A 14ª Mostra de Cinema Coreano no Brasil demonstrou com brilhantismo, entre os últimos dias 12 e 19 de junho, a filmografia diversa e enérgica do país asiático - e o Omelete estava lá para assistir.
A lista abaixo, dos cinco melhores filmes que prestigiamos no evento, certamente evidencia isso - vimos dramas e comédias LGBTQIAPN+, produções de gênero com tom mais descompromissado e histórias fundadas no realismo social que é especialidade do cinema sul-coreano. O fino dessa seleção, você encontra logo abaixo!
5. Sobre Minha Filha
Em sua estreia no cinema, a diretora e roteirista Lee Mi-rang cria para essa história um universo visual e narrativo definido pela vontade de deixar os seus personagens em evidência, mesmo que as emoções deles permaneçam escondidas. Sobre Minha Filha se passa em ambientes plenamente iluminados, arejados por uma brisa matutina que parece onipresente (mesmo quando substituída pelas lâmpadas fluorescentes de uma ou outra cena noturna), pelos quais a protagonista se movimenta de forma cuidadosamente ordenada. Talvez ela mesma esteja tentando esconder o caos que se passa dentro dela, como a performance pulsante de Oh Min-ae parece sugerir o tempo todo, mas o fato é que as únicas barreiras de Sobre Minha Filha, suas únicas claustrofobias, são internas - as muralhas levantadas pela inabilidade de entender o outro.
4. Uma Grande Família
No fim das contas, Uma Grande Família está interessado mesmo nas curvas que direcionam cada pessoa em um caminho de encontro ou para longe da espiritualidade. Às vezes, o filme faz piada da trivialidade desses caminhos - o personagem do monge que vira “braço-direito” de Moon-seok é quase inteiramente baseado nessa mesma piada, o que surpreendentemente não se mostra irritante nem quando a metragem vai se estendendo. Às vezes, ele entende a gravidade dessas curvas, os silêncios traumáticos que se escondem nelas. Mesmo quando fala sério, no entanto, Uma Grande Família reconhece que estamos todos em processo de aprendizado, em todos os sentidos das nossas vidas, e os campos da alma não são exceção.
3. Uma Família Normal
De forma tipicamente sul-coreana (os fãs do cinema de Bong Joon-ho certamente podem atestar), Uma Família Normal desenha muito de seus personagens assim, a partir das relações de poder e ressentimentos que se estabelecem em suas classes sociais. E diante disso, é claro, o elenco de veteranos que compõe o núcleo principal transforma cada olhar de soslaio, cada alfinetada que trai décadas de picuinhas silenciosas, em uma refeição dramática completa - me perdoem o trocadilho. É aí que se sobressaem as mulheres, Kim Hee-ae e Claudia Kim, que desde a primeira cena estabelecem entre si uma dança verbal hipnotizante, uma deixando revelar o que inveja e o que deseja na outra conforme o momento de tomar decisões radicais por suas famílias se aproxima.
2. Regras do Amor na Cidade Grande
Como ter a resiliência de continuar sendo quem somos, falhas dolorosas e tudo, quando os ventos que buscam nos dobrar ao conformismo vão ficando cada vez mais fortes conforme o tempo passa? Regras do Amor na Cidade Grande vai deixando os anos passarem, marcados na tela por letreiros que denunciam a idade dos protagonistas em cada segmento do filme, e fica cada vez mais claro que esse é um conto de busca por essa resiliência. E a beleza da história de Heung-soo e Jae-hee é que eles são, um para o outro, a resposta para essa pergunta - mesmo que não queiram admitir de pronto, do alto da arrogância teimosa dos 20 e poucos anos.
1. Os Galãs
O resultado é uma experiência cinematográfica mais satisfatória, uma mistura improvável de Evil Dead e Esqueceram de Mim, com todo o cinetismo e a inocência dessas franquias - filmes de contextos inteiramente diversos, eles dividem o tratamento cartunesco da violência, e a confiança em seu potencial catártico. Os maus entendidos de Os Galãs tem algo de mecânico em comum com as arapucas de Kevin contra os assaltantes de sua casa, mas a devoção do filme a uma tradição mais sanguinária de horror, misturada com uma paródia do heroísmo de ação encharcada em referências pop, tem mais a ver com Sam Raimi do que com Chris Columbus. De qualquer forma, é uma fusão que funciona brilhantemente.