Filmes

Notícia

Dominion | Rodrigo Santoro fala sobre desafio de enfrentar gênio da poesia no filme

E mais destaques da programação do Festival do Rio

13.10.2016, às 13H08.
Atualizada em 13.10.2016, ÀS 13H19

Convidado para integrar o júri da disputa nacional de longas-metragens do Festival do Rio 2016, em meio ao sucesso que faz em Westworld na TV, Rodrigo Santoro trouxe um de seus filmes radicais como ator para a maratona cinéfila carioca, que termina neste domingo: Dominion.

Ele é coadjuvante em um elenco classe A (ao lado de John Malkovich e Romola Garai) sobre a passagem do poeta galês Dylan Thomas (vivido por Rhys Ifans, o Lagarto de O Espetacular Homem-Aranha) pelos EUA, numa noite de um porre homérico deste gênio das Letras. Dirigida por Steven Bernstein, a produção de US$5 milhões tem sessão hoje, às 19h20m, no Cine São Luiz, no Largo do Machado.

“Assim que terminei de ler o roteiro, que era um dos melhores e mais sofisticados que já caíram na minha mão, descobri que eu teria apenas duas semanas para me preparar antes de começar a filmar”, conta Santoro ao Omelete. “Apesar de sentir que este era, provavelmente, o filme para o qual eu mais precisaria de tempo para estudar, em função da linguagem rebuscada e poética, fazê-lo parecia ser uma oportunidade única e imperdível. Foi preciso fazer um mergulho profundo em gigantes da literatura mundial como Shakespeare, Dylan Thomas, Auden, Yeats, T.S.Eliot, Ginsberg, Kerouac e toda aquela turma da contracultura. Esse foi o maior desafio. Mas foi, ao mesmo tempo, o maior presente”.

Fotógrafo de sucessos populares como As Branquelas (2004) e de cults como Monster: Desejo Assassino (2003), Bernstein construiu a narrativa em preto e branco de Dominion retratando o personagem Carlos, vivido por Santoro, como um contraponto da loucura de Dylan Thomas, que, em 1953, numa visita aos Estados Unidos, entornou 18 doses duplas de uísque em busca de transcendência.

Inadequação é o sentimento que guia este filme, no retrato de um artista que não se sente pertencente a nada”, disse o cineasta, de passagem pelo Rio. “Eu sou atraído pelas inconstâncias e pelas dualidades das pessoas, sobretudo dos artistas, e tentei levar isso para o filme, numa narrativa que evitasse ortodoxias, que evitasse uma ordem de ‘começo, meio e fim’ padronizada. O mundo é caótico e o cinema deve saber e poder espelhar isso”.

Dominion terá mais uma projeção no Festival nesta segunda, às 17h15m , no Roxy, na repescagem dos melhores filmes da maratona.  

PREMIÈRE BRASIL

Menina dos olhos do Festival do Rio há anos, com sua seleta competitiva pelo troféu Redentor, a Première Brasil encerra nesta quinta seu rol de concorrentes, com uma projeção, às 21h40, no Cine Roxy, em Copacabana, de aguardado Mulher do Pai, da diretora gaúcha Cristiane Oliveira, feito pela mesma turma que nos deu cults como Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa (2014). Havia, até quarta-feira, um certo ar de favoritismo em torno de Redemoinho, de José Luiz Villamarim, seguido de perto por Sob Pressãothriller hospitalar de ação de Andrucha Waddington. Mas a sessão de Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé, que chegou muito bem resenhado lá no Festival de San Sebastián, na Espanha (onde ganhou uma menção especial) pode ter virado o jogo. Pelo menos em termos do prêmio de melhor ator, só se fala dele, graças ao show de humor que é a atuação do paraibano José Dumont.

Há um diferencial político no filme que o impõe como um concorrente de peso: o fato de tratar da questão mais discutida do ano nos maiores festivais do planeta, a exclusão dos refugiados. E, à direção, Eliane encontrou uma narrativa febril para abordar o assunto ao longo de seus 90 claustrofóbicos minutos, capaz de fundir fato e fábula, ficção e documentário de maneira indissociável.

No novo (e, à primeira vista, o mais possante) filme da diretora paulista, conhecida por Narradores de Javé (2003), vemos imigrantes degredados do Congo, da Palestina, da Síria e da Colômbia que se refugiam numa hospedaria abandonada do Centro de São Paulo, ao lado de um grupo sem teto de distintos CEPs. Lá dentro, um agitador cultural com aptidões para o teatro, Apolo (Dumont, em atuação memorável), ajuda uma dirigente de movimentos de ocupação (Carmen Silva) a dar um norte para aquela babel de muitas línguas, capaz de fundir não-atores a grandes intérpretes (vide Dumont e a também veterana Suely Franco).

Entre os documentários, a briga anda mais quente. Havia já uma trinca de candidatos ao Redentor com vigor para ganhar: Divinas Divas, de Leandra LealCurumim, de Marcos Prado (o que mais cotado ao troféu de direção de docs)A Luta do Século, de Sérgio Machado. E, na quarta, chegou, lá de Pernambuco, mais um concorrente de fôlego: o musical Super Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos. Com direção de Sérgio Oliveira, o longa-metragem vai às raias da fabulação em sua cartografia de um sertão em transformação, embalado por canções cosmopolitas que alimentam sonhos nos bailes de debutantes. Falta só um doc em concurso: O Jabuti e a Anta, de Eliza Capai, sobre a chegada do progresso entre as populações amazônicas ribeirinhas.

Fora da Première, no baú da retrospectiva Cinema Novo – Interseções – Cinema Marginal, há um filme nacional imperdível nesta quinta, agendado para 17h, na Cinemateca do MAMOs Mendigos, dirigido pelo ator Flávio Migliaccio, com o diretor Ruy Guerra no elenco. A trama segue a educação sentimental e social de uma menina com um grupo de pedintes.