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Thor: Amor e Trovão escancara as portas do MCU para um aguardado vilão

Filme de Taika Waititi apresenta uma das 5 entidades cósmicas que regem multiverso nas HQs

08.07.2022, às 17H20.

[O texto abaixo traz spoilers de Thor: Amor e Trovão]

Thor: Amor e Trovão pode se anunciar como uma história bastante independente da interconexão narrativa que passamos a esperar da Marvel Studios, mas há pelo menos dois elementos-chave de seu desfecho que podem ter grande importância no futuro dos filmes do MCU — e nem estou falando daquela revelação nas cenas pós-créditos.

Eternidade, a entidade cósmica que é o grande alvo da jornada assassina de Gorr (Christian Bale), e Amor (India Rose Hemsworth), a filha ressuscitada do vilão que é posteriormente adotada por Thor (Chris Hemsworth), guardam ligações diretas com uma mitologia que, ao menos nos quadrinhos, tende a anunciar grandes eventos envolvendo o poderoso e temível Galactus, o Devorador de Mundos.

QUEM É GALACTUS?

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Criado por Stan Lee e Jack Kirby, em 1965, o quase onipotente personagem foi apresentado aos leitores de quadrinhos como um grande antagonista do Quarteto Fantástico, na edição de número 48 da revista própria à Primeira Família da Marvel. Um ser cósmico que se alimenta da energia componente de planetas, Galactus viaja o universo junto de um arauto (tipicamente, o Surfista Prateado) que, imbuído de formidáveis poderes, busca e seleciona quais corpos celestes servirão de refeição para seu mestre.

Usado de forma recorrente como uma ameaça grande o bastante a ponto de reunir diferentes heróis — e, consequentemente, promover grandes crossovers —, Galactus teve sua origem esmiuçada justamente em uma história do Deus do Trovão. A edição de número 169 de Thor, lançada em 1969, começou a explicar como o vilão é o último sobrevivente do planeta Taa-an; o mais tecnologicamente avançado do multiverso que existia antes daquele que conhecemos (ancorado no Universo-616, ou na Terra-616), mas que foi devastado por um evento cataclísmico chamado “Big Crunch”.

Veja, na teoria multiversal da Casa das Ideias, toda a realidade fraturada das mais diferentes dimensões que nela operam atravessa ciclos regidos pelas entidades cósmicas Eternidade, Morte, Infinito e Esquecimento (ou variantes delas). Ao final de cada ciclo, um apocalipse põe fim a tudo que existe para que possa dar também início a novas existências. Galactus, no sétimo ciclo do universo (o tradicional da editora), é um remanescente vivo do ciclo anterior, onde se chamava Galan. Um pequeno milagre da engenharia genética avançada de Taa-an, ele foi incumbido de encontrar meios de parar o “Big Crunch”, mas falhou. Entretanto, conseguiu fundir-se à entidade Senciência do Cosmos (antecessora justamente da Eternidade) e sobreviver ao fim de seu multiverso, ganhando poderes virtualmente ilimitados e tornando-se o Devorador de Mundos.

Por anos tratado apenas como um vilão, Galactus foi eventualmente reconfigurado como a quinta entidade essencial para o funcionamento e a existência do Multiverso Marvel, tornando-se um irmão para Eternidade, Morte, Infinito e Esquecimento. Inclusive, segundo revela a primeira dessas quatro no arco O Julgamento de Reed Richards, de 1991, a seleção de planetas para consumo promovida pelo formidável ser cósmico é necessária para impedir sobrecargas — e, consequentemente, adiar um novo “Big Crunch”.

TÁ, MAS E O MCU?

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Como já havíamos cantado a bola em 2017, uma das maiores aquisições da Marvel Studios com a compra da então 20th Century Fox pela Disney foram os direitos de uso do vilão, nas telonas. Atrelado ao Quarteto Fantástico (como esquecer aquela versão lamentável dele, no filme lançado pela Fox em 2007), Galactus sempre foi perfeito para preencher o vácuo deixado por Thanos (Josh Brolin) na posição de maior ameaça do MCU, após Vingadores: Ultimato (2019).Como bem mostra a recepção mista à maioria dos filmes da Fase 4, é preciso ser prenunciado de alguma forma para sustentar um interesse massivo do público em uma narrativa compartilhada tão longa.

Mas não é só isso: o próprio presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, já havia anunciado que Thor: Amor e Trovão abriria uma leva de produções do MCU que apontaria com mais clareza a futura grande saga das telonas. Lembrando de Eternos em mais de um momento, e fazendo de uma entidade-irmã de Galactus uma peça tão essencial à sua história, o filme de Taika Waititi no mínimo escancara que os filmes futuros da Casa das Ideias olharão para o céu com ainda mais empolgação e destemor do que já vimos. Junte isso a declarações dadas pelo co-roteirista do filme de Chloé Zhao, Kaz Firpo, e é bom mesmo que o Quarteto Fantástico se apresente logo para uma potencial batalha com o Devorador de Mundos:

"Galactus é um incrível, incrível personagem e vilão. Nós estamos, você sabe, preparando o palco para confrontos intergalácticos, cósmicos e megalomaníacos, especialmente quando você mata um deus espacial — e então o deus espacial vem e te sequestra e planeja julgar a Terra, eu acho que a porta está bem aberta para vilões que comem mundos", afirmou Kaz, em novembro de 2021.

TUDO O QUE VOCÊ PRECISA É AMOR

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Se Thanos já exigiu a convergência de heróis da Terra e de outros planetas para vencê-lo, nada mais justo do que imaginar que uma entidade cósmica tão poderosa quanto Galactus, um irmão da Eternidade — por si só, capaz de ressuscitar uma garota e ainda imbuí-la com poderes “de uma deusa”, como diz Korg (o próprio Waititi), — irá exigir uma aliança muito mais complexa.

A introdução de Amor no novo filme do Thor, como não só a filha de Gorr renascida, mas uma filha do próprio Cosmos, pode guardar a chave para enfrentar de igual para igual um ser tão poderoso quanto o Devorador de Mundos. Embora não exista nos quadrinhos, a garota guarda grande similaridade com os integrantes do grupo Filhos da Eternidade, jovens seres celestes altamente poderosos que atendem pelos nomes Empatia, Elogio, Conveniência, Entropia, Epifania, Inimizade, Eon, Antes e Hoje. Ter como aliado dos Maiores Heróis da Terra ao menos um ser desse nível de poder indica que Feige tem em mente um desafio colossal.

Além disso, não é à toa que Ms. Marvel se desviou de toda a atenção dada ao conceito de Multiverso para abordar dimensões alternativas que coexistem quase simultaneamente com o que os principais personagens do MCU vivem; essas realidades místicas podem ter de se tornar acessíveis para viabilizar o enfrentamento de uma entidade cósmica tão poderosa quanto aquelas para quais a Marvel Studios parece estar preparando o terreno. Faz até sentido que Valhalla tenha dado as caras ao final de Amor e Trovão. Se tratado como uma dimensão diferente, o além-vida pode permitir que heróis mortos se juntem à luta contra Galactus, ou qualquer outra grande ameaça que vier por aí, caso seja necessário.

No seu novo filme, Thor (Hemsworth) deve passar por uma crise da meia-idade em seus mais de 1500 anos. Em sua jornada de autoconhecimento, ele conhecerá outros deuses, vai reencontrar sua amada e também um novo adversário extremamente letal: Gorr, o Caniceiro dos Deuses (Bale).

Thor: Amor e Trovão estreia nos cinemas em 7 de julho de 2022.