Não é só por meio de campanhas de difamação como a promovida na nota do IMDb que Marighella, a cinebiografia do guerrilheiro Carlos Marighella dirigida por Wagner Moura, foi alvo de ataques. Em conversa com o Omelete, o diretor se lembrou de ameaças feitas nas redes sociais e falou como isso levou a um clima de tensão no set de filmagens.
"Teve um dia que, no Facebook, chegou uma galera que disse que tal dia iria ao set. Falaram: 'Vamos quebrar a porra toda e vamos dar porrada em todo mundo'. E aí, a gente se preparou para aquilo", contou Moura. "Dizíamos pros atores que não iríamos responder nenhuma provocação, mas também que não iríamos abaixar a cabeça para nenhum fascista que aparecesse".
Segundo o diretor, entretanto, as ameaças ficaram só no âmbito virtual. No dia em que ocorreria o ataque, a equipe do filme foi surpreendida por uma manifestação de apoio. "Apareceu no set, sem ninguém chamar, a juventude anti-fascista. Eram 20 jovens, os meninos e as meninas lá, para dizer: 'Se vier alguém, a gente está aqui'. Eu achei aquilo tão bonito", lembrou Moura. "Isso causou uma eletricidade no set e na gente. Dizíamos: 'Vamos fazer essa porra'. Foi um efeito colateral positivo para a filmagem".
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Marighella, que traz Seu Jorge no papel do guerrilheiro, estreou em 4 de novembro, 52 anos depois dele, uma das principais figuras de oposição contra a ditadura militar, ser assassinado.
Anteriormente, o filme, que conta ainda com Adriana Esteves, Bruno Gagliasso e Herson Capri, estava marcado para estrear em abril de 2021, mas o plano foi adiado por causa da pandemia do coronavírus. Um adiamento prévio, em 2020, é atribuído por Moura a uma censura do governo federal via a Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Marighella passou por vários festivais, inclusive o Festival de Berlim, onde estreou sob aplausos. O filme narra a vida do guerrilheiro em dois momentos, um em 1964 e outro entre 1968 e 1969, quando ele morreu em uma emboscada executada por policiais, na época da ditadura militar.