Quando Bridgerton chegou à Netflix em dezembro de 2020, uma coisa chamou a atenção do público. Além dos belos cenários e figurinos de época, e da história de amor de Daphne e Simon, a série gerou discussões ao colocar pessoas negras em papéis de destaque dentro da aristocracia. Enquanto a comunidade de fãs dos livros abraçou a mudança, parte do público questionou a escolha, afirmando que essa não era a realidade do período retratado.
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Rainha Charlotte em Bridgerton
Mas será que não era mesmo? Uma pesquisa um pouco mais aprofundada mostra que alguns personagens reais mostrados na produção não eram exatamente brancos, como a rainha Charlotte. Interpretada nas telas por Golda Rosheuvel, essa personagem histórica pode ter tido, sim, uma ascendência africana. O historiador Joel Augustus Rogers, que contribuiu bastante para resgatar a história africana, foi o primeiro a falar sobre a descendência de Charlotte, afirmando que ela “claramente mostrava uma linhagem negra”.
Outro nome que falou sobre isso foi Mario De Valdes y Cocom, pesquisador do documentário Frontline, da BBC, que também estudou as origens da rainha. Segundo ele, Charlotte era descendente de Margarita de Castro y Sousa, que fazia parte de uma ramificação negra da Casa Real Portuguesa. Em seus estudos, ele ressalta que os retratos da rainha a mostravam com traços negros, e aponta algo importante: é bem possível - e provável - que a pele de Charlotte tenha sido colocada de forma mais clara nas pinturas, para “esconder” sua verdadeira origem.
Queen Charlotte of Mecklenburg-Strelitz was a real person and Queen of Great Britain and Ireland from her marriage to King George III. Look Her Up! pic.twitter.com/iB50vyWgCP
— Victoria | Social Media + Design 🇭🇹 (@th3flowergarden) December 27, 2020
O ponto levantado pelo historiador é um dos argumentos de quem defende a representação de Charlotte como negra em Bridgerton. Para eles, houve um apagamento histórico da comunidade negra, que foi refletido por anos no entretenimento e, por isso, muitos acham “estranho” ter pessoas negras em papéis de destaque em produções de época, embora isso devesse ser algo mais comum.
Embora seja difícil determinar com precisão qual é a origem da rainha Charlotte, Bridgerton acertou ao representar a personagem - e vários outros - com atores e atrizes negras. O apagamento histórico da cultura e ancestralidade negras é uma realidade, por isso é importante aproveitar cada oportunidade para falar mais sobre o tema e resgatar o contexto histórico que foi perdido. Um bom exemplo disso é como a personagem traz traços da cultura africana em seus penteados e roupas - tudo dentro do contexto da aristocracia do século 19.
Com o sucesso de crítica e público, é provável que Bridgerton ganhe uma segunda temporada e continue com um elenco diversificado. Com cada vez mais personagens negros ocupando espaços, resta esperar pelo dia em que isso será tão comum que não será mais motivo de notícia.