Séries e TV

Artigo

Globo muda sua estratégia com séries para rivalizar com TV por assinatura

Filhos da Guerra e a primeira de muitas que vêm por aí

01.09.2015, às 14H45.

Dos anos 1980 até meados dos anos 90, as séries de TV para muitos dos que não podiam pagar uma TV por assinatura se resumiam aos canais abertos, que no seu jeito burocrático de ser, tratavam essas produções importadas como opções de investimento seguro. Honestamente falando, para os canais abertos, as séries eram audiência garantida sem custeio de produção, já vinham prontas e a crítica "carinhosamente" chamava de "enlatados americanos".

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Anos depois a coisa mudou de figura. O especulado modelo cristalizado de sitcoms e dramas familiares/médicos/policiais, ganhou profundidade a partir da HBO e reeducou os estúdios e canais a pensarem televisão não como um recheio seguro para a programação, mas como uma forma de arte. Aqui no Brasil a, Globo passou a pensar do mesmo jeito, investindo em identidade nacional, produzindo as próprias histórias e reiterando seu papel de formadora de plateia.

Semana passada, o Omelete foi convidado pelo canal para um encontro de lançamento da minissérie alemã Filhos da Guerra (Unsere Mütter, Unsere Väter no original). Exibida originalmente em 2013 e ganhadora de muitos prêmios ao redor do mundo, a produção foi dividida em cinco partes e entrou na programação em 31 de agosto, logo após o Programa do Jô, como parte das menções ao aniversário do evento da Segunda Guerra Mundial. O encontro reuniu vários veículos de mídia influenciadora e o que a gerência do departamento de programação buscava era um diálogo sobre séries na TV aberta, com quem discute séries em geral no país.

A oportunidade foi perfeita para tirar dúvidas e entender como a exibição de produtos seriados importados é encarada pela Globo hoje em dia. Esse é um momento importante, depois que as exibições das temporadas de The Flash e Gotham foram recebidas com entusiasmo pela emissora, ainda que dentro dessa pouco acessível faixa de horário.

O Gerente de Programação de Filmes Paulo Egydio explicou que já faz algum tempo que a Globo busca excelência no conteúdo seriado que é exibido pela rede. Com detalhes, ele nos contou que o seu trabalho e de sua equipe é o de assistir e acompanhar todos os produtos relevantes do mercado, focando no que for mais interessante e viável para o layout do canal.

"Sabemos que a audiência que consome um produto como Filhos da Guerra é uma audiência qualificada e vocês falam para essa audiência. Por isso buscamos esse diálogo, por isso Filhos da Guerra é nosso pontapé inicial para transformar exibições como essa num sucesso como os que vemos nos Estados Unidos e na Europa", explicou Egydio.

Ele também falou sobre duas das maiores reclamações ouvidas pelo público de séries que as acompanha pelo canal: o horário e as exibições diárias. "Na TV aberta as regras de faixa etária são bem mais duras que na TV por assinatura. Lá, um programa com classificação etária de 18 anos pode ser exibido às 18h sem nenhum problema. Na TV aberta não...", contou. "Qualquer produto com classificação de 16 anos só pode ir ao ar depois da meia-noite. Além disso, como precisamos respeitar a janela de exibição de produtos que, quando são liberados [para nós], já passaram pela TV a cabo e pela internet, não faria sentido manter o formato de apresentação semanal, já que correríamos o risco do espectador perder o interesse conforme passassem as semanas", disse.

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Na conversa, também falou-se sobre como essa "audiência qualificada" condensou seu hábito de ver séries às redes sociais como o Twitter. A partir da exibição de Filhos da Guerra, a Globo também promoverá a divulgação maciça de hashtags e até mesmo as colocará no canto da tela durante a exibição dos episódios, como já é feito na televisão americana. A ideia é se aproximar mais do público que valoriza a exibição na TV aberta, acompanhando a recepção, os comentários, dialogando com o consumidor e evitando que a apresentação desses títulos soe apenas como um "tapa buracos" na programação.

Até insistimos para saber quais serão os próximos sucessos adquiridos, mas Egydio manteve o mistério, garantindo apenas que a intenção é manter o nível de produções premiadas e bem sucedidas. Na ocasião, pudemos assistir ao primeiro episódio e o resultado foi bem surpreendente. A reedição feita pelo canal eliminou as chances de exaustão do espectador, que teria três episódios de uma hora e meia e agora terá cinco de apenas 50 minutos. Mas Paulo Egydio garante: "Não descartamos nenhum material. Nem mesmo das séries que são exibidas no modelo diário."

Filhos da Guerra fala da história de cinco amigos (quatro alemães e um judeu) que têm suas vidas transformadas pelo conflito. Além da fotografia belíssima e do conteúdo muito forte das cenas, o diferencial da minissérie é a perspectiva alemã do evento. Quatro dos protagonistas são pessoas com as quais nos identificamos e nos importamos, ainda que eles estejam do lado que consideramos errado, precisando lidar com ele de forma patriótica. Sabemos que a dublagem pode ser um fator desanimador para alguns, mas o áudio original estará disponível para os que quiserem arriscar um closed caption (já que o idioma é o alemão).

O emblemático encontro terminou com a promessa de muitos outros encontros e diálogos entre a emissora e as mídias especializadas. A impressão que ficou foi a de que cada vez mais a TV passou a ser um canal de análise social e construção de sentido. Hoje em dia o espectador não é só um mero espectador e a Globo, ao nos convidar para esse encontro, surge mais uma vez na vanguarda desse tipo de comunicação.

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