provocou uma mudança significativa. Não apenas deu mais espaço para as heroínas no seu universo compartilhado, como pode-se ver no Hall H, em julho, uma prévia das diferentes etnias e minorias que serão representadas nos cinemas até o final de 2021.

Os Eternos talvez seja a produção mais sintomática dessa postura. A equipe, pouco conhecida até por alguns dos mais ferrenhos fãs de quadrinhos, chegará aos cinemas com um elenco bastante diverso: dos oito integrantes, três são brancos (Angelina Jolie, Richard Madden e a pequena Lia McHugh); dois são negros (Brian Tyree Henry e Lauren Ridloff); uma é latina (Salma Hayek); um é paquistanês (Kumail Nanjiani); e outro é sul-coreano (Ma Dong-Seok, também conhecido como Don Lee). Mais do que os números, é a imagem de todos reunidos que revela o ineditismo da produção, ainda mais considerando os padrões da indústria:

Elenco de Os Eternos acompanhado da diretora Chloé Zhao

Alberto E. Rodriguez/Getty Images North America/AFP

Além da diversidade étnica, é interessante notar que a Marvel não ficou presa nos gêneros originais dos personagens neste projeto. Afinal, se esse fosse o caso, teríamos no filme apenas uma heroína, a poderosa Thena. A decisão de adaptar o veloz Makkari, o Eterno Polar Ajak e o zombeteiro Sprite como personagens femininas muda pouco suas respectivas personalidades. Porém, há um peso simbólico nessa decisão: um verdadeiro equilíbrio entre a força de homens e mulheres dentro da equipe, algo que não se viu dentro da formação original dos Vingadores.

Os Eternos também marca outros dois passos importantes nessa missão da Marvel de ser mais inclusiva. O longa, que estreia em novembro de 2020, trará a primeira heroína com deficiência auditiva da história do estúdio - Makkari será interpretada pela atriz surda Lauren Ridloff - e um herói LGBTQ+. Pelo o que Kevin Feige revelou em entrevistas pós-SDCC, a fase 4 realmente mostrará a Marvel se afastando da heteronormatividade que foi padrão até aqui, e incluindo outros personagens LGBTQ+ além do Eterno.

Marvel Comics/Divulgação

O também recém-anunciado Shang-Chi e a Lenda dos 10 Anéis representa avanços próprios. Pela primeira vez, a Marvel leva para os cinemas um personagem de origem asiática para protagonizar um longa solo. Além do herói ser vivido pelo ator sino-canadense Simu Liu, o núcleo central também conta com nomes de descendência chinesa, isto é, Tony Leung como o vilão Mandarim e Awkwafina para um papel misterioso.

Há uma clara preocupação de fazer uma representação mais adequada da cultura chinesa. Não à toa, ao que tudo indica, o estúdio não se prenderá por completo ao material-base, corrigindo em alguma medida o lastro racista e estereotipado que originou o mestre do Kung Fu nos anos 1970. Afinal, o personagem criado por Steve Englehart e Jim Starlin nasceu a partir de Fu Manchu, um vilão antigo da literatura inglesa, apresentado nos quadrinhos como o pai e o principal adversário de Shang-Chi.

Antes da Marvel Comics, durante o século XIX e início do século XX, o temido criminoso foi usado como caricatura nos ataques xenofóbicos aos imigrantes asiáticos nos Estados Unidos. Por isso, não era incomum que Fu Manchu parecesse menos como uma figura humana e mais como um monstro.

Na adaptação para os cinemas, Fu Manchu deve ser substituído por Mandarim - o personagem de verdade, não a versão falsa de Homem de Ferro 3. Ainda assim, a relação de antagonismo entre herói e vilão deve ser mantida. Portanto, o amadurecimento de Shang-Chi e a decepção com seu pai devem continuar como os focos de A Lenda dos 10 Anéis, sem decepcionar os fãs do personagem ou ofender o espectador.

Natalie Portman levantando o Mjölnir no Hall H da San Diego Comic-Con

Alberto E. Rodriguez/ Getty Images North America/AFP

Note que estas são apenas duas produções dos 10 lançamentos programados até o final da fase 4. Há ainda Thor: Amor e Trovão, mostrando a transformação de Jane na Poderosa Thor e Valquíria como a “rei” de Asgard; Wandavision finalmente explorando a extensão dos poderes da Feiticeira Escarlate e colocando-a como protagonista; Gavião Arqueiro, retratando a formação da jovem heroína Kate Bishop; e Viúva Negra, desenvolvendo de verdade a primeira Vingadora do MCU. A representação feminina aumenta também na direção. Agora temos mais duas mulheres comandando blockbusters do estúdio: Chloé Zhao (Os Eternos) e Cate Shortland (Viúva Negra).

É verdade que não é de hoje que a Marvel reconhece a importância da diversidade e da representatividade no futuro do seu universo cinematográfico. Na realidade, ambos os temas foram mencionados em diferentes ocasiões por Feige e diretores como os irmãos Russo nos últimos anos. Neste mesmo período, até houve flertes tímidos nos longas, como a bissexualidade de Valquíria, mencionada pela atriz Tessa Thompson em entrevistas, mas nunca de fato referida em Thor: Ragnarok. Entretanto, foi apenas após a comprovação do sucesso de crítica e de bilheteria dos longas Pantera Negra, Capitã Marvel e o pioneiro Mulher-Maravilha, obra da editora concorrente, que o estúdio saiu do campo discursivo e decidiu aplicar esses princípios na prática. Afinal, quem “lacra” lucra sim: Mulher-Maravilha fez US$ 821,84 milhões para a Warner em 2017; Capitã Marvel soma US$ 1,128 bilhão para o MCU desde o início de 2019; e Pantera Negra arrecadou US$ 1,346 bilhão em 2018, sendo uma das maiores arrecadações do ano passado.  

Esta nova leva de lançamentos é só um começo, é claro. A Marvel, assim como a indústria como um todo, tem muito a se adequar se de fato quiser  ser mais inclusiva. Porém, o estúdio dá sinais otimistas de mudança. Que Os Eternos, Shang-Chi e a Poderosa Thor não sejam só uma fase.

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