Os 7 melhores filmes que vimos no Bonito CineSUR 2025
Lista do Omelete tem doc de Bárbara Paz, drama peruano e produções do Mato Grosso do Sul
Créditos da imagem: Bonito CineSUR 2025 (Divulgação)
O Festival de Cinema Sul-Americano - Bonito CineSUR 2025 apresentou uma variedade e tanto de produções para quem, como o Omelete, desbravou sua seleção durante a última semana. Entre longas e curtas de diversos países do nosso continente, produções feitas no Mato Grosso do Sul (estado que abriga a cidade turística de Bonito, anfitriã do evento) e filmes de autores consagrados como Bárbara Paz e Anna Muylaert, não faltou opção para quem curte descobrir bom cinema.
A seguir, o Omelete faz o balanço dos melhores filmes que pudemos ver no Bonito CineSUR 2025, uma seleção tão diversa e fascinante quanto foi a do festival em si. Vem com a gente!
7. Abá e Sua Banda
A ideia de Abá e sua Banda, desenhada com clareza pelo roteiro de César Coelho, Daniel & Sílvia Frahia e Sylvio Gonçalves, é importar para o contexto de produção nacional uma fórmula testada e aprovada no cinema animado gringo. Dos arquétipos em cima dos quais os personagens são construídos (você vai identificar o vilão do filme assim que ele entrar em cena) ao arco narrativo pelo qual o filme empurra seus protagonistas, com direito a desvios específicos de rumo e um grande momento de revelação, este é um musical da Disney com DNA nacional. E, embora essa operação de transplante crie certa familiaridade que nem sempre ajuda Abá e Sua Banda, ela ainda deixa espaço para a invenção.
6. Jardim de Pedra: Vida e Morte de Glauce Rocha
Documentário em curta-metragem bem pesquisado e penetrante sobre a atriz sul-matogrossense Glauce Rocha, figura emblemática do Cinema Novo brasileiro e marcante para toda a indústria dramatúrgica no Brasil - mas cuja trajetória curta (morreu aos 41 anos, em 1971) por vezes limita o seu reconhecimento nos anais da nossa cultura. Não só o filme de Daphyne Schiffer lhe faz um jus merecido, como ainda evoca as ideias opostas do esquecimento e da lembrança, de como elas moldam o valor que damos ao passado, e portanto nossa atitude no presente. Testemunho contundente de um Mato Grosso do Sul que busca definir e expressar melhor sua memória, e por isso sua cultura.
5. Redención
Redención é uma história toda de mágoas e culpas sublimadas, corrupções disfarçadas pelo verniz frágil da “moral e bons costumes” da classe média religiosa. O diretor Miguel Barreda-Delgado encontra momentos geniais para sublinhar isso, seja ao colocar sua câmera perto do chão para mostrar um pote de dinheiro escondido embaixo da pia enquanto o pastor da igreja entra na sala, ou ao localizar o quarto da jovem grávida nos fundos da casa, uma entrada obscurecida no background de cada cena, pairando de forma sugestiva e tentadora sobre as interações mais inócuas. Redención nos convida a observar quando o casal principal decide abrir ou fechar, adentrar ou evitar, essa porta, assim como nos convida a entender as coibições e proibições de outros espaços da casa, o seu cenário mais importante. Em certo ponto das quase 1h40 de metragem, o espectador sente-se um conhecedor íntimo daquele palco, o que só torna os eventos do último ato mais impactantes.
4. Quinografía
A entrevista que forma a espinha dorsal de Quinografía é reveladora, mas o filme expande o seu impacto com jogadas de montagem espertas - em mais de um momento, por exemplo, os diretores Federico Cardone e Mariano Dosono cortam da gravação de 2014 para outra bem mais antiga, em preto-e-branco, na qual Quino conversa com um apresentador argentino na TV local. Os cortes acontecem por vezes no meio de uma frase, e as histórias que Quino conta em uma se completam em outra, como se recortando e colando as palavras naturalmente fragmentadas da memória humana. E tantas outras vezes Quinografía ainda sobrepõe as falas do artista, ou daqueles que o conheciam, com tirinhas dele que ilustram e ironizam aquele mesmo pensamento. Uma das sensações mais bacanas levantadas pelo filme é essa: parece que você está vendo vida e obra de um artista finalmente ligadas pelo cordão umbilical inevitável que existe entre elas.
3. Tainá e os Guardiões da Amazônia - Em Busca da Flecha Azul
Em Busca da Flecha Azul também demonstra excelência como aventura infantil, e a chave aí está tanto no roteiro, de Gustavo Colombo, quanto na direção assinada por Alê Camargo e Jordan Nugem. Vindo da equipe da série original, Colombo imprime um ritmo firme no desenvolvimento da trama, não fazendo pesar a metragem bem mais extensa do que os episódios da TV, e injeta os diálogos com um didatismo que não subestima a inteligência do público. As lições de Em Busca da Flecha Azul são claras, e as relações entre os personagens são estabelecidas em termos que não deixam dúvidas, mas o filme não se repete em demasiado, e tampouco remove inteiramente o conflito dramático de sua trama. Crianças são capazes de entender uma história e fixar as informações que importam para ela, argumenta o texto - com toda razão, é claro
2. A Última Porteira
Excelente curta de ficção de Rodrigo Rezende, outro representante do cinema sul-matogrossense, acompanha o peão de uma grande fazenda que inesperadamente se vê responsável por uma filha adolescente que nunca conheceu. Se o impulso narrativo vem do choque da intrusão de um mundo em outro, esferas que no imaginário contemporâneo nunca devem se tocar, o segundo momento é tocante de forma mais profunda: A Última Porteira fala de gerações e sacrifícios, das possibilidades que se apresentam diante de cada um, e de como por vezes, para aproveitar-se delas, é difícil sair de uma zona de conforto desenhada pelo sistema como uma gaiola. Sensível, belamente filmado e com uma química sólida entre os atores, é uma história que convence e envolve integralmente em 20 minutos - e renderia por muito mais.
1. Rua do Pescador, nº 6
Fugindo do formato tradicional de testemunhos para a câmera e letreiros explicativos, Rua do Pescador, nº 6 nos revela em pedaços os pesares e os motivos para ficar de seus sujeitos, eliminando a gordura de relatos mais longos e encontrando o cerne dessa comunidade, suas desconfianças em relação ao mundo externo, seus avisos que caíram em ouvidos surdos. A diretora Bárbara Paz ainda entrelaça esses fragmentos com intervenções picotadas de som em off - não uma narração convencional, mas pedaços de canções e discursos políticos, reportagens e debates, que colorem e contrapõem, por vezes com amargor e por vezes com carinho, aquele cenário que ela pinta na Ilha da Pintada.
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