Mais um Festival de Cannes chega ao fim e por mais um ano, o Omelete esteve presente naquele que é considerado o festival de cinema mais importante do mundo. Por lá passaram grandes estrelas como Tom Cruise, Jennifer Lawrence, Robert Pattinson, Pedro Pascal e o Brasil fez bonito com O Agente Secreto, novo filme de Kleber Mendonça Filho e estrelado por Wagner Moura, levando frevo para o tapete vermelho da Croisette e arrancando aplausos e elogios do público e da crítica.
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E agora, claro, chegou a hora de organizar também o Top 10 melhores filmes do Festival de Cannes 2025. Confira abaixo!
10. Highest 2 Lowest
"Se a obra-prima de Kurosawa, um exemplo da capacidade ímpar do cineasta de enquadrar pessoas entre quatro paredes para criar um vai-e-vem poderoso com palavras e posturas, funcionava como um conto de moral que explora a natureza do certo e errado, Spike Lee vê a narrativa, originada no livro King’s Ransom de Ed McBain, através do gênero. O diretor de Malcolm X e Infiltrado na Klan constrói, priorizando cenas no exterior de sua amada Nova York, um filme de ritmo veloz e música constante. E a escolha tem tudo a ver com sua interpretação de High & Low."
9. YES
"Pulsando com a energia de uma balada no apocalipse, a primeira parte de YES! apresenta o casal principal, pais recentes com grandes desafios financeiros pela frente, ainda com algum vislumbre de vida em seus olhos, mas depois de um capítulo intermediário onde fugir da realidade se torna algo fora de cogitação, esse filme outrora raivoso termina com uma sensação implacável de derrota. Essa transformação é encenada com uma sátira que, mais do que criticar, parece querer gritar. "
8. Splitsville
"O que torna Splitsville tão eficaz é como ele tira seu humor das dinâmicas e desejos criadas entre os quatro, usando suas personalidades para informar as risadas. Dessas, talvez nenhuma seja tão presente quanto a que vem quando vemos Carey se tornando amigo dos novos amantes de sua esposa. Sempre que Ashley dispensa um novo namorado, este fica tão devastado quanto o marido, e a amizade inesperada que Splitsville tira disso é só uma das várias ideias divertidas de Covino e Marvin para ilustrar as dinâmicas relacionais desse quarteto. "
7. Left-Handed Girl
"O texto de Tsou e Baker usa essas divergências para gerar faíscas justamente porque enxerga cada uma das protagonistas, independente de suas idades e personalidades, como uma mulher completa, tridimensional e digna da atenção da câmera de smartphone usada para dar a Left-Handed Girl uma característica tão rústica quanto íntima, algo que é potencializado pela direção de fotografia superexposta e colorida de Chen Ko-chin e Kao Tzu-Hao, assim como pela sensibilidade pop da montagem do próprio Baker. No centro disso tudo estão três atuações cujas vibrações distintas se encaixam perfeitamente, incluindo um trabalho apaixonante e surpreendente de mírim Yeh."
6. Mirrors No. 3
"Sempre interessado em identidade e dependência, o diretor alemão Christian Petzold descreveu seu filme, numa sessão de debate após a estreia na Quinzena dos Cineastas durante o Festival de Cannes, como algo inspirado nos contos dos Irmãos Grimm. Como ele conta, há apenas dois tipos de narrativa naquelas histórias. A primeira envolve filhos que se vêem vivendo debaixo do domínio de bruxas, e a segunda foca nos pais que, desesperados, procuram suas crianças desaparecidas. Não é preciso ouvir a explicação do cineasta para perceber como o relacionamento das duas passa por uma rápida simbiose, e Mirrors No. 3 encontra sua energia na tensão da incerteza. O quanto elas percebem do que está acontecendo? O quanto dessa dinâmica é intencional, e o que vai acontecer se cada uma delas responder isso de forma diferente?"
5. Sirât
"Uma das imagens mais marcantes de Sirât é a de uma pilha de caixas de som pretas em meio ao deserto. Seja ou não essa a intenção do diretor Oliver Laxe, é fácil deixar a mente vagar até o lendário monolito de 2001 - Uma Odisseia no Espaço enquanto assistimos ao equipamento pulsando no mais alto volume enquanto músicas eletrônicas saem de seu interior. Mas, se aquele objeto representava o salto tecnológico da humanidade, este parece anunciar o fim."
4. It Was Just an Accident
"O filme não se trata de uma comédia comum, mas encontra no humor desconfortável que surge das discussões e decisões arriscadas dos personagens – como a dos noivos de fazer tudo isso já vestidos para o casamento – um fio condutor nos ligando diretamente ao coração da narrativa, já que cada riso é acompanhado por um momento de conscientização acontecendo simultaneamente com os protagonistas e o público. São respiros que deixam claro não só o absurdo da situação, como sublinham a disposição de pessoas injustiçadas a cometer absurdos em nome de justiça, ou menos de algo que exorcize seus demônios. E o que exatamente é isso? Esta é a pergunta que anima o drama de It Was Just An Accident. Enquanto uns acreditam em olho por olho, outros consideram agir com misericórdia. Tortura e morte são, afinal, as armas do inimigo."
3. O Agente Secreto
"Como este personagem, Wagner Moura entrega uma atuação de nuances e tristezas, mas também de um homem em ação. Em seu olhar, há um pesar palpável – o principal aliado para que ele não vire um avatar da audiência, passeando pela cidade e pelos mistérios como um guia, mas permaneça uma pessoa com quem nos importamos, e portanto, que não queremos ver ser apagada. À sua volta, figuras como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Alice Carvalho, Carlos Francisco e outros oferecem temperos de romance, humor e suspense em papéis de adversários e aliados nessa jornada para fugir do esquecimento e da violência."
2. Sentimental Value
"É de imensa ajuda contar com as atuações do trio Reinsve, Skarsgard e Lilleaas. Os três comunicam décadas de arrependimentos, perda e memórias com seus olhares e gestos, não só aprofundando a interioridade de cada membro da família Borg como conferindo aos movimentos narrativos de Sentimental Value uma lógica emocional ímpar. Tudo no filme está pautado no que conhecemos de cada um deles, de como eles lidam com a arte e com suas profissões – Agnes ser historiadora ajuda a sublinhar os temas do filme como algo presente na árvore familiar daquele lar. Isso faz de Sentimental Value uma experiência tão devastadora quanto calorosa, identificando as emoções postas em telas não em como Trier arquiteta seu texto, mas como a conclusão inevitável de quem Nora, Agnes e Gustav são."
1. Sorry, Baby
"Há, sim, um trauma em Sorry, Baby. Ele acontece com Agnes – a protagonista vivida por Victor como uma mulher de postura lúdica, palavras honestas e personalidade calma – no seu último ano cursando literatura e inglês na universidade, e acontece quando ela está sozinha com o professor responsável pela mentoria de sua tese final. Eu não preciso descrever mais do que isso, porque apesar do filme oferecer mais detalhes numa cuidadosa cena entre Agnes e a melhor amiga Lydie (Naomi Ackie), o evento em si – que você já sabe o que é – nunca ganha o palco principal do filme. Sorry, Baby e Agnes se recusam a ser definidos pelo que acontece naquela casa, naquela noite. Isso não quer dizer que Sorry, Baby não seja uma história perspicaz sobre a vida de uma mulher que precisa aprender a viver com o que passou."
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