Mario, TLOU e mais: 2023 é o ano das boas adaptações de games

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Mario, TLOU e mais: 2023 é o ano das boas adaptações de games

Após décadas de projetos sofríveis, Hollywood vêm acertando em produções baseadas em jogos

Omelete
6 min de leitura
14.04.2023, às 15H40.

Estamos no meio do primeiro semestre de 2023, e parece que Hollywood colocou em prática o que aprendeu com seu passado sobre adaptações em games, entregando boas produções como a série The Last of Us e os filmes Super Mario Bros. e Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes, que se tornaram grandes sucessos.

Que a indústria dos games já ultrapassou a da sétima arte, isso não é novidade: o mercado global de games gerou cerca de US$ 184,4 bilhões em 2022, comparado à bilheteria mundial que rendeu US$ 26 bilhões no mesmo período. As gigantes do entretenimento têm mostrado interesse em pegar parte desse lucro com adaptações desde os anos 90, porém, ao levar esse universo dos videogames para as telas, elas trouxeram filmes e séries de qualidade desastrosas, cunhando entre os gamers o termo “maldição das adaptações”. Não à toa, são eles os primeiros a ficarem desconfiados quando uma franquia de games anuncia que receberá uma versão para TV ou cinemas.

Entretanto, parece que as recentes séries e filmes finalmente estão quebrando a tal “maldição” e se tornando os queridinhos não apenas dos fãs, como também dos leigos e da crítica. Essa parceria midiática tem se tornado lucrativa e pode nos dizer o que vêm aí nessa nova fase.

HISTÓRICO

Divulgação

Se agora as adaptações estão sendo entregues em boa qualidade, isso veio com décadas de aprendizado. Quando os videogames começaram a entrar em ascensão, as histórias dos jogos eram simples, e o que atraía os jogadores eram a jogabilidade e qualidade gráfica, enquanto Hollywood sabe contar uma boa história, logo, fazia sentido ver essa colaboração como uma fórmula de sucesso, mas isso não ocorreu da melhor forma.

Fizemos um especial aprofundando o relacionamento conturbado entre Hollywood e games. Em resumo, foi no começo dos anos 90 que Hollywood firmou uma parceria para os jogos, mas nos proporcionou os anti-clássicos como os live actions de Super Mario Bros (1993), Street Fighter (1994) e Mortal Kombat (1995), todos marcados por tentativas de tramas tão complexas que chegaram ao rocambolesco. Ao longo dos anos 2000 foi quando recebemos produções recreativas, que entretêm, ainda que fujam do escopo do original. Há quem defenda até hoje Resident Evil: O Hóspede Maldito (2002), Terror em Silent Hill e a duologia de Lara Croft: Tomb Raider.

Foi com a última década que as produtoras deram lampejos de filmes bem avaliados e sucedidos como Detetive Pikachu (2019) e os dois longas de Sonic, que entregaram uma aventura confortável, sem cair no pedante - além de terem ouvido os fãs e retirado o Sonic Feio.

CROSS LINGUAGEM

O que Fortnite e The Mandalorian têm em comum? Mais do que se imagina. Imagens: Divulgação

Um dos fatores que faziam o espectador torcer o nariz ao ver as adaptações nas telas era que roteiristas e diretores não sabiam a melhor maneira de traduzir a jogabilidade e a mecânica dos jogos para filmes e séries. Um aceno à obra original pode acabar tendo um efeito contrário, como em Doom, onde o diretor Andrzej Bartkowiak adicionou cenas em primeira pessoa.

Por sorte, os games ganharam títulos com tramas e gráficos que usam a linguagem cinematográfica, como diálogos mais ricos, enquadramento de câmeras elaborados e mais cutscenes (cenas de um jogo em que o jogador não tem poder de controle sobre o personagem, semelhante a filmes e TV). Foi o caso de The Last of Us, que brilhou quando foi lançado em 2013 para PlayStation 3, trazendo essa linguagem da sétima arte para uma mídia interativa e, consequentemente, facilitou para a HBO fazer uma adaptação fidedigna do original.

