Cena de Sobre Minha Filha (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Sobre Minha Filha (Reprodução)

Filmes

Crítica

Em Sobre Minha Filha, LGBTfobia parental não se resolve com catarse dramática

Lee Mi-rang evita caminhos fáceis em filme de estreia inspirado em best-seller

Omelete
3 min de leitura
18.06.2025, às 07H00.

Não faltam por aí histórias sobre pessoas LGBTQIAPN+ enfrentando o preconceito dentro de suas próprias famílias. De fato, a maioria das narrativas centradas em personagens queer pincelam o tema de alguma forma - de A Festa de Formatura a Boy Erased, de One Day at a Time a Pose, a aceitação ou não aceitação das unidades familiares sempre molda de alguma forma os personagens queer da ficção. O que a maioria dessas histórias também compartilha, no entanto, é a tendência a “reduzir” esses conflitos a um grande momento de quebra, para o bem ou para o mal. Uma miríade de problemas se levanta daí, é claro, seja a tendência a responsabilizar a pessoa LGBTQIAPN+ pela fratura e reparação do relacionamento, ou a venda de um conto de fadas em que a visão preconceituosa de um parente pode se transformar num estalo.

Sobre Minha Filha escapa dessas armadilhas justamente por negar a catarse, a quebra. Inspirado no livro de mesmo nome de Kim Hye-jin, o longa sul-coreano acompanha uma mulher de meia idade (Oh Min-ae) há muito enviuvada, que acolhe a filha única de volta à sua casa quando ela passa por problemas financeiros. Acontece que a moça, apelidada de Green (Im She-mi), traz a reboque a namorada de longa data, Rain (Ha Yoon-kyung), e a mãe luta para sequer reconhecer o relacionamento das duas. Em paralelo, Green se envolve na luta para restituir o emprego de uma colega professora demitida por sua sexualidade, e a mãe encontra problemas no lar de repouso para idosos onde trabalha - o chefe dela quer cortar custos e diminuir o padrão de cuidados de uma cliente, Je-hee (Heo Jin), a quem a funcionária se afeiçoou.

Em sua estreia no cinema, a diretora e roteirista Lee Mi-rang cria para essa história um universo visual e narrativo definido pela vontade de deixar os seus personagens em evidência, mesmo que as emoções deles permaneçam escondidas. Sobre Minha Filha se passa em ambientes plenamente iluminados, arejados por uma brisa matutina que parece onipresente (mesmo quando substituída pelas lâmpadas fluorescentes de uma ou outra cena noturna), pelos quais a protagonista se movimenta de forma cuidadosamente ordenada. Talvez ela mesma esteja tentando esconder o caos que se passa dentro dela, como a performance pulsante de Oh Min-ae parece sugerir o tempo todo, mas o fato é que as únicas barreiras de Sobre Minha Filha, suas únicas claustrofobias, são internas - as muralhas levantadas pela inabilidade de entender o outro.

É uma escolha artística compreensível, especialmente diante de uma trama em que as transformações, os arcos, tampouco acontecem à vista. Como o livro de Kim, a versão cinematográfica de Sobre Minha Filha não é a jornada inspiradora de uma mãe que aprendeu a ter orgulho de sua filha lésbica, ou qualquer coisa do tipo. Ao invés disso, o filme entende a mudança na direção da aceitação como um processo que se desenha na convivência, no desgaste, na proximidade que leva à compreensão da humanidade - o que, é claro, também poderia ser um clichê cansado, caso levasse a um grande ato de apoio maternal no terceiro ato. Mas, previsivelmente, Sobre Minha Filha nos nega até essa liberação emocional, preferindo uma linearidade sutilmente satisfatória.

Talvez seja outro tipo de chavão dizer que, no fim das contas, é por essa recusa a grandes atos dramáticos que Sobre Minha Filha consegue respirar como uma história que poderia ser real. Realismo é um atributo frequentemente superestimado no cinema contemporâneo, mas essa é outra questão: por princípio, a escolha de uma narrativa mais centrada no real é tão válida quanto qualquer outra. A pergunta é se o realismo serve bem à história que se conta, ou não - se ela ajuda o título em questão a se destacar, ou a se encaixar. Aqui, especificamente, me parece óbvio que Sobre Minha Filha se beneficia de certas escolhas que o afastam da fabricação, mesmo que ele abra mão de certo impacto por isso.

*Sobre Minha Filha foi exibido na 14ª Mostra de Cinema Coreano no Brasil.

Nota do Crítico
Ótimo

Sobre Minha Filha

딸에 대하여

Ano: 2023

País: Coreia do Sul

Duração: 106 min

Direção: Lee Mi-rang

Roteiro: Lee Mi-rang

Elenco: Heo Jin , Ha Yoon-kyung , Im She-mi , Oh Min-ae

Onde assistir:
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