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Festival de Berlim | Ator de Thor, Stellan Skarsgärd se torna favorito ao prêmio por Return to Montauk

"Sempre preferi deixar que meus olhos falassem por mim”

15.02.2017, às 16H29.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Respeitado mundialmente como um dos maiores astros da Europa, sendo conhecido em Hollywood por sua participação como professor Erik na franquia Thor e por seu ar debochado no musical Mamma Mia! (2008), o sueco Stellan Skarsgärd abalou corações no 67º Festival de Berlim – e disparou como favorito ao prêmio de melhor ator – à frente de Return to Montauk. Numa atuação pontuada por silêncios, na pele de um escritor alemão em visita aos EUA, o intérprete-assinatura de Lars von Trier pôs a ala mais madura e grisalha da plateia no bolso, comovendo também os jovens, com os dilemas de um homem às voltas com um amor do passado. Seu amor de ontem é uma advogada (Nina Hoss, a atriz nº 1 da Alemanha hoje), assombrada por fantasmas afetivos. A direção desta love story é de um mito do cinema autoral: o alemão Volker Schlöndroff, ganhador da Palma de Ouro em Cannes, em 1979, e de um Oscar, em 1980 com O Tambor.  

Em geral, diretores acreditam que palavras dão conta de tudo no cinema, enquanto eu sempre preferi deixar que meus olhos falassem por mim”, diz Skarsgärd. “Aqui, eu tive a sorte de ter um roteiro com frases boas o suficiente para que eu pudesse expor a fragilidade efetiva do personagem pelas entrelinhas delas”.

Na crítica europeia, Return to Montauk ganhou o apoio de decanos da imprensa, como Michel Ciment, mais respeitado resenhista de cinema da França. “Que filme forte”, elogiava ele, cumprimentando os atores.

Famoso também na TV, pela série River, sucesso no Netflix, Skarsgärd já foi premiado em Berlim no passado, há 35 anos, por The Simple-Minded Murderer, quando era já um talento em ascensão. Agora, sob a direção de Schlöndroff, ele dribla arquétipos para injetar humanidade à figura do romancista apaixonado Max Zorn. “Ele tem a canalhice típica de todos os homens, mas há doçura nele”, disse o ator. 

Antes da sessão de Return to Montauk, a Berlinale passou 136 dolorosos mas tocantes minutos, falados em português, numa aula sobre efeitos afetivos das crises financeiras dada pela diretora lisboeta Teresa Villaverde na forma de um drama construído com base na delicadeza: Colo. Mais possante exercício de dramaturgia do festival, o filme sofreu com uma debandada de público (1/3 da plateia), por conta de sua leeeeeenta narrativa, mas, quem ficou até o fim, aplaudiu calorosamente o ensaio desesperado sobre carência feito pela realizadora do cult Os Mutantes (1998). Na trama, a cineasta mostra a destruição de uma família cujo pai está desempregado e a mãe, o arrimo da casa, não tempo para cuidar de si nem da filha, ameaçada de perder seu trabalho noturno. O corte da luz da casa deles coroa o processo de decadência daquele lar, em meio ao percurso de amadurecimento da filha adolescente dos protagonistas. Nenhum dos concorrentes ao Urso de Ouro exibidos até agora tem enquadramentos com rigor à altura da fotografia construída por Acácio de Almeida. Há quem aposta nele para prêmios de contribuição artística (por seu visual) e até de direção.     

Escolhi batizar o filme mundialmente de ‘Colo’ pois esta palavra, que sugere embalar, proteger, pode ter muitos sentidos mesmo na língua portuguesa, sendo imbuída de uma aura de mistério”, diz Villaverde ao Omelete. “O que temos aqui é uma história sobre pessoas solitárias e sobre os silêncios entre elas, o que, na tela, demanda tempo para ser decantado”.

Amanhã é dia do concorrente brasileiro ao Urso dourado berlinense: Joaquim, descrito como uma “aventura gay” ao explorar passagens pouco retratadas da vida do mártir da Inconfidência Mineira, Tiradentes, vivido por Julio Machado (um dos destaques da novela Velho Chico), que, segundo olheiros alemães, é o único capaz de tirar o troféu de melhor interpretação masculina de Skarsgärd.

Falando sobre Brasil, neste ano em que a animação nacional completa cem anos, um curta mineiro, de tintas LGBT, alcança sólido boca a boca, esgotando ingressos em suas projeções: Vênus – Filó, a Fadinha Lésbica, de Sávio Leite, sobre um ser mágico que usa seus dedinhos para levar mulheres ao prazer. Ainda entre os brasileiros, a ficção de espinha juvenil As Duas Irenes, de Fábio Meira, apresentou aos germânicos a força do novo cinema goiano, numa história sobre duas garotas que descobrem compartilhar um segredo, modificando seu cotidiano.

O festival termina neste sábado (18), com uma cerimônia de entrega de prêmios. Sexta o evento vai ser movimentado pela passagem de Hugh Jackman com Logan, a terceira aventura solo de Wolverine, e com a projeção da versão 3D de Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991) com – pelo que sugerem os boatos – a presença do T-800 em pessoa: Arnold Schwarzenegger.    

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