A Origem | Final explicado: era um sonho ou não?
Entenda o desfecho dúbio do filme de Christopher Nolan que Leonardo DiCaprio protagonizou em 2010
Foi em 2010 que Christopher Nolan (Oppenheimer) produziu aquele que se tornaria um de seus filmes mais celebrados e ousados: A Origem.
O longa traz Leonardo DiCaprio na pele de Dominick Cobb, homem que ganha a vida através de um método inovador de espionagem industrial: ele se infiltra nos sonhos de homens poderosos para roubar-lhes informações ou segredos que possam beneficiar seus concorrentes.
Em certa ocasião, Cobb e seu braço direito, Arthur (Joseph Gordon-Levitt), são contratados pelo magnata Saito (Ken Watanabe) para introduzir na mente de Robert Fischer (Cillian Murphy), filho de seu rival empresarial, a ideia de vender a companhia que herdara do pai.
Em troca, Saito promete limpar a ficha criminal do protagonista, o que acabaria com o impedimento judicial para que ele tenha contato com os filhos, Phillipa (Taylor Geare) e James (Johnatan Geare).
Qual é o segredo de Cobb?
No decorrer da história, é esclarecido o passado supostamente criminoso do protagonista. Na verdade, ele é acusado de matar a própria esposa, Mal (Marion Cotillard), mãe das duas crianças.
Durante o tempo em que estiveram casados, Cobb e Mal se divertiam compartilhando sonhos e aproveitando para fazer, neste mundo de fantasia, coisas que não podiam concretizar no mundo real. O problema é que a moça começou a se apegar tanto a esse universo onírico que já não queria mais estar na realidade.
Preocupado com a situação da esposa, o protagonista implantou no fundo do inconsciente dela a ideia de que nada daquilo de que estava desfrutando era real – da mesma exata maneira que agora estava tentando cumprir, na mente de Fischer, a missão dada por Saito.
Inicialmente, o plano funcionou, e Mal abriu mão de passar mais tempo sonhando que acordada. Só que, pouco a pouco, a moça foi ficando atormentada pela ideia de que sua própria realidade também era um sonho – do qual queria desesperadamente despertar.
Tanto Mal como Cobb sabiam que a única forma de despertar definitivamente de qualquer sonho era morrer dentro dele – e era isso que ela estava decidida a fazer. Apesar de todos os esforços do marido para impedi-la, a jovem acabou cometendo suicídio, não sem antes armar toda uma cena para que Cobb parecesse tê-la assassinado.
É por conta dessa acusação criminal que o ladrão de mentes está legalmente impedido de ver os herdeiros.
Como termina A Origem?
Após cumprir a tarefa que Saito lhe confiou, implantando a ideia de vender a empresa familiar no inconsciente de Fischer, Cobb é recompensado pelo ricaço com a extinção judicial do processo pelo assassinato de Mal.
Com isso, o viúvo recupera a guarda dos pequenos Phillipa e James, com quem protagoniza uma cena de reencontro emocionante.
Antes, porém, de começar uma nova vida com eles, Cobb recorre mais uma vez ao pequeno totem em forma de pião que usou durante todo o filme. Tratava-se de um truque para poder distinguir a realidade dos sonhos: se os acontecimentos a seu redor fossem reais, o pião logo deixaria de girar e cairia; mas, se ele estivesse sonhando sem perceber, o objeto seguiria girando indefinidamente.
Desta vez, porém, Cobb não espera para conferir o resultado do teste, e simplesmente se afasta do totem giratório para dar atenção aos filhos. O filme então termina, sem revelar ao público se o pião parou ou não de girar – e se todo esse happy ending era real ou apenas ficção da mente do espião industrial.
Afinal, Cobb realmente recuperou os filhos?
A dubiedade do desfecho de A Origem perturbou por anos a plateia do longa. Mas, para Christopher Nolan, essa preocupação tem pouca ou nenhuma razão de ser.
O diretor entende que, ao se afastar do totem giratório antes de ter a resposta que este lhe proporcionaria, o personagem minimiza a preocupação sobre estar ou não dentro de um sonho para simplesmente desfrutar da felicidade que esse reencontro com os herdeiros (real ou ficcional) lhe proporciona.
“O ponto daquela cena [final] é mostrar que ele não se importa mais naquele momento”, resumiu o cineasta, em entrevista concedida em 2023 ao podcast Happy Sad Confused.
O ator Michael Cane, que deu vida ao sogro de Cobb no longa, também forneceu uma pista importante rumo a esse esclarecimento, ao conversar sobre o tema, em 2018, com o jornal britânico Independent.
“Quando recebi o roteiro de A Origem, fiquei um pouco confuso e questionei: ‘Eu não entendo onde é sonho. Quando é sonho e quando é realidade?’ Ele [Nolan] respondeu: ‘Bem, se você está na cena, é realidade.’ Então é isso: se estou nela, é realidade. Se não estou, é sonho”, revelou.
Com base nessa premissa, depreende-se que o reencontro de Cobb com as crianças foi, sim, totalmente real, uma vez que o personagem de Cane estava presente em cena quando esse momento aconteceu.