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Crítica

La Paz | Crítica

Santiago Loza tenta delimitar a geografia humana da Argentina hoje

21.10.2014, às 16H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

O jogo de duplo sentido do título do filme argentino La Paz - que trata de um jovem suicida em busca de paz interior e também faz referência à cidade da Bolívia - é a senha para vermos o longa do diretor Santiago Loza como uma metáfora do estado das coisas na Argentina.

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O filme abre com um close-up de Liso (Lisandro Rodríguez), o primeiro de muitos. Ele está deixando o que parece ser um hospital ou uma clínica de reabilitação, e volta a morar com seus pais. Não fica claro se estamos em Buenos Aires, mas os pais de Liso são inequivocamente da elite argentina: a mãe pinta e passa tardes na piscina, o pai tem o tiro ao alvo como hobby. Liso parece mais à vontade com sua avó, que mora perto de casa, e com sua empregada boliviana.

Essas relações geracionais e étnicas são o fiapo de trama com que Loza trabalha em La Paz, um pequeno drama de câmara que tenta criar, a partir de estagnações (muitos planos abertos vão direto para o close-up sem passar por planos médios, como se tentassem flagrar reações dos personagens, reações que nunca surgem) e deslocamentos (a câmera passa o filme com Lino sobre uma moto pelas ruas), um sentimento de desconforto que talvez tenha a ver com a situação do país hoje.

O desconforto de Lino, sua incapacidade de sentir que faz parte de uma família, de um bairro, de um país, está impresso em seu rosto. O estilo de aproximação da câmera de Loza, que vai do alheio ao invasivo cena a cena, como se cobrasse respostas a cada close-up, cabe bem no filme para registrar esse desconforto. Quando conta para uma prostituta por que tem uma tatuagem com o rosto do avô nas costas, Lino explica: "É porque ele nunca me perguntava nada".

Essa imobilidade causada pela urgência de agir - símbolo de uma Argentina politizada que, mesmo depois de tantos protestos, não consegue ver um norte para si - é o que atormenta o protagonista. La Paz é um filme bastante interessante na medida em que tenta identificar a geografia humana da Argentina de hoje: jovens transitando como zumbis por jardins, sorveterias, usinas de metalurgia. A geografia é parte essencial de La Paz, como tradução de um estado de espírito, e o plano final do filme deixa isso bastante claro.

Acompanhe as nossas críticas do Festival do Rio 2013

Nota do Crítico
Bom
La Paz
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La Paz
La Paz

Ano: 2013

País: Argentina

Classificação: LIVRE

Duração: 73 min min

Onde assistir:
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