Todos os anos, o Oscar apresenta uma seleção eclética - em gênero, orçamento, nacionalidade e premissa - de curtas-metragens em live-action para compor a sua lista de indicados na categoria. Esses filmes, muitas vezes produzidos de forma independente, dificilmente encontram distribuição comercial, seja nos cinemas ou no streaming - de forma que uma indicação ao prêmio da Academia é um dos poucos caminhos possíveis para chamar a atenção do público.
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Só por isso, já é bacana pensar que eles chegaram até aqui, e que I'm Not a Robot foi consagrado como o melhor do ano pela Academia. Mas os curtas indicados ao Oscar 2025 são bons? O Omelete assistiu a cada um deles, e abaixo você pode conferir o nosso ranking, com uma breve crítica de cada um.
5. Anuja
O endosso da Netflix, que venceu o Oscar de melhor curta ano passado com A Incrível História de Henry Sugar, com certeza elevou o perfil de Anuja. Realizado pelo filósofo Adam J. Graves, com base na pesquisa de sua esposa, a artista plástica Suchita Mattai, o filme é um pedaço experimental de cinema que deixa as fraquezas narrativas de seu time de criação aparentes - mas que ainda pode angariar fãs por conta do conflito potente que coloca diante de suas protagonistas, irmãs órfãs que trabalham em uma fábrica de tecelagem em Délhi, na Índia. Tem seus momentos, principalmente por conta das performances carismáticas de Sajda Pathan e Ananya Shanbhag, estreantes recrutadas nas periferias onde se passa a história, mas é o curta mais fraco da turma de 2025.
4. The Last Ranger
Em contraste ao filme anterior da lista, The Last Ranger é de longe a produção mais sofisticada da categoria este ano. Realizado com um orçamento maior, com uma fotografia polida e uma trilha sonora evocativa, assinada pelo hollywoodiano John Powell (que inclusive concorre à estatueta este ano por Wicked), a produção se esforça para criar uma história valorosa em torno da caça ilegal em uma reserva selvagem na África do Sul - mas o pouco tempo para nos convencer da envergadura dramática de seus personagens, combinado aos clichês que a diretora Cindy Lee usa no clímax, fazem com que a choradeira funcione menos do que o esperado. Vale assistir mais pela beleza dos cenários e dos animais registrados no filme.
3. I’m Not a Robot
Tranquilamente o ponto fora da curva da seleção do Oscar 2025 quando se trata dos curtas metragens live-action, o holandês I’m Not a Robot extrapola uma ansiedade muito contemporânea (e se, no meio de um daqueles testes de “não sou um robô” que temos que completar na internet, descobrimos que… bom, que somos um robô?) em um discurso sci-fi esperto sobre dominação, o que a define dentro de nossas relações, e o que nos leva a buscá-la dentro delas. A performance de nervos de aço da protagonista Ellen Parren ancora essa exploração de paranoia, e mais tarde de dinâmicas de poder entre gêneros e classes, em um plano muito humano. Em 22 minutos, Robot fala muito mais e muito melhor com a contemporaneidade do que Acompanhante Perfeita, longa recente com o qual divide muito de sua premissa.
2. A Lien
O timing sombriamente oportuno de A Lien, que chega ao Oscar 2025 justo no momento em que a segunda administração Donald Trump volta a mexer com as leis de imigração de maneiras cada vez mais extremas, pode conduzir o filme dos irmãos David Cutler-Kreutz e Sam Cutler-Kreutz à vitória na categoria de curtas metragens - mas não dá para dizer que ele não tem seus próprios méritos como cinema. Escrito, fotografado (pelo ítalo brasileiro Andrea Gavazzi) e montado com precisão como exercício de ansiedade, A Lien mergulha na burocracia governamental interminável e rígida que permite e endossa as violações de direitos humanos que um governo como o de Trump está disposto a ordenar. Sem respostas fáceis ou dramatizações exageradas, a produção joga a quantidade certa de luz, durante pouco mais de 15 minutos, em uma situação exasperantemente real.
1. The Man Who Could Not Remain Silent
Enquanto seus concorrentes se esforçam - com resultados de qualidade variável - para construir narrativas em volta da contemporaneidade, The Man Who Could Not Remain Silent triunfa sobre eles ao passar impressionantes (mas enxutos) 13 minutos olhando de soslaio para a história, e tirando dela uma lição inquietante. Em 1993, forças paramilitares bósnias pararam um trem e tiraram dele 18 muçulmanos que seriam mais tarde assassinados por seus captores. Tomo Buzov foi o único não-muçulmano que se revoltou contra o ataque, impedindo que um 19º rapaz fosse sequestrado pelos militares ao se oferecer para ir no seu lugar. O filme de Nebojša Slijepčević, no entanto, não é sobre ele.
The Man Who Could Not Remain Silent centra, ao invés disso, em Dragan (Goran Bogdan), um dos companheiros de cabine de Buzov no trem, um rapaz centrado e silencioso que modela força estoica masculina quando a situação começa a deteriorar, garantindo ao jovem muçulmano sentado à sua frente que nada acontecerá a ele. Na hora da verdade, no entanto, Dragan encolhe - e, conforme Buzov tem seu momento de coragem e empatia, a câmera de Slijepčević se mantêm grudada no protagonista, condenando a sua inércia e o seu medo, contrastando com maestria um homem com pose de honrado e um homem com honra de verdade.
“Qual deles somos nós?”, é a pergunta óbvia que o filme faz, especialmente em um contexto político de extremização que não tem nada de ultrapassado. Realizado sobriamente, com uma fotografia que emoldura em sombras uma história chocante que aconteceu em plena luz do dia, The Man Who Could Not Remain Silent aproveita melhor o formato de curta-metragem do que os seus concorrentes - ao invés de contar uma história, ele faz uma observação -, e se agiganta diante deles também pela contundência de sua retórica.