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Premiado em Cannes, Ciganos da Ciambra chega às telas retratando a realidade violenta de jovens da Calábria

Filme inaugura parceria entre o produtor brasileiro Rodrigo Teixeira e Martin Scorsese

01.05.2018, às 16H02.
Atualizada em 03.05.2018, ÀS 09H41

Ser comparado a um mestre como o diretor francês François Truffaut (1932-1984) é uma honra de que poucos diretores em início carreira puderam desfrutar, como é o caso agora de Jonas Carpignano, cineasta que surpreendeu a crítica mundial com Ciganos da Ciambra. Este drama geracional situado na Calábria foi comparado ao longa de estreia de Truffaut, Os Incompreendidos (1959), por seu olhar sobre os rituais de passagem da infância tardia à vida adulta. Com estreia no Brasil nesta quinta-feira (3), o filme é a primeira produção do brasileiro Rodrigo Teixeira (Me Chame Pelo Seu Nome) em parceira com Martin Scorsese (Taxi Driver) e ganhou o Prêmio Europa Cinemas Label, na Quinzena de Realizadores, em Cannes.

“O segredo de se filmar uma realidade social ou cultural distinta da nossa é não se deixar levar por uma mentalidade antropológica que torne seu filme algo científico, ensaístico. Não filmo para teorizar e sim para me encantar”, disse Carpignano ao Omelete em sua passagem pelo Festival do Rio. “Encontrei na Cimabra uma galera jovem muito pobre mas que se conecta com o mundo pela internet, pelo celular, pelas plataformas digitais de cinema ou séries. E essa turma muito antenada tem à sua volta não apenas o desafio da pobreza, mas da violência”.

O foco de Ciganos da Ciambra é um rapaz de 14 anos, Pio (Pio Amato), que bebe, fuma e cria arruaça para ser respeitado pelos garotos de seu bairro e por seu irmão mais velho, Cosimo (Damiano Amato). Há uma série de refugiados africanos dando duro para sobreviver onde ele mora, sobretudo por conta das ações da máfia no local. Um deles, o motoby Ayiva (Koudous Seihon), será uma espécie de mentor para o menino até o momento em que Cosimo some, deflagrando uma reviravolta em seu cotidiano.

“A Itália produziu nos anos 1940 um movimento essencial para tirar o cinema da alienação: o neorrealismo. Neorrealistas como Vittorio De Sica e Rossellini ensinaram a gente a olhar pras ruas com olhos de encantamento, buscando experiências legítimas de pessoas reais e levando essas mesmas pessoas para o cinema. Mas isso era novo na década de 1940. Estamos nos anos 2010. O olhar para as ruas precisa de um novo referencial crítico e poético”, diz Carpignano. “O que a gente procurou neste filme era entender o quanto a Itália mudou e o quanto aquelas pessoas da Calábria notam essa mudança”.

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