Mandy Moore em This is Us

Créditos da imagem: This is Us/NBC/Reprodução

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This is Us retorna para temporada final sem alarde e sem surpresas

Apesar de reconhecer a iminência da finitude, a estreia do sexto ano foi extremamente fria

08.01.2022, às 14H30.

Dan Fogelman, o criador de This is Us, declarou em uma entrevista que “cabeças iam explodir” nessa temporada final, provocando uma expectativa imensa de reviravoltas e a promessa de que, talvez, último ciclo fosse o mais surpreendente da série. Ainda restam 17 episódios pela frente, mas o tom quase apático da estreia acendeu um pequeno alerta. Sabemos que é injusto cobrar da produção uma surpresa depois de termos criticado a insinuação que a mãe de Randall (Sterling K. Brown) estava viva e iria encontrá-lo. Mas, não é exatamente uma questão de fatos, mas de atmosferas. O primeiro episódio da última temporada de This is Us foi frio.

Quando se trata de últimas temporadas, a maioria dos showrunners enfrentam a empreitada com a obrigação de voltar ao começo. Isso significa que a produção vai começar a se autorreferenciar e a testar o nosso conhecimento da “mitologia” que ela construiu. Contudo, uma vez que a série já faz várias voltas ao passado, o objetivo aqui precisaria ser outro. Fogelman, então, fez uma escolha acertada e começou a falar mais diretamente sobre o impacto da velhice e da finitude. A vida daquela geração que acompanhamos vai acabar, assim como a produção que aprendemos a amar.

Talvez tenha sido por isso que uma doença tão horrível e lenta como o Alzheimer tenha sido escolhida para assolar Rebecca (Mandy Moore). Decisão essa, aliás, que sempre pareceu exageradamente deprimente. This is Us é toda baseada em memórias e os roteiristas decidiram aniquilar uma personagem queridíssima justamente com a perda delas . A vida não é sempre justa, é claro. Conseguimos entender o impacto dramático, mas acompanhar o horror que Rebecca viverá nas próximas semanas não é exatamente animador.

Esse é outro ponto importante. As perguntinhas plantadas na quinta temporada construíram um cenário para a sexta que é complicado. Sabemos que a doença de Rebecca só vai piorar; que Kate (Chrissy Metz) e Toby (Chris Sullivan) podem se separar; que Kevin (Justin Hartley) pode nunca encontrar o amor; e que nem todo mundo chega vivo no futuro. O que sobra das doses de otimismo necessárias para não nos afundarmos na completa desesperança?


This Is... Ending

Através da doença de Rebecca e do acidente da Challenger, em 1986, os roteiristas colocaram a morte como costura dos acontecimentos dessa estreia. É assim que somos lembrados de que todos os personagens estão comprometidos com uma imitação séria da vida, e que isso inclui a hora de lidar com o fim da linha -- que ninguém sabe quando vem, mas que vem. É uma postura dramatúrgica muito severa com Rebecca, principalmente. A matriarca da família segurou tudo perpetuando memórias como ferramenta de impulso. De súbito, ela precisa correr porque essas memórias, uma a uma, serão perdidas ou confundidas com a fantasia.

O acidente da Challenger, que matou todos os tripulantes da nave (incluindo uma professora primária que seria a primeira civil no espaço), foi o detalhe que levou os pequenos Randall, Kate e Kevin a lidarem com a certeza da perda pela primeira vez. O episódio fez uma organização estranha de como isso se refletiu no futuro, com o aniversário deles de 41 anos se fundindo com tramas esquisitas e deslocadas, como a de Randall e do ladrão que parecia ter a mesma doença de Rebecca, Kate notando o fim da relação do chefe e Kevin lidando com a nova vida de Madison (Caitlin Thompson). Os três plots não necessariamente dialogavam daquela maneira fluída, fácil e típica da série.

Apesar da volta surpresa de Toby ter deixado o episódio mais leve e de Kevin ter sido obrigado a lidar com o possível reboot da sua sitcom (o que também acaba sendo divertido para o público), o resultado dessa organização esquisita foi um episódio truncado, sem substância emocional suficiente para os padrões que a própria série estabeleceu. Não aconteceu nada de errado, mas também nada de surpreendente ou impactante. A dor de cabeça que Rebecca sentiu porque todo mundo está preocupado demais com pequenas coisas quando a vida é tão curta é absolutamente legítima. Mas esse roteiro desalinhou suas bases, ficou perdido para começar a falar de um fim e precisava de mais para traduzir esses sentimentos.

Novos episódios de This is Us são lançados semanalmente no Star+.

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