A Netflix confirmou na última sexta-feira (17) que trabalhava com David Lynch em uma nova série do diretor antes de sua morte. Em seu perfil no Instagram, o co-CEO da plataforma Ted Sarandos falou sobre o projeto enquanto prestava homenagem ao cineasta, que morreu na última quinta-feira (16) aos 78 anos.
"Ele veio à Netflix e apresentou o projeto de uma minissérie que nós pulamos de cabeça", escreveu Sarandos na rede social. "Era uma produção de David Lynch, recheada de mistério e de riscos, mas nós queríamos embarcar nessa viagem com este gênio. Primeiro a Covid, depois algumas incertezas de saúde levaram o projeto a nunca ser produzido, mas nós deixamos claro que assim que ele estivesse disposto, nós faríamos."
Embora o executivo não mencione datas, a revista Variety aponta que o projeto pode ter nascido em novembro de 2020 com os nomes "Wisteria" e "Unrecorded Night". Sites de monitoramento de produção na época apontavam que o programa teria 13 episódios, todos dirigidos por Lynch e com fotografia de Peter Deming, que colaborou com o diretor em Cidade dos Sonhos e A Estrada Perdida.
Em 2024, Lynch disse em entrevistas que o seu diagnóstico de enfisema havia o impossibilitado de trabalhar em sets de filmagem.
Após trabalhar muitos anos como pintor e diretor de curtas, Lynch estreou com seu primeiro longa-metragem Eraserhead (1977), que virou fenômeno em sessões da meia-noite nos EUA e se estabeleceu uma forte reputação cult com o passar dos anos.
Logo em seguida, ele foi contratado pela produtora de Mel Brooks para escrever e dirigir O Homem Elefante (1980), inspirado na história real de John Merrick, que sofria de deformações congênitas no rosto. Outro sucesso de público e crítica, o drama recebeu oito indicações ao Oscar, incluindo a primeira de Melhor Diretor da carreira de Lynch.
Os dois sucessos garantiram orçamento para um terceiro filme, que infelizmente não obteve os mesmos louros. Em 1984, ele dirigiu a primeira versão cinematográfica de Duna, de Frank Herbert. O filme custou US$ 40 milhões, mas não obteve êxito em bilheteria e nem agradou aos fãs de obra.
As coisas melhoraram já no filme seguinte, Veludo Azul, de 1986, uma de sus produções mais aclamadas, que definiu o estilo surrealista e sexualizado que viraria sua marca registrada. A guinada se manteve em 1990, com Coração Selvagem, que também garantiu uma Palma de Ouro para o diretor no Festival de Cannes.
No mesmo ano, ele partiu para a televisão com Twin Peaks, que combinou investigação policial e drama surrealista para conquistar o público e garantir várias indicações ao Emmy. Apesar do cancelamento da série na segunda temporada, que contou com menos envolvimento de Lynch, a franquia continuou com filme derivado Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992) e com o revival Twin Peaks: O Retorno (2017).
Lynch voltou aos cinemas com títulos Estrada Perdida (1997), Uma História Real (1999), Cidade dos Sonhos (2001, pelo qual o diretor ganhou novo prêmio em Cannes) e Império dos Sonhos (2006), seu último longa-metragem.
Lynch foi casado quatro vezes. Ele deixa duas filhas e dois filhos.