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Halo volta se esquivando de comparações e almejando ser sci-fi de primeira

O showrunner David Wiener direciona a série a uma narrativa de tensão exemplar

Omelete
4 min de leitura
06.02.2024, às 16H45.
Atualizada em 08.02.2024, ÀS 10H00

Mesmo como um dos poucos defensores da primeira temporada de Halo, eu tive que admitir que a série do Paramount+ era uma história em busca de seu ritmo naqueles primeiros episódios. Os passos fundamentais para cavar o lugar da produção dentro do panteão do sci-fi televisivo contemporâneo já foram dados ali, especialmente na aposta convicta que Halo fez na descoberta de humanidade dos seus protagonistas, construindo uma base sólida e familiar para o espectador se apoiar enquanto explora um universo ricamente detalhado, cheio de dilemas éticos fascinantes. Mas faltava segurança nos pulos narrativos que Halo dava a partir dessa base, consistência em seu direcionamento tonal, insight em sua discussão de moralidade bélica. 

Bom, cá estamos nós, dois anos depois… e, aparentemente, o homem que tinha todas as peças para completar o quebra-cabeça de Halo se chamava David Wiener. Elevado à posição de showrunner após uma primeira temporada atribulada nos bastidores (dois roteiristas, Kyle Killen e Steven Kane, entraram e saíram da função durante a produção), ele demonstra - ao menos, nos dois primeiros capítulos do novo ano - que tem segurança, consistência e insight de sobra para injetar em uma história que começou com o pé direito, mas precisava entender melhor a força de suas pernas.

A chave fundamental que Wiener vira com essa segunda temporada de Halo é estabelecida logo nas primeiras cenas: seis meses se passaram desde os eventos do final do primeiro ano, o time de Spartans liderado por Master Chief/John (Pablo Schreiber) está de volta ao campo, mas é mantido em rédea curta pelo novo chefe das operações militares da UNSC, o cínico James Ackerson (Joseph Morgan), que logo se mostra tão cheio de segredos quanto sua predecessora, a Dra. Halsey (Natascha McElhone). Mas onde está Halsey? O que aconteceu com Cortana, que havia tomado o controle do corpo de Chief no fim do primeiro ano? E Makee, está morta mesmo?

Tudo ao seu tempo, parece nos dizer Wiener, porque agora é hora de ver Chief enfrentando hordas de alienígenas no planeta Sanctuary e entrando em conflito direto com Ackerson para descobrir os novos e sinistros planos do Covenant - que, como já adiantamos aqui no Omelete, incluem um ataque iminente a certo planeta. O roteirista se mostra hábil naquele jogo de revelação e obscurecimento fundamental em toda narrativa de mistério (porque, sim, é o que Halo se torna nesse início de temporada), se deliciando na brincadeira de dar indícios e informações pela metade para que o espectador fique curioso para descobrir como todas as peças se encaixam.

Wiener também revela ter mão leve ao conduzir a história de Halo para abordar as questões mais densas que envolvem seus personagens e a guerra na qual eles estão metidos. No texto dele, é mais fácil entender o predicamento dos Spartans, divididos o tempo todo entre o orgulho simbólico absoluto dos heróis e a humilhação do soldado deixado no escuro pelos seus superiores, que pouco entendem da realidade da guerra. Paira sobre eles a sombra de um sacrifício que foram treinados para desejar, mas que pouco significa no grande esquema das coisas, e que pouco faz para mitigar o peso dos arrependimentos que eles carregam, no corpo e na mente, depois de cada batalha.

A melhor parte da segunda temporada de Halo é como cada uma das linhas narrativas tecidas por Wiener e sua equipe parece se encaminhar para essa mesma direção, irradiando a energia e o propósito de uma história contada em uníssono por um grupo de artistas talentosos, firmemente apontados para uma mesma visão. Daí que a urgência da câmera na mão de Debs Paterson (Willow), que assina a direção dos dois primeiros episódios, faz o coração acelerar mesmo que o uso indiscriminado do CGI deixe os corpos dos Spartans um pouco mais leves do que deveriam ser. O espectador não poderia ligar menos para uma quebra de realismo tão prosaica quando se vê realmente envolvido na tarefa sublime de acreditar na história que se desenrola na tela.

E se essa não é a magia da boa ficção científica, bom… eu não sei qual é.

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