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Festival de Berlim | "Nosso filme é de amor", diz diretor sobre o elogiado Cartas da Guerra

Filme sobre guerra entre Portugal e Angola nos anos 1970 é estrelado por Ricardo Pereira, que já trabalhou em novelas da Globo

14.02.2016, às 12H52.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Com oito filmes espalhados por diferentes mostras do Festival de Berlim, Portugal desbravou neste domingo as fronteiras mais visadas do evento alemão - o território da disputa pelo Urso de Ouro 2016 – com uma ode ao amor cuja fotografia em preto e braco deixou os críticos estonteados: Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira. Centrada nos conflitos armados coloniais da década de 1970, entre portugueses e angolanos, a produção é baseada no segmento epistolar da literatura do escritor António Lobo Antunes e traz o ator  Festival de Berlim , galã popular no Brasil em novelas da TV Globo, sob a farda de um dos combatentes lusos.

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Ricardo Pereira (de bigode), com o diretor e elenco de Cartas da Guerra

A narrativa é toda estruturada em cima de uma narrativa em off, que corresponde às cartas (regadas ao mel da saudade) trocadas entre o médico militar António (Miguel Nunes) e sua mulher, Maria José (Margarida Vila-Nova), enquanto ele está em missão em um front africano, em 1971. Os dois trocam frases regadas a ultrarromantismo, do tipo: “A distância apaga muita coisa, até o som de uma voz”.

“É um filme de amor, sobretudo”, definiu Ferreira em resposta ao Omelete ao fim da projeção. “Existe um lado político, porque estamos falando de uma tragédia. Quando eu era pequeno, chegava a acreditar que só pessoas más tinham ido lutar naquela guerra, pois meu pai tinha posições contrárias a ela. Foi um conflito sem sentido. Mas o que me interessava era falar de pessoas. E as pessoas daquela guerra foram todas vítimas. Por isso, o amor é uma maneira de representá-las como sobreviventes. Só o amor foi capaz de fazer António sobreviver.”

Rodado em solo angolano com destaque para a paisagem local, Cartas da Guerra tira de Ricardo Pereira aquela que talvez seja a melhor interpretação de uma carreira multinacional, dividida entre a teledramaturgia brasileira e filmes europeus de prestígio. Ele interpreta um dos oficiais que contam com a ajuda de Dr. António. Numa sequência que comoveu a Berlinale, ele desabafa sua fadiga em relação ao ambiente de morte ao seu redor, usando uma apreensão com sua saúde para encobrir suas angústia.

“Estamos levando aqui para Berlim uma história recente que não foi devidamente abordada no cinema, mas faz parte da vida de todos os portugueses de 30, 40 anos”, disse Pereira ao Omelete. “Meu pai e meus tios lutaram nessa guerra. Um irmão da minha mãe morreu nesse conflito, que é revisto neste filme a partir de uma história de amor numa longínqua África”.

Já se fala por aqui de prêmios para Cartas de Guerra, com apostas já iniciadas acerca de uma possível láurea para a direção de Ivo. Na armada portuguesa que navega pela Berlinale, outro filme cravejado de elogios foi Posto Avançado do Progresso, de Hugo Vieira da Silva, também sobre o passado colonial da nossa antiga metrópole, marcada por uma cinematografia marcadamente autoral, de experimentação narrativa. Em Portugal, até o conceito de blockbuster tem uma quantificação distinta da nossa: lá, o maior sucesso de bilheteria dos últimos 40 anos, O Pátio das Cantigas, de 2015, vendeu cerca de meio milhão de ingressos. Dos filmes de nossos patrícios aqui presentes, há muita expectativa também em torno de Eldorado XXI, de Salomé Lamas, incluindo na mostra Fórum.

“Fico muito feliz de poder trazer Cartas da Guerra aqui num ano tão nobre”, diz Ivo. “A esperança é o único pé que podemos ter no futuro. E ver tantos filmes portugueses aqui em Berlim alimenta a nossa esperança de que as autoridades da Cultura de Portugal reconheçam o valor do nosso cinema.”

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