Tom Hiddleston em Loki

Créditos da imagem: Loki/Marvel Studios/Reprodução

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Opinião: Até quando seremos reféns do calendário do MCU?

O hype é parte da experiência, mas quando ele se sobrepõe ao desenvolvimento dos heróis e vilões que conquistaram o público, o universo compartilhado se esvazia

15.07.2021, às 16H36.

Agridoce parece até um eufemismo para descrever o encerramento da primeira temporada de Loki. Depois de cinco episódios explorando a psique do vilão, deixando-o vulnerável diante dos seus próprios dilemas e desvios, a série do Disney+ preferiu interromper sua jornada de autodescobrimento, interessante por toda a sua complexidade, para servir a um plano maior: o tão debatido calendário do MCU. Isso porque o finale não apenas estabeleceu uma conexão com o que vem pela frente nos próximos lançamentos, mas sim parou o desenvolvimento dos seus personagens para explicar, em um monólogo longo, o que de fato estava em jogo durante todo esse tempo. Nunca foi sobre o Loki (Tom Hiddleston) e suas variantes. Na realidade, era sobre o novo grande evento cinematográfico da Casa das Ideias.

Veja bem, a busca pelo grande propósito e o caráter desconfiado de Loki até encontram alguma brecha para se manifestar, mas ficam irrelevantes diante da apresentação do “Thanos da fase 4”. Embora a ansiedade do fandom contribua sim para esse efeito, está em "Por Todo Tempo. Sempre" a razão para que o vilão Kang (Jonathan Majors) seja predominante nos debates e repercussões da série. Não foram só os espectadores que viram o episódio: Loki e Sylvie (Sophia di Martino) basicamente assistiram de camarote a explicação de qual será o problema da vez do universo compartilhado. Logo, mais uma vez fica aquela sensação de que fomos ludibriados, feitos de reféns para assistir ao filme ou à série seguinte.

Sentimos este amargor, infelizmente, não tem muito tempo, porque Viúva Negra foi mais uma das vítimas deste cronograma. O tão aguardado filme solo de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) só se justifica, da maneira como foi feito, para apresentar Yelena Belova (Florence Pugh), cuja importância, por sua vez, está nos planos da misteriosa vilã Valentina Allegra (Julia Louis-Dreyfus). Em outras palavras, por que acompanhamos mais de duas horas de filme, na promessa de que finalmente uma personagem adorada teria seu merecido espaço, se tudo está escorado nos dois minutos de cena pós-créditos? -- que, detalhe, a Natasha sequer faz parte.

Para fazer uma analogia com Loki, o calendário do MCU é a nossa “linha do tempo sagrada”: tudo é válido para manter seu caminhar. De fato, imaginar que uma produção do estúdio, seja ela uma série ou um filme, possa se encerrar em si mesma parece descabido. Essa é a realidade desde que a construção do seu universo cinematográfico se provou um investimento bem-sucedido do ponto de vista criativo e financeiro, sobretudo após Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato se tornarem verdadeiros eventos -- e não à toa, um modelo de negócio que muitos estúdios tentam (ou ao menos tentavam) reproduzir, sem muito êxito.

São poucos os longas que conseguiram equilibrar o grande plano do estúdio com histórias redondinhas -- das recentes, talvez Thor: Ragnarok e Pantera Negra sejam os grandes exemplos e, não gratuitamente, tão elogiados pela crítica e pelo público. A maioria deixou de lado as sutilezas que conectavam seus heróis e vilões, e isso fica especialmente aparente neste ano, quando emendamos uma série da Marvel na outra com quase nenhuma pausa.

Essa dinâmica é, por essência, frustrante. Desde o lançamento de Homem de Ferro, lá em 2008, o investimento emocional dos fãs nas aventuras do estúdio esteve no desenvolvimento dos seus personagens, na humanidade por trás dos seus super poderes -- justamente o trunfo da editora nos quadrinhos --, e não na expectativa do “vem aí”. O hype tem sua importância, é claro, mas se amparar apenas nele esvazia a experiência. Cria uma relação de obrigação entre o fandom com o MCU, na qual você deixa de assistir porque é legal e passa a fazê-lo para se manter antenado e não ser vítima de spoilers. Ou, pior, causa decepções, como a ausência do Mephisto em WandaVision, que não pode ser creditada apenas aos caçadores de easter eggs. Porque a própria série surfou nesse mistério sem propósito.

Em um cenário em que as produções de heróis são tão abundantes, a verdade é que a despretensão faz muita falta. Talvez a megalomania do Marvel Studios encontre um respiro em What If…?, primeira animação do estúdio que promete apresentar um novo lado de seus personagens, ou no ineditismo de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis. Talvez a impressão da personalidade de alguns diretores consiga se sobressair nessa padronização em função do “futuro do MCU”. E na expectativa de não sermos frustrados novamente, lá vamos nós assistir aos filmes e séries mais uma vez.

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