No papel, a premissa de Eagles of the Republic é irresistível. O maior astro do cinema no Egito, George Fahmy (Fares Fares como uma mistura de George Clooney e Bruce Willis) recebe uma oferta aparentemente incrível: a de interpretar o presidente do seu país. A questão é que o político está longe de ser um herói. Seu partido governa através de censura e derramamento de sangue, e Fahmy não tem interesse algum em se aliar com essas pessoas, quanto mais celebrá-las em sua arte. O problema, claro, é que ele não terá escolha.
Na prática, o diretor Tarik Saleh encena esse suspense político, um que une a tensão da arte suprimida com a carga política de uma nação em polvorosa, sem aproveitar quase nada do que o gênero tem a oferecer. Se o filme até consegue nos pegar em seus primeiros minutos, quando George é forçado – devido a uma ameaça de morte contra seu filho – a dançar com burocratas e generais e vamos descobrindo esse mundo secreto junto com ele, a progressão do roteiro, previsível e repetitivo, impede que todo esse preparo resulte em algo significativo.
Esta condução – agravado pela presença de filmes superiores sobre a vida debaixo de regimes e ditaduras no Festival de Cannes 2025, como O Agente Secreto e It Was Just An Accident – é broxante, já que examinar o jogo de cadeiras de um governo que aparenta estabilidade mas está à beira do caos através dos bastidores do entretenimento é uma ideia pra lá de promissora, e as melhores cenas de Eagles of the Republic vêm justamente ao unir os dois lados dessa moeda.
Acima de sua integridade pessoal, George valoriza o que ele vê como uma carreira livre de filmes ruins, e por isso quer que a cinebiografia do presidente resulte, de alguma forma, em outro produto de qualidade. Quando ele esbarra no Dr. Manssour (Amr Waked), um agente de inteligência enviado para garantir a “factualidade” da produção, os adversários artísticos e políticos se tornam um só.
Fora disso, o filme sofre para gerar faíscas. Acompanhamos, por exemplo, o ator indo de mulher em mulher – escondendo sua disfunção erétil da jovem Donya (Lyna Khoudri); lutando para manter as aparências do casamento com a esposa de quem está separado; arriscado tudo num caso com Suzanne (Zineb Triki), esposa do secretário de defesa; tentando ajudar a colega de profissão Rula (Cherien Dabis) a evitar consequências por sua rebeldia. Em nenhum desses relacionamentos ou situações, porém, Eagles of the Republic demonstra o dinamismo, seja ele interior ou cinematográfico, necessário para nos engajar.
Pelo contrário, a direção de Saleh, que até dá alguns vislumbres de vida quando as balas começam a voar no terceiro ato, é cansada e inerte. O cineasta filma Eagles of the Republic de forma tão removida que até Fares, um ator que tipicamente transborda carisma e encarna facilmente o papel de uma superestrela, parece estar entediado com seus diálogos. Não ajuda que o texto, também escrito pelo diretor, tome sempre as decisões mais previsíveis. Olhe para o pôster de Eagles of the Republic logo abaixo deste texto, e você enxergará o tipo de filme que George Fahmy adoraria fazer: cheio de intriga e sensualidade. A realidade, infelizmente, é o oposto disso.
Eagles of the Republic
Eagles of the Republic
Ano: 2025
País: Suécia
Duração: 127 min
Direção: Tarik Saleh
Roteiro: Tarik Saleh
Elenco: Zineb Triki , Fares Fares , Amr Waked , Lyna Khoudri
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