Steve Carell e elenco de Space Force

Créditos da imagem: Space Force/Netflix/Reprodução

Séries e TV

Crítica

Mais engraçada, segunda chance de Space Force mais parece uma despedida

Greg Daniels e Steve Carell usam os fracassos da versão fictícia da Força Espacial para comentar os deslizes da própria série

Omelete
4 min de leitura
25.02.2022, às 08H50.

"Space Force não vai a lugar nenhum", branda Steve Carell ao final do episódio de estreia da segunda temporada da comédia da Netflix. O anúncio é recebido com um misto de alívio e alegria pelos seus principais funcionários, que já esperavam o pior depois do fiasco que quase levou os Estados Unidos a um conflito na Lua com a China. A audiência fora dura e mesmo os mais bem intencionados depoimentos não pareciam capazes de mudar a cabeça do secretário de defesa de Tim Meadows. Porém, para a surpresa de todos, inclusive do general-protagonista, o departamento militar poderia seguir adiante e sob o mesmo comando.

Enquanto Carell perguntava “como?”, do lado de cá da tela o espectador fazia o mesmo. Não dá para negar que ver Space Force retornando ao streaming com uma nova leva de episódios teve seu grau de inesperado. A primeira temporada, embora cheia de boas ideias e com um elenco muito talentoso, não passou do mediano, e mesmo as críticas mais otimistas com a possibilidade de um retorno destacaram o descompasso do primeiro ano. Era evidente, portanto, a necessidade de fazer mudanças significativas na proposta da comédia: se fosse de fato receber uma segunda chance da Netflix, Space Force não poderia voltar à TV da mesma maneira.

Passado os julgamentos -- o público e o fictício --, os criadores Greg Daniels e Carell podem até ter mantido o General Naird à frente do “escritório”, mas a comédia definitivamente toma outro rumo nesta temporada. Nos sete novos episódios, toda a história desenrolada até ali serve mais como um acessório para as situações cômicas do que de fato desenham um arco com começo, meio e fim para os colegas de trabalho. O mistério da prisão de Maggie (Lisa Kudrow) de repente vira uma piada recorrente, que a cada novo capítulo ganha um novo grau de absurdo. Toda a parafernália e o discurso científico, por sua vez, são retomados para fazer simples trocadilhos -- curiosamente relacionados à música na maior parte das vezes. Há um lastro aqui e ali quando se fala das relações entre o general e sua filha, Erin (Diana Silvers), assim como o vai-não-vai do romance dos fofos Dr. Chan (Jimmy O. Yang) e Capitã Ali (Tawny Newsome), mas ambos são talvez os únicos fios narrativos conservados desde o intervalo das temporadas.

O ganho é evidente: é como se os atores tivessem carta branca para experimentar e brincar com seus personagens, e alguns realmente sabem aproveitar muito bem a oportunidade. É o caso de Ben Schwartz, o intérprete do relações públicas F. Tony Scarapiducci que está ainda mais bobo, mas sobretudo de Don Lake, o general-assistente Brad. O que um dia fora o coadjuvante dos coadjuvantes (ou, como o próprio personagem se define em determinado ponto da série, “não exatamente um papel”) deliberadamente ganhou o holofote neste novo ano e alavanca os episódios mais morosos.

E não são só os atores que estão com menos amarras. Se antes Daniels e Carell tentavam evitar as comparações com The Office, série que deu pontapé à sua parceria, agora eles inserem referências à comédia quase na mesma medida que abrem a Força Espacial para as marcas (reparem na quantidade de “merchans” desta temporada). É uma estratégia arriscada, porque invariavelmente chama a comparação, e Space Force não está à altura do sucesso de meados dos anos 2000. Mas, ainda assim, oferece algum nível de recompensa -- e é nos detalhes que eles tentam (re)conquistar o público.

Por outro lado, com arcos de personagens tão truncados, o que garante alguma unidade à temporada é mesmo sua capacidade de rir de si. Colocar Carell em julgamento e perguntar tão abertamente como a Força Espacial continua ali não é um exercício isolado de metalinguagem desta temporada. É apenas um exemplo do subtexto que está em todos os episódios. A série não tem embaraço de reconhecer que houve “reduções drásticas no orçamento” e “cortes de pessoal”, mas o faz na sua trama. E tornar seus bastidores motivos de piada, seja esvaziando uma sala dos seus props, seja literalmente perguntando “isso vale o custo?”, é muito mais engraçado do que tentar disfarçar o óbvio: estamos diante de menos episódios, menos cenários, personagens sumiram e participações foram reduzidas.

Essa desinibição generalizada, embora charmosa, deixa um gosto triste de adeus. É quase como se eles assumissem que, como o retorno é incerto, o melhor que podem fazer é se divertir e aproveitar a oportunidade para fazer o que bem entenderem. E a verdade é que, por mais apegado que você possa ter ficado dos personagens, é muito fácil reconhecer que eles não estão de todo errado. As mudanças de uma temporada para a outra foram importantes e trouxeram uma energia e um vigor que transparecem em tela. É inegável: só o episódio “The Chinese Delegation”, em termos de roteiro e performance, já é melhor que todo o primeiro ano. No entanto, Space Force continua deixando a desejar.

A temporada começa com general Naird tendo seu momento “diga ao povo que fico”, e termina com seus funcionários devolvendo a gentileza. A questão que fica é: os espectadores os acompanharão e darão sobrevida à série?

Nota do Crítico
Bom
Space Force
Em andamento (2020- )
Space Force
Em andamento (2020- )

Criado por: Steve Carell e Greg Daniels

Duração: 2 temporadas

Onde assistir:
Oferecido por

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