Como o TikTok se tornou inseparável do Festival de Cannes

Quando você imagina um parceiro para o Festival de Cannes, onde é comum críticos e público acompanharem filmes de três ou mais horas vindos de todo o canto do mundo, a rede social de vídeos curtos TikTok pode não vir imediatamente à mente. E, ainda assim, 2025 é o quarto ano consecutivo em que a plataforma está presente com força na Croisette, e não há sinais de que isso vai parar.

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Não é um acidente. Num dos vários eventos realizados pelo TikTok em paralelo à 79ª edição do festival, foi destacado como o segmento de conteúdo sobre filmes e televisão é um dos que mais cresce dentro do ecossistema que já alcança um bilhão de espectadores, e não são só vídeos picotados e cômicos. Formatos mais longos têm tido resultado, assim como aqueles que recebem um trabalho de produção mais rebuscado, e o que um dia parecia ser a união de dois mundos estranhos um ao outro hoje mais parece um aperto de mãos inseparável.

Em 2025, não só há mais estrelas do TikTok – incluindo a brasileira Foquinha – caminhando pelo tapete vermelho e destacando as estreias de gala de Cannes na rede, como uma das maiores personalidades da rede, Reece Feldman, está lançando seu primeiro filme no Palais des Festivals. Wait, Your Car? não faz parte da seleção do evento, mas ainda assim ocupou uma das salas do prédio que recebe nomes como Wes Anderson, Spike Lee e Kleber Mendonça Filho ano após ano. Dirigido e escrito por Feldman, conhecido online como Guy With a Movie Camera (uma referência ao clássico mudo de Dziga Vertov lançado em 1929), Wait, Your Car? é um curta-metragem com um elenco que já tem grandes projetos em seu currículo – Whitney Peak (Gossip Girl), Ruby Cruz (Bottoms), Minnie Mills (O Verão Que Mudou Minha Vida) e Noa Fisher (Joias Brutas).

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Para saber mais sobre o relacionamento da rede social com Cannes, o Omelete conversou com Eduardo Lorenzi, Diretor Geral de Operações do TikTok para a América Latina. Confira a entrevista, na íntegra, abaixo.

OMELETE: A parceria entre TikTok e o Festival de Cannes vem rolando há alguns anos. Você poderia explicar o que, na prática, é feito através dela? Há alguma coisa em especial pensada para a edição 2025?

LORENZI: Costumamos dizer que o TikTok é o lugar onde a cultura encontra o entretenimento. O universo de filmes e séries gera discussões apaixonadas em nossa comunidade de cinéfilos, e nossa presença no Festival de Cannes visa aproximar ainda mais os fãs desse universo. Queremos que os usuários acompanhem o festival de forma interativa e envolvente, através dos nossos criadores de conteúdo, que se dedicam a entregar conteúdo qualificado para os fãs do entretenimento e de artistas.

Além disso, também levamos conteúdos do TikTok para o contexto da indústria do cinema, mostrando que a produção de conteúdo de qualidade também é uma realidade na plataforma. No ano passado, por exemplo, tivemos o concurso #TikTokShortFilm, em que os vencedores das três categorias (Grande Vencedor, Melhor Roteiro e Melhor Direção) puderam apresentar suas criações em Cannes.

Este ano, manteremos essas duas frentes: estamos levando criadores de todo o mundo para o Festival de Cannes para cobrir o evento e abordar temas variados, com muito conteúdo para os fãs. Adicionalmente, faremos a primeira exibição do curta Wait, Your Car? do criador de conteúdo norte-americano Reece Feldman (@guywithamoviecamera), com exclusividade para nossos criadores e convidados.

OMELETE: Quando muitas pessoas falam sobre cinema, há uma noção de que o uso de redes sociais tira a paciência das pessoas ou o tempo de ver um filme. E ainda assim, o TikTok e Cannes têm andado lado a lado. Por que você acha que esses dois mundos combinam?

