Cena de Klaus

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

Netflix

Artigo

O pioneirismo de Klaus: por que a animação merecia o Oscar

Vencedora de sete prêmios no Annie Awards, produção da Netflix ousou ao redefinir os caminhos para a animação 2D

18.02.2020, às 15H16.

“Todos sabemos a qualidade da Pixar, mas a terceira continuação de Toy Story não me parecia nem de longe tão relevante e inovadora quanto Klaus”. A afirmação do animador brasileiro Carlos Luzzi resume bem a reação do público e da crítica ao assistir à Academia premiar a nova jornada de Woody e Buzz como Melhor Animação no Oscar 2020. Reconhecido com sete troféus pelo Annie Awards, maior prêmio especializado em animação, o filme da Netflix chegou ao Dolby Theatre como o grande favorito, sobretudo pelo seu grau de inovação.

Diferentemente do que se tornou convenção, Klaus voltou às origens e contou sua adorável e divertida história natalina através da animação 2D. É verdade que os quadros não foram mais criados com lápis e papel, como nas produções clássicas da Disney. Mas a tradição não se perdeu só porque se usou tablets e canetas. Pelo contrário. Ela encontrou um novo respiro graças ao rendering da animação, que foi capaz de simular iluminação, algo que até então só era vista em produções 3D. Mas, tão relevante quanto, Klaus revelou que o 2D segue sim como uma técnica viável.

“No CG há uma dificuldade grande a ser vencida para traduzir os concepts, que são pintados à mão, para um ambiente com luz criada digitalmente. Horas e horas a fio de testes, e muito bate-e-volta são necessários para chegar na reprodução ideal do conceito inicial”, explica Luzzi, que trabalhou no filme do diretor Sergio Pablos criando as performances dos personagens. “Em Klaus, o processo foi mais direto: uma vez criada a paleta de cores, a tradução foi quase imediata e sem perda nenhuma, pois é da pintura para a pintura”.

Em outras palavras, o 2D ganhou mais agilidade, entregando um produto com uma iluminação tão qualificada quanto o CG. Não à toa, muitos espectadores não sabiam dizer ao certo se era desenho ou computação gráfica.

“A retomada [do 2D] já estava em curso, mas de forma tímida através dos maravilhosos O Avião de Papel, O Vigia da Represa, Feast e, recentemente, o Homem-Aranha: No Aranhaverso, analisa o artista brasileiro Gabriel Soares, responsável pelo color key da animação. Ele, assim como outros 300 profissionais de diferentes nacionalidades, teve como função definir as cores para cada cena conforme a luz e a emoção necessária para aquele momento do filme. “Em todas essas produções já víamos a intenção clara de trazer um traço mais artístico e artesanal para grandes produções, mas foi em Klaus que isso se deu por completo”.

Para Soares, o lançamento de um longa como este serve como incentivo para os artistas que trabalham com 2D. Mas um projeto tão ousado não teria sido possível sem um estúdio por trás que estivesse disposto a se arriscar. “É importante dizer que Klaus foi recusado por vários estúdios grandes, mas a Netflix encarou a ideia como algo inovador e de grande potencial. Sendo assim, vejo o streaming com um papel importante de patrocinadora de projetos de vanguarda”.

De fato, a Netflix investiu e muito em projetos originais e o reflexo foi percebido no Oscar 2020. Embora tenha tido apenas duas vitórias, as produções do streaming receberam, no total, 24 indicações. Entre elas, outra animação, a francesa Perdi Meu Corpo - curiosamente, um filme CG com visual 2D.

Carlos Luzzi dá créditos também ao estúdio SPA, que conseguiu, com ferramentas já existentes, reproduzir o visual das artes conceituais nas telas. “Parece mágica, mas já estava tudo lá. Precisou alguém com coragem e criatividade o suficiente para juntar tudo e mostrar 'olha, é possível'. Hoje, caíram praticamente quaisquer barreiras para se contar uma história em animação. Tudo é válido”.

Segundo o animador, a busca por inovação é marca da indústria desde a era do Bambi e Pinóquio. Logo, ainda que o desenho animado tenha ficado no que ele chama de ostracismo, nada para completamente e Klaus é prova disso. “Da minha parte, foi um dos filmes mais importantes em muitos anos por ter levado a diante uma forma de arte, e agradeço por ter tido uma pequena parte nisso”, disse Luzzi. “De toda forma, nem sempre o melhor leva o Oscar. Tenho certeza de que não para por aqui, outros filmes como Klaus virão. Uma nova fase está inaugurada”.

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