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Filmes
Crítica

Redención supera dificuldades técnicas com uma boa história bem observada

Filme peruano se propõe desafios que nem sempre o ajudam, mas tem garra criativa

Omelete
4 min de leitura
30.07.2025, às 08H00.
Atualizada em 30.07.2025, ÀS 12H26
Cena de Redención (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Redención (Reprodução)

O diretor e roteirista peruano Miguel Barreda-Delgado é figura carimbada da filmografia do seu país desde os anos 1990, e carrega consigo uma bagagem de curtas e longas, para cinema e TV, que não é fácil de acumular no contexto da produção latina. Aos 58 anos de idade e quase 30 de carreira, fica claro no seu filme mais recente, intitulado Redención, que Barreda-Delgado está a procura de desafios. Aqui, isso se traduz em uma abordagem pouco convencional das cenas domésticas que definem sua trama - prezando pelas tomadas longas, muitas vezes centradas em objetos de cena importantes ao invés de nas faces dos personagens, ele cria um filme que tem algo de teatro na marcação precisa que exige de seus atores, e algo de arte abstrata na forma como busca significados escondidos, sugestões obscurecidas pelo cotidiano, em cada cena.

É uma ideia, inclusive, que serve bem às entrelinhas discursivas da história. Aqui, um casal evangélico muito assíduo (John R. Dávila e Tatiana Astengo) tenta conceber sem sucesso por anos, até o dia em que o marido encontra uma jovem colega de igreja (Lucero López Ponce) na rua, caindo de bêbada, e a leva para casa - onde abusa sexualmente da garota. Grávida e com quase nenhuma memória do ocorrido, a jovem recorre ao seu estuprador para tentar financiar um aborto, mas uma condição médica rara impede que o procedimento ocorra. A solução encontrada pelo homem, então, é trazer a sua vítima para dentro de casa, onde ela vai gerar o filho que ele e a esposa pretendem adotar quando nascer. Receita para o desastre, é claro, conforme mentiras e meias-verdades vem à tona, a psique traumatizada da jovem se choca com o temperamento paranoico da esposa, e o marido convive com um desejo violento e pecaminoso.

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Redención, enfim, é uma história toda de mágoas e culpas sublimadas, corrupções disfarçadas pelo verniz frágil da “moral e bons costumes” da classe média religiosa. Barreda-Delgado encontra momentos geniais para sublinhar isso, seja ao colocar sua câmera perto do chão para mostrar um pote de dinheiro escondido embaixo da pia enquanto o pastor da igreja entra na sala, ou ao localizar o quarto da jovem grávida nos fundos da casa, uma entrada obscurecida no background de cada cena, pairando de forma sugestiva e tentadora sobre as interações mais inócuas. Redención nos convida a observar quando o casal principal decide abrir ou fechar, adentrar ou evitar, essa porta, assim como nos convida a entender as coibições e proibições de outros espaços da casa, o seu cenário mais importante. Em certo ponto das quase 1h40 de metragem, o espectador sente-se um conhecedor íntimo daquele palco, o que só torna os eventos do último ato mais impactantes.

Dá para sentir, portanto, que Barreda-Delgado sabe muito bem o que está fazendo aqui. Ele é um cineasta no domínio de seu cinema, e por isso cria um filme extraordinariamente expressivo. Permanece, no entanto, o fato que as ambições do artista são controladas pelos recursos ao seu dispor, e por vezes a escassez deles aparece na tela de Redención. Há momentos, por exemplo, em que a câmera de mão e a urgência da captação das cenas trai a fotografia, criando desfoques e instabilidades que não passam pelo crivo da intencionalidade do diretor. O mesmo vale para a captação de som - num filme que também usa a música e o furor das vozes religiosas como recurso expressivo, até repetidamente para criar um efeito visceral, é lamentável que diálogos e sons ambiente se imponham tão aleatoriamente estridentes ou inaudíveis por conta de uma deficiência técnica.

São ossos do ofício (o ofício sendo artista latinoamericano, no caso), mas eles tiram muito pouco do brilho de Redención. Com uma boa história para contar, um olhar afiado para as vicissitudes de seus personagens, e um final que aterrissa como um soco no estômago, o longa peruano se propõe desafios estéticos que nem sempre consegue sustentar, mas há de se admirar a garra que ele tem para explorá-los, tanto quanto a dexteridade narrativa que faz com que ele funcione de qualquer maneira.

*Redención foi exibido no Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito - Bonito CineSUR 2025. Fique de olho no Omelete para a cobertura completa.

Nota do Crítico

Redención

2023
97 min
País: Peru
Direção: Miguel Barreda-Delgado
Roteiro: Miguel Barreda-Delgado
Elenco: Tatiana Astengo, Lucero López Ponce, John R. Dávila
Onde assistir:
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