LORENZI: O TikTok é uma plataforma de descobertas e serve como uma porta de entrada para o cinema, despertando o interesse do público por filmes em cartaz ou revivendo obras antigas e apresentando-as a uma nova audiência. Na plataforma, os criadores conseguem criar uma conexão com o público, formando verdadeiras comunidades – e, no caso do cinema, não é diferente. Os conteúdos geram interesse nas pessoas, que acabam procurando pelas produções fora da plataforma e, posteriormente, buscam por mais conteúdos dentro do TikTok, gerando um ciclo virtuoso de descoberta e engajamento com o cinema. Isso possibilita que as pessoas descubram e redescubram produções audiovisuais.

Essa comunidade é especialmente concentrada na hashtag #TikTokMeFezAssistir, que possui mais de 952 mil publicações e demonstra o engajamento da comunidade em comentar e fomentar o entretenimento. E a indústria também reconhece o impacto da nossa comunidade: coroando essa paixão, no ano passado tivemos um especial de O Auto da Compadecida 2, gravado para o TikTok no início do ano, com quatro conteúdos exclusivos complementares ao universo do filme. Isso mostra como um filme dos anos 2000 renasceu e ganhou espaço na plataforma.

Esse também é outro traço da comunidade do TikTok: há uma valorização, interesse e descoberta do cinema nacional na plataforma. As hashtags #cinemanacional e #cinemabrasileiro acumulam, respectivamente, 23,4 mil e 25 mil publicações. Outros exemplos de produções audiovisuais nacionais que foram descobertas e redescobertas pela comunidade do TikTok também são Carandiru: O Filme (2003), Cidade de Deus (2002), Gabriela (1983), Hilda Furacão (1998) e Eu Sei Que Vou Te Amar (1986).

OMELETE: Como os criadores de conteúdo do TikTok se mostram essenciais para a parceria com o Festival de Cannes?

LORENZI:  A essência do TikTok são os criadores; sem eles, nada disso existiria. Neste contexto, são eles que acompanham o cinema, estimulam o engajamento das pessoas com as produções e fazem com que seus conteúdos gerem impacto até mesmo fora da plataforma, como com a redescoberta de clássicos nacionais, por exemplo.

A presença deles em Cannes é um reconhecimento dessa importância, mas também um momento de conectar ainda mais conteúdos de fãs. Levaremos criadores do mundo todo para o Festival com o intuito de mostrar como a plataforma pode ser uma ferramenta importante para as produções audiovisuais, para destacar o conteúdo de qualidade que eles produzem e como a comunidade engaja e alimenta o entretenimento. No caso do Brasil, levaremos a @Foquinha para criar conteúdo no local, mostrando os bastidores e acontecimentos do festival.

OMELETE: Estamos vivendo um dos grandes momentos do cinema brasileiro, incluindo pela chegada do nosso primeiro Oscar. Como o TikTok se vê dentro desse momento, aqui no Brasil?

LORENZI: A conquiSta do Oscar pelo Brasil foi muito comemorada e comentada na plataforma. Durante a campanha do filme Ainda Estou Aqui, percebemos o engajamento da nossa comunidade com o filme e com o cinema nacional. Na semana do anúncio dos indicados à principal premiação do cinema (23 a 27 de janeiro), a hashtag #AindaEstouAqui registrou picos marcantes, chegando a um aumento de 793% em publicações. A comunidade internacional da plataforma fortaleceu ainda mais o fenômeno: a hashtag #ImStillHere saltou impressionantes 1.562% em número de publicações durante o mesmo período do mês de janeiro. Fernanda Torres, por exemplo, que também teve um aumento impressionante em buscas pelo seu nome na época da campanha, é ativa na plataforma para falar sobre uma das maiores comunidades do TikTok, o #BookTok. Isso demonstra a relevância do TikTok para diversos temas e áreas. No Brasil, além da hashtag #TikTokMeFezAssistir, temos diversos criadores que falam sobre cinema e fomentam o entretenimento, como é o caso da Foquinha, que estará representando o país em Cannes.