Essa troca de conhecimento se dá também pelo fato de muitas corporações serem donas de gigantes do entretenimento, que englobam jogos e produções audiovisuais: a PlayStation pertence ao grupo Sony que produz e distribui filmes como Homem-Aranha e AranhaVerso. O console da Sony investiu pesadamente em “jogos cinematográficos”, tanto que coleciona títulos premiados; além de The Last of Us, eles têm Horizon Zero Dawn (2017) e God of War (2018), ambos prestes a ganhar versões seriadas.

Com o tempo, a tecnologia também se tornou uma aliada e há sistemas operacionais usados em ambas as mídias, como a Unreal Engine (software que cria jogos) presente em grandes títulos como Fortnite e Batman: Arkham City e foi utilizado para criar os cenários das galáxias distantes de The Mandalorian e Obi-Wan Kenobi.

CO-OP AGRADÁVEL

Netflix/Divulgação

Mesmo em tramas simples, as produções hoje conseguiram captar a essência sem fugir do material original. Super Mario Bros. e o novo Dungeons and Dragons souberam muito bem emular o sentimento do jogar, sem soar estranho: a animação do bigodudo mostrou cenas dinâmicas na lateral para simular a visão vertical dos jogos clássicos, e D&D captou o espírito de jogar RPG de mesa com diálogos nonsense e a sorte e azar aparecendo em momentos oportunos - efeitos da rolagem do dado D20 imaginário da trama.

Muito das produções desconjuntadas do passado se deve à própria origem de cada indústria: diretores e roteiristas não tinham entendimentos de tecnologias que engenheiros e programadores tinham para criar um jogo através de códigos e pixels. Logo, transpor essa dinâmica de um roteiro e jogabilidade para um meio passivo como o cinema e a TV resultou em produtos adversos.

Em outro artigo nosso sobre o assunto, citamos como a dinâmica entre programadores e showbusiness nem sempre falavam o mesmo idioma. “Criadores de jogos são, por natureza, engenheiros que trabalham com lógica e certeza. As sutilezas da produção de Hollywood, como seu vai-e-vem de ego e dinâmicas de poder, são como alienígenas para eles”, disse Jamie Russell, autor do livro Generation Xbox: How Video Games Invaded Hollywood.

Se antes programadores e produtores tinham seus ruídos para se comunicarem, atualmente, o profissional tem uma bagagem mais ampla: as desenvolvedoras estão contratando roteiristas com experiência em cinema, TV e literatura, assim como mais produtores da sétima arte consomem ou conhecem sobre as franquias de games para elaborarem adaptações mais certeiras.

O cenário está avançando, as empresas de jogos vêm atuando como consultoras de suas adaptações, sendo uma peça-chave para orientar a mitologia de sua franquia, sem ficar uma adaptação tão afastada da obra original que pareça outro produto. Esse resultado é visível em produções que tiveram essa parceria bastante próxima, como a aclamada animação Arcane, fruto da criação entre a Netflix e a Riot Games. A série The Last of Us contou com Neil Drukmann, co-criador do título, como showrunner para fazer uma nova versão fidedigna do jogo da Naughty Dog; o mesmo aconteceu em Super Mario Bros. em que Shigeru Miyamoto, o criador do jogo, também atuou como produtor e essa é uma tendência que cada vez mais as novas produções vão trabalhar lado a lado.

A PRÓXIMA FASE

Divulgação

Hollywood está acertando com as adaptações de games e nada a impedirá de continuar a usar e abusar dessa fórmula que está gerando lucros e boas avaliações. Claro que não é uma fórmula à prova de fracassos e podem sair projetos ruins – olhando mais além, é possível que aconteça uma crise, assim como foi com as produções de super-heróis.

Novas adaptações foram confirmadas como Boderland, estrelado por Jack Black e Cate Blanchett, Gran Turismo, Bioshock e até Minecraft com Jason Momoa no papel principal. Se valerá o preço do ingresso ou da assinatura de streaming, apenas o tempo nos dirá, mas o mais importante é que diretores e produtores entendam que o sucesso vai além de agradar os fãs: é preciso ser ousado em novas abordagens que não tentem apenas emular a linguagem dos jogos, e sim usar a essência do original ao seu favor.

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