Sophie Thatcher em Acompanhante Perfeita (Reprodução)

Créditos da imagem: Sophie Thatcher em Acompanhante Perfeita (Reprodução)

Filmes

Crítica

Acompanhante Perfeita empolga com suas surpresas, mas não escapa do vazio

Quando os choques passam, filme com Sophie Thatcher tem pouco ao que se segurar

Omelete
4 min de leitura
06.02.2025, às 08H03.

Acompanhante Perfeita tem sido alardeado, em materiais de divulgação por aí, como o novo suspense “do time por trás de Noites Brutais. Vale esclarecer a conexão: o roteirista e diretor daquele filme, indiscutivelmente um dos melhores e mais inventivos horrores de 2022, é Zach Cregger, figura hollywoodiana que replicou a trajetória de Jordan Peele e David Gordon Green, entre tantos outros, ao começar carreira na comédia e migrar com sucesso para o terror. Cregger originalmente mirou em Acompanhante Perfeita como o seu segundo longa na direção, mas acabou dando vários passos para trás durante o desenvolvimento do projeto, se resignando à posição de produtor para que o amigo Drew Hancock (Suburgatory) pudesse fazer sua própria estreia na direção.

De certa maneira, no fim das contas, essa “gentileza” foi um presente de grego. Não que Acompanhante Perfeita não tenha qualidades, mas ele não tem nada da eloquência e da fluência que Noites Brutais demonstrou ao manipular chavões e expectativas de gênero para se posicionar como um filme de terror genuinamente excitante em suas escolhas, seja estruturais ou narrativas. E não é por falta de tentativa, uma vez que o roteiro (assinado também por Hancock) aposta altíssimo nas reviravoltas, em nos convencer de sua esperteza deixando pistas e migalhas pelo caminho, desenhadas para alimentar as surpresas genuinamente chocantes que vão se desdobrando sucessivamente a partir do momento em que cruzamos o limiar para o segundo ato.

Diante disso, é evidente que Acompanhante Perfeita será melhor desfrutado pelo espectador sem nenhum conhecimento prévio de sua trama - o grande prazer do filme é descobri-lo em tempo real. Basta saber que Iris (Sophie Thatcher) e Josh (Jack Quaid) são um casal que vai passar o fim de semana com amigos em uma propriedade afastada, e que esses dias por lá testarão a própria natureza da relação dos dois. O texto de Hancock, para não dizer que fica inteiramente na superfície das mecânicas de plot, esbarra com uma corrente retórica sobre as idealizações românticas que guiam nossos relacionamentos afetivos e nossos desejos, sobre o que acontece quando a realidade do absoluto tédio que é ser humano se choca com as fantasias que alimentamos de nós mesmos e dos outros. 

Nesse sentido, o filme é até mais interessante do que poderia ser, se caísse no discurso fácil do abuso na relação e da liberação feminina. A relação de Acompanhante Perfeita com essas ideias é muito mais estética (Hancock faz uma imitação esperta da feminilidade bibelô de Sofia Coppola na caracterização de Iris, e a escolha musical para a cena derradeira do longa é certeira) do que narrativa. Embora a estrela Sophie Thatcher entregue uma performance que tenta valentemente sublinhar, por vezes caindo nas caras e bocas exageradas, o sufocamento da personagem ao se ver presa nesse romance de expectativas impossíveis, ela está sozinha no esforço para aprofundar essa ramificação da trama. Mais sintonizado ao restante do filme está Harvey Guillén, enganosamente afiado como talvez o membro mais iludido da trupe de amigos principais.

O ator de What We Do in the Shadows também representa, na verdade, o melhor ponto de conexão entre as ideias de Acompanhante Perfeita e as (poucas) investidas que ele se permite na seara do horror. Se, em Noites Brutais, Zach Cregger usou o seu status de estreante para experimentar com formatos e brincar com uma visão muito mais contemporânea do terror do que seus colegas mais experientes, aqui Hancock se mostra um diretor de primeira viagem curiosamente tímido, que transborda em insegurança mesmo nas encenações mais diretas, e que até por isso passa longe da inovação. Não que todo filme de horror precise reinventar a roda ou se relacionar com o desgaste discursivo do seu tempo - mas, caso não reinvente nem se relacione, cabe cobrar dele que funcione melhor como oferta de gênero convencional do que Acompanhante Perfeita demonstra funcionar.

Da forma como está, o que falta ao longa de Hancock é intencionalidade, aquela corrente elétrica de criatividade que transforma ideias soltas em narrativa, e em produto cultural convincente. Diante da trepidação que fica óbvia por trás das câmeras, Acompanhante Perfeita emerge como um passatempo espertinho, mas vazio - de impacto, de discurso e, acima de tudo, de relevância.

Nota do Crítico
Bom
Acompanhante Perfeita
Companion
Acompanhante Perfeita
Companion

Ano: 2025

País: EUA

Duração: 97 min

Direção: Drew Hancock

Roteiro: Drew Hancock

Elenco: Harvey Guillen, Jack Quaid, Rupert Friend, Megan Suri, Sophie Thatcher, Lukas Gage

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