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Séries e TV
Artigo

Yellowjackets volta mais impressionista e ainda brilhante no equilíbrio de tons

Série assume o horror e o valor de choque sem deixar a comédia de costumes de lado

Omelete
4 min de leitura
CC
24.03.2023, às 06H00.
Christina Ricci na 2ª temporada de Yellowjackets (Reprodução)

Créditos da imagem: Christina Ricci na 2ª temporada de Yellowjackets (Reprodução)

Que mistura intrigante que Yellowjackets se mostrou lá no final de 2021, quando sua primeira temporada foi conquistando aos poucos um público insuspeito. Por um lado, como o próprio elenco frisou em entrevista ao Omelete (que, diga-se de passagem, antecipou em meses o hype em torno da série), essa é a história de um grupo de mulheres caracterizadas de forma incomumente intransigente para a televisão - da cronicamente infiel Shauna (Melanie Lynskey) à perigosamente carente Misty (Christina Ricci), passando pela ambiciosa e perturbada Taissa (Tawny Cypress) e a impulsiva e suicida Natalie (Juliette Lewis), aqui estava um leque de protagonistas que você poderia até odiar, mas nunca poderia taxar de unidimensionais.

Essa firmeza no desenho das personagens principais foi até destaque na minha crítica da primeira temporada, onde elogio a série por deixar de lado respostas improváveis e mirabolantes para os seus mistérios em favor de um aspecto dramático fortemente envolvente. Estamos aqui por essas pessoas, no fim das contas, e se construí-las de maneira convincente implica em eliminar o elemento-surpresa de suas ações, bom… é uma troca para lá de justa.

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Acontece que Yellowjackets e sua equipe brilhante não estão satisfeitos com uma coisa só: eles querem, no bom inglês, have their cake and eat it too- ou seja, jogar todos os lados do campo, assumir o título de aquela série de mistério onde as coisas fora da caixinha acontecem ao mesmo tempo em que não perdem de vista as protagonistas e coadjuvantes sólidos que construíram, muito literalmente na base do sangue, suor e lágrimas. E é exatamente isso que o primeiro episódio da segunda temporada, “Friends, Romans, Countrymen”, lançado hoje (24) pelo Paramount+, faz tão bem.

Para começar, o capítulo não perde tempo em mergulhar de volta na vida do quarteto principal. Shauna e o marido, Jeff (Warren Kole), tentam se livrar dos rastros do amante que ela matou enquanto acertam as pontas do que essa traição significa para a vida supremamente confortável que têm um com o outro. Os criadores Ashley Lyle e Bart Nickerson seguem habilmente utilizando o casal para desvelar o lado satírico de Yellowjackets, confiando nos excelentes Melanie Lynskey e Warren Kole (ele cada vez mais confortável na posição de coração tragicômico da série) para garantir que essa paródia suburbana se equilibre exatamente naquele ponto elusivo entre o ácido e o agridoce.

Quem também esbarra na comédia é Taissa, uma vez que a série toma dores consideráveis para reajustar o ângulo pelo qual retratou a sua dupla personalidade (e o seu porão cheio de oferendas macabras, incluindo uma cabeça decepada de cachorro) no primeiro ano. Embora a fragmentação de Taissa ainda assuste, é nas consequências domésticas e resoluções cotidianas para essa fragmentação que a série se concentra no primeiro episódio, examinando como a personagem pode conciliar sua vida familiar e política, de pegar o filho na escola a adotar um novo cãozinho, passando por reuniões com eleitores e comissões burocráticas. Em certo ponto, a poderosa senadora se vê cheirando uma roupa do seu filho na lavanderia, e Tawny Cypress murmura para si mesma com timing perfeito: Isso aqui é uma m*rda triste de divorciada, Tai”.

Enquanto isso, Misty e Natalie continuam no centro nervoso da ação, nos introduzindo à versão adulta de Lottie (Simone Kessell) como uma líder de culto cheia de conversinhas motivacionais que esconde - é claro - uma propensão enervante para sacrifícios humanos e máscaras rituais assustadoras. O caminho tomado pela série para nos embrenhar nesse canto perturbador do seu mundo é, de certa forma, banalizá-lo: tire as elaborações visuais próximas ao grunge que definem os mistérios de Yellowjackets, e o que você tem é só mais uma seita de autoajuda contemporânea, nada distante daquelas que vimos progredir do inócuo ao abusivo em documentários como The Vow ou Holy Hell.

A diretora Daisy von Scherler Meyer, trazida de volta para a equipe após o sucesso merecido do episódio “Doomcoming” (1x09), usa e abusa de cortes bruscos e de inserções musicais ensurdecedoras para mistificar a entrada da jovem Lottie em cena, mas aposta em imagens plácidas - quase propagandísticas - quando se trata da versão adulta da personagem. É um contraste que só poderia funcionar mesmo em Yellowjackets, assistida por mais uma escalação impecável em Simone Kessell, que exala a aura falsamente serena de líder espiritual manipuladora. 

Esta é, afinal, a série de TV que melhor faz malabarismos de tom hoje em dia. E esse pode parecer um feito complicado, mas apostamos que a chave para acertar cada virada de trama, cada escalada de insanidade das personagens principais, cada colisão de mundos entre elas, é uma só: a história importa mais do que tudo. Os choques, as risadas e os arrepios vêm quando eles precisam vir - e você definitivamente não vai sair de frente da TV só porque eles estão demorando demais para chegar.

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