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Como Harry Potter pode se reinventar para conquistar um novo público

Sucesso no começo dos anos 2000, franquia deve ir para a TV, mas precisa se atualizar para repetir o sucesso

30.01.2021, às 17H18.

O primeiro longa de Harry Potter chegou aos cinemas em 2001, época em que a indústria passava por uma transição interessante. Foi ali que começou a era das grandes franquias, muitas delas inspiradas em sagas literárias. A saga da Warner fez parte dessa leva de lançamentos e ajudou a moldar o cinema das décadas seguintes: sem ela, possivelmente não existiriam franquias como Jogos Vorazes, Crepúsculo e várias outras. Além disso, os filmes e livros acompanharam toda uma geração que cresceu ao lado de Harry, Rony e Hermione. Não há dúvidas sobre o sucesso e relevância de Harry Potter, mas há um grande desafio em trazer isso para uma nova audiência.

Começando pela obra mais direta, Animais Fantásticos passa longe do sucesso que o bruxinho fez no começo dos anos 2000, e o maior motivo disso é uma busca incessante para replicar o que Harry Potter já fez, sem criar uma identidade própria. A fotografia, a estética, o jeito de conduzir a trama são exatamente os mesmos já utilizados, o que deixou o filme em um limbo: ele não encanta jovens das novas gerações, mas também não é maduro o suficiente para agradar, de fato, ao público adulto. Quem é fã deste universo obviamente irá ao cinema e vai sentir uma nostalgia, mas o impacto geral enquanto franquia é bem menor - e a arrecadação da bilheteria também.

Neste caso, um dos grandes erros foi trazer de volta o diretor David Yates, responsável por comandar os longas da franquia desde 2007, com Harry Potter e a Ordem da Fênix. Já confirmado para os cinco filmes de Animais Fantásticos, Yates executa sua direção de forma honesta, mas lhe falta uma assinatura própria, algo que torne seu trabalho na franquia mais reconhecível. Inclusive, um dos grandes trunfos do começo de Harry Potter foi trazer cineastas diferentes, que enriqueceram a franquia com novas formas de mostrar o universo mágico (como Alfonso Cuáron em O Prisioneiro de Azkaban). Centralizar toda uma nova saga de filmes nas mãos do mesmo diretor trouxe a sensação de “mais do mesmo” e deixou os filmes no limbo criativo citado acima.

Com a informação de que a Warner e o HBO Max começaram a pensar em uma possível série dentro desse universo, fica a dúvida sobre como isso será conduzido e se o estúdio conseguirá realizar algo inédito e relevante neste universo. A série pode focar no público adulto que cresceu com a franquia mas, para isso funcionar, é preciso uma proposta madura, que não tenha medo de apostar em outros gêneros e se aprofundar no que este universo tem a oferecer. Por outro lado, o foco pode ser em uma produção voltada ao público jovem, o que pede uma evolução, tanto visual, quanto de discussões e representatividade.

É importante lembrar que o público pré-adolescente/jovem de hoje é bem diferente do perfil do começo dos anos 2000. Naquela época não havia YouTube, redes sociais e streamings com lançamentos de novos filmes e séries toda a semana. Dentro do contexto atual, há muito mais obras feitas para o público jovem se identificar e criar uma relação mais emotiva, como aconteceu com a franquia Harry Potter antes. Isso não quer dizer que esse público não vai gostar de novas obras dentro do universo mágico (afinal, a história regular já tem seus filmes), mas significa sim que é necessário atualizar o formato e as discussões para a realidade atual.

Que a franquia Harry Potter é um sucesso não há dúvidas e há diversas histórias neste universo que podem ser bem exploradas em uma série de TV. A grande pergunta é se a Warner será capaz de evoluir, olhando para o sucesso que já teve um dia como um bom referencial, mas sabendo que o sucesso futuro depende de buscar coisas novas e não de tentar replicar algo que já foi feito. Como diz o personagem Aslam, de As Crônicas de Nárnia: nada acontece duas vezes da mesma forma.