Pablo Schreiber tem um recado para os fãs de Halo que não conseguem se acostumar com seu Master Chief andando por aí sem o capacete, uma escolha narrativa que foi polêmica na primeira temporada da série do Paramount+. O recado, no caso, é: os incomodados que se retirem.
“As pessoas têm que se acostumar com algumas escolhas que fizemos. Estabelecemos no primeiro episódio que Master Chief vai tirar o capacete na nossa série, e é assim que continuamos na segunda temporada”, disse ele ao Omelete durante nossa visita ao set da série, em Budapeste (Hungria). “Até porque é uma escolha que tem muito a ver com o próprio tema da nossa história, com a dinâmica entre as identidades de John e de Chief. Se você não está a bordo com isso, é melhor desistir da nossa série”.
O ator acrescentou que, de fato, a segunda temporada é “ainda mais seletiva” com os momentos em que Master Chief está com o capacete. “Para mim, é importante que Chief seja Chief quando está em cenas de ação, que o espectador viva a experiência dele no meio da batalha. E essa experiência, é claro, não inclui tirar o capacete”, explicou Pablo. “Não quero mostrar a minha cara só por mostrar, não é uma questão de vaidade. Mas, quando John é John, você precisa vê-lo”.
O astro (e produtor) da série, no entanto, estendeu um convite aos fãs mais mente aberta dos jogos, que mesmo assim não curtiram a primeira temporada de Halo: voltem e tentem mais uma vez. Afinal, muita coisa mudou do primeiro ano para o segundo.
“O feedback que recebemos foi gigantesco em volume”, apontou ele. “A nossa série foi recebida de forma incrível fora dos EUA... nós tivemos um bom público dentro de casa, mas os números que Halo fez globalmente são inacreditáveis. O que estou dizendo é que ficamos muito felizes com o resultado do nosso trabalho, de um ponto de vista comercial. Criativamente, estamos sempre nos aperfeiçoando para fazer uma série da qual podemos ter cada vez mais orgulho”.
“Se alguém tentasse ser fiel ao jogo, seria uma tragédia”
O tom assumido pelo protagonista diante das críticas reverbera por toda a equipe envolvida em Halo, a começar pela produtora Kiki Wolfkill, que por anos comandou o desenvolvimento dos jogos da franquia na Microsoft. “Sempre existe a tensão entre querer contar uma história para o grupo de fãs que já conhece esse universo, mas também querer levar o público para uma jornada totalmente diferente”, admitiu ela ao Omelete.
“O fã pode acompanhar a história que já conhece sempre que quiser, nos games, nos livros... eles estão lá para serem visitados e revisitados”, argumentou ainda a produtora. “Entendo que muita gente está esperando que sigamos caminhos pré-definidos, e talvez seja difícil para essas pessoas conciliarem-se com o fato de que não estamos fazendo isso. É um público diverso, mas isso também é verdade nos games. Quando introduzimos algo novo, sempre tem uma parte do público que adora a ideia, e uma parte que odeia”.
O diretor Otto Bathurst, por sua vez, argumenta que as experiências de jogar Halo e de assistir a Halo são diferentes não por escolha, mas por necessidade. “Estamos falando de um videogame, o que significa que o objetivo dele é te levar de A para B, de um tiroteio para o próximo. Claro que alguns games têm mais foco na narrativa, mas ainda é um grande pulo para um drama de TV que, quando terminar a segunda temporada, terá 16 horas de duração. Você não pode passar 16 episódios de televisão dentro de uma única perspectiva, em primeira pessoa. Acho que, se alguém tentasse, seria uma tragédia”, explicou ele.
Na visão de Bathurst, inclusive, o seu trabalho é abraçar esse contraste entre as mídias, ao invés de fugir dele: “Estamos sempre perseguindo aquela sensação excitante que faz as pessoas continuarem jogando os jogos de Halo. Mas, como diretor, você tem que aceitar que existe uma diferença, e pensar: 'É, não estamos fazendo exatamente o que o jogo faz, estamos contando a nossa própria história dentro daquele universo'”.
“Nos importamos tanto quanto vocês”
É verdade que, apesar de abraçar o papel de Master Chief e assumir um papel de liderança no set, Pablo Schreiber não é “um gamer por natureza”, em suas próprias palavras. “A minha preparação foi menos sobre jogar e mais sobre estudar toda a mitologia da franquia, ler muito e assistir a tudo que foi feito dentro dessa marca. Ali está a nossa história, certo? Jogar os jogos demoraria tanto tempo, e isso não seria produtivo para o meu processo”, justificou ele em nossa conversa.
Sobrou, portanto, para Joseph Morgan, recém-chegado ao elenco de Halo na pele do Coronel James Ackerson, a missão de representar o ponto de vista do fã no set da 2ª temporada. “Houve momentos em que eu me senti entrando no mundo dos games, sabe? Eu estava lá filmando e do meu lado esquerdo tinha um Warthog, do lado direito um Mongoose, na minha frente o Master Chief… Tive que me beliscar algumas vezes! Foi muito empolgante para mim nesse sentido”, admitiu ele.
“Por outro lado, eu acho que a série pega esses pedaços da mitologia dos games e vai para um lugar novo”, continuou. “Nós realmente entramos na cabeça dos personagens, há um desenvolvimento maior do que acontece nos jogos. E isso para mim, como fã, como alguém que já jogou múltiplas vezes, é muito interessante. Eu quero conhecer melhor essas pessoas!”.
Confrontado com as críticas dos fãs à primeira temporada, Morgan assumiu uma posição diplomática: “Eu acho que as pessoas precisam entender que nós nos importamos com Halo pelo menos tanto quanto elas. Tenho certeza que uma série em que Master Chief nunca tire o seu capacete é possível, mas não é a nossa série”.
Os dois primeiros episódios da segunda temporada de Halo chegam ao Paramount+ em 8 de fevereiro, seguidos por capítulos semanais às quintas-feiras.
*O jornalista viajou a convite da Paramount.