Netflix

Crítica

Cobra Kai - 3ª Temporada

Mantendo o bom humor, série cresce com ar mais dramático e reviravoltas intensas para entregar melhor temporada até agora

Omelete
4 min de leitura
01.01.2021, às 10H10.
Atualizada em 14.01.2021, ÀS 14H37

Na avalanche de reboots, remakes e sucessores que inundou Hollywood nos últimos anos, Cobra Kai talvez seja a que melhor entendeu como conciliar nostalgia e inovação. Sem muitas expectativas por ser uma produção de baixo orçamento do selo Youtube Originals, a série de Karatê Kid não só trouxe de volta seu elenco clássico, como também introduziu uma nova geração e colocou na mesa o debate de o quão saudável é estar apegado ao passado. Para a terceira temporada, a produção mudou de casa para a Netflix, e também levemente sua abordagem ao saudosismo. O resultado é a melhor leva de episódios até o momento.

Além do fato de que se tornou um fenômeno das maratonas ao ser relançada pelo streaming, a curiosidade pelos capítulos inéditos atingiu níveis altíssimos pela tensa conclusão do ano dois, com Miguel (Xolo Maridueña) entrando em coma após ser agredido por Robby (Tanner Buchanan). Assim, a trama se dá conta de que precisa adotar um tom um pouco mais dramático, já que naturalmente os senseis Johnny Lawrence (William Zabka) e Daniel LaRusso (Ralph Macchio) assumem a culpa pelos erros de seus discípulos.

Anteriormente, o programa já havia trabalhado a noção de que viver no passado, seja comemorando glórias ou lamentando fracassos, é algo que afeta a vida de ambos, mas esse evento traumático é uma força de mudança para eles. Johnny entende que foi um pai ausente para Robby e pretende compensá-lo, mas se vê dividido por querer estar presente na recuperação de Miguel. Esse impasse ressalta a dificuldade do sensei em entender como realmente “crescer”, e atender as altas expectativas que coloca para si mesmo. O arco de Daniel, por sua vez, soa quase como o oposto, com a imaturidade - especialmente emocional - de LaRusso criando rupturas em sua vida pessoal e profissional. Há ainda a oportunidade de uma improvável reunião quando os dois percebem que sua teimosia em comum está presente em seus respectivos discípulos, fadados a repetirem os mesmos erros e desafetos do passado.

Ora trabalhando juntos, ora se bicando (como sempre), a dupla parte em uma verdadeira jornada de amadurecimento, mas que não significa abrir mão de sua essência. Na contramão do que prega o vilão Kreese (Martin Kove), que busca a força através de frieza e emoções reprimidas, o desafio de Johnny e Daniel é crescer pela aceitação de suas fraqueza, e exaltação e melhoria das qualidades - mesmo que o processo seja repensar ideias, noções e rivalidades do passado.

Se nas temporadas anteriores Cobra Kai brincava com a própria condição de viver na sombra da trilogia clássica de filmes, aqui há um esforço em argumentar que é preciso seguir em frente. O terceiro ano é o mais corajoso em como utiliza o passado dos personagens. Há mais retornos de atores dos longas originais, especialmente de Karatê Kid 2 (1986), mas sua utilização faz de tudo para não se prender ao fan service. Sejam amores ou rivalidades antigas, os retornos exaltam a necessidade de evolução nos protagonistas, sem esquecer memórias e aprendizados, mas sim buscando reconciliação e abraçando a imprevisibilidade do presente e do futuro.

É bom esclarecer que, ainda haja mais dramaticidade, o que surpreende é como a série introduz esses elementos de forma orgânica, sem abrir mão do tom fanfarrão e do estilo retrô brega que a tornam tão única. Tudo se mantém conduzido com bom humor, autêntico ao carisma e personalidade do elenco. Ainda que tenha algo de muito valor a dizer, raramente parece que Cobra Kai está lecionando algo ao espectador, que aprende junto com os personagens na tela.

Essa abordagem permite que temas mais sérios sejam tratados sem que pareça inconsistente, e acrescenta valor emocional ao entretenimento do programa, enquanto também garante mais profundidade a todos. A raiva de Tory (Peyton List) é explorada através de sua delicada situação familiar, e a desafiadora recuperação de Miguel tem toques bastante trágicos. Até Kreese (Martin Kove), que sempre serviu como vilão de maldade pura, se torna mais dimensionado ao ter seus traumas na Guerra do Vietnã evidenciados em flashbacks, que explicam como ele se tornou esse líder impiedoso. Mais do que nos outros anos, aqui é bastante comum começar um episódio engajado na trama, prestigiar as cenas de porradaria, e terminar com lágrimas nos olhos.

É perceptível que Cobra Kai cresce mais a cada ano pelo carinho de sua produção. Com o status de série cult, o projeto deu a chance à William Zabka e Ralph Macchio revisitarem Karatê Kid por novos olhares, e criarem dinâmicas inéditas a partir disso. Todo esse potencial é atingido na terceira temporada, que prova que é possível obter resultados ainda melhores a partir de pequenos ajustes no que já funcionava. Mesmo entre clichês e infinitas conveniências narrativas, o seriado continua ridiculamente divertido, e agora com seu enorme coração cada vez mais evidente.

De certa forma, faz muito sentido que este seja o ápice. Há alguns meses, o programa passava por uma pequena crise quando sua emissora original, o Youtube, cancelou todo o seu line-up de originais. Considerando que a produtora Sony Pictures Television já havia rodado o terceiro ano quando foi forçada a buscar uma nova casa, é possível imaginar o desejo de cair lutando caso ali fosse o fim, entregando pela última vez entretenimento de alto nível, uma jornada emocional e uma conclusão de arrepiar. Felizmente, como bem entendeu a Netflix, um Cobra Kai nunca morre, e que continue assim.

Nota do Crítico
Excelente!
Cobra Kai
Em andamento (2018- )
Cobra Kai
Em andamento (2018- )

Criado por: Josh Heald e Jon Hurwitz

Duração: 5 temporadas

Onde assistir:
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