As Quíntuplas recuperou meu carinho por animes de comédia romântica

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As Quíntuplas recuperou meu carinho por animes de comédia romântica

Após anos afastado do gênero, The Quintessential Quintuplets me fez novamente torcer por um casal num anime de “harém”.

Omelete
9 min de leitura
24.05.2023, às 10H43.

Assim como muitos brasileiros, meu primeiro contato com o gênero “harém se deu no começo dos anos 2000, quando a Band exibiu três séries da franquia Tenchi Muyo. De lá pra cá entrei em contato com várias outras séries, tanto posteriores como Love Hina quanto anteriores, como Ranma ½, até que fui cansando desse estilo de história. Essa estafa me afastou de muitas “modinhas” recentes, mas foi dar play em The Quintessential Quintuplets (ou As Quíntuplas, como é chamada a versão em mangá) que fui redescobrindo um tipo de história que tanto me divertiu.

Mas antes de chegar ao anime mais recente, é bom falar um pouco da trajetória dos animes harém. O já citado Tenchi Muyo foi um dos responsáveis por popularizar esse tipo de história no meio otaku japonês, e a série conta a história do adolescente Tenchi Masaki que vê sua vida virada do avesso quando sua casa vira abrigo para várias alienígenas apaixonadas por ele. Embora camufle com uma pitada de ficção científica espacial (Tenchi é descendente direto de um guerreiro que defendia o planeta Jurai), a graça de Tenchi Muyo é ver várias mulheres de diferentes personalidades tentando fisgar o protagonista. E elas disputam Tenchi como se ele fosse o último homem da Terra, o que rende uma sucessão de situações cômicas.

Tenchi Muyo/Love Hina/Reprodução

Outra série desse gênero que repercutiu bastante no Brasil foi Love Hina, cujo anime data do começo dos anos 2000. Criada por Ken Akamatsu, aqui víamos Keitaro Urashima fracassando pela enésima vez no vestibular para a Universidade de Tóquio. Mas por que uma pessoa de notas tão baixas insistia em um lugar tão concorrido? Porque quando era criança, Keitaro fez uma promessa para uma garotinha de que eles se encontrariam na universidade. Expulso de casa, Keitaro acaba se tornando gerente de uma pensão feminina, e novamente vemos o clichê de inúmeras garotas com personalidades diferentes se apaixonando por ele, em maior ou menor grau. É aí que os conflitos amorosos surgem: ele deve seguir seu coração e ir atrás da brava Naru Narusegawa ou precisa encontrar a garota das memórias?

Esse tipo de história altamente novelesca foi me entretendo em boa parte da juventude, mas com o passar do tempo fui me afastando dessas comédias românticas destinadas ao público masculino. Não só porque elas inevitavelmente começaram a se repetir, mas porque alguns vícios dessas produções, como a sexualização extrema de personagens femininas, começaram a incomodar. Sem contar que, com o passar do tempo, as histórias foram ficando cada vez mais previsíveis. Tirando casos como 100% Morango (Ichigo 100%, no original), que até hoje não consegui entender por que o Junpei ficou com aquela moça, as escolhas dos protagonistas de comédias românticas do tipo harém são claras já no primeiro capítulo. Faltava ali uma surpresa, e eu não podia imaginar que meu desejo viria com um anime sobre quíntuplas.

Comecei assistir The Quintessential Quintuplets na Crunchyroll quando a plataforma lançou os episódios com dublagem em português, a princípio sem compromisso e assistindo acompanhado de amigos, e rapidamente o anime foi conquistando minha atenção. Para quem nunca ouviu falar, a trama de As Quíntuplas (Go-Tobun no Hanayome no original) começa quando o pobretão estudioso Futaro Uesugi é contratado para dar aulas particulares para cinco irmãs com dificuldades escolares. Cada uma dessas quíntuplas tem uma individualidade única: Ichika é a mais velha e madura, Nino tem uma personalidade difícil, Miku é extremamente tímida, Yotsuba é a esportista animada e Itsuki é meio cabeça dura. E cada uma tem uma afinidade diferente nos estudos, e agora cabe a Futaro se aproximar de cada uma para que elas consigam evoluir na escola e tirar boas notas para agradar o pai médico rico delas.

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Algo que me atraiu nessa série foi como As Quíntuplas pegou os maiores clichês do gênero e trabalhou de uma forma com mais frescor. A primeira cena da história já nos mostra o protagonista se casando com uma das garotas, ou seja, definindo ali uma linha de chegada na qual sabemos que uma delas será escolhida. Com essa meta bem definida, o autor Negi Haruba brinca com expectativa e torcida de fãs. Como acontece em qualquer obra do gênero, o entretenimento da série acaba sendo você tomar partido de alguma das irmãs e torcer para que ela seja escolhida no final, e esse trajeto é tortuoso e cheio de ciladas, porque o autor cria situações nas quais até o último momento todas terão chances parecidas de conquistar o coração do Futaro.

O fato de serem cinco personagens femininas de mesma feição ajuda na forma como o autor cria os mistérios da história. Além de não sabermos com quem ele vai se casar, mais adiante na trama somos apresentados à informação de que Futaro já havia conhecido uma das quíntuplas durante a infância, em um evento que o marcou muito. Qual delas é a garota da memória do protagonista? E será que essa quíntupla será a escolhida pelo autor para as bodas no último capítulo? No decorrer da história ainda testemunhamos novos mistérios, como o surgimento de uma "sexta quíntupla" e um evento no qual alguma delas beija o Futaro, mas não fazemos ideia de quem foi porque todas estavam fantasiadas igualmente.

Mas embora a construção da história possa ser até “moderna” para um anime harém, nada em As Quíntuplas sai muito do esperado em uma comédia romântica. Futaro passa por todo o itinerário de um protagonista do gênero, convivendo com as garotas no dia a dia, indo em eventos como festivais escolares e organizando viagens a hospedarias tradicionais japonesas. As personalidades das quíntuplas também estão muito longe de algo inovador e revolucionário, são apenas repetições de arquétipos que fazem sucesso em outras obras harém. Quem assistiu a mais de uma obra do gênero é capaz de apontar várias personagens que são semelhantes em comportamento a cada uma daquelas irmãs, e isso não é um contra para As Quíntuplas, pois o autor sabe criar situações interessantes com personagens tão únicas.

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Por ter assistido a outras comédias românticas “clássicas” no passado, tive uma sensação de conforto com As Quíntuplas. Como fã na época de Love Hina (quem nunca curtiu uma série equivocada durante a juventude, não é mesmo?), percebi nesse anime atual muitos elementos em comum, principalmente a história do protagonista estar envolvido com memórias de infância com uma garota que ele nem sabe o nome. Comparar com Love Hina não é forçação de barra, afinal o autor Negi Haruba já declarou publicamente seu respeito a Ken Akamatsu, autor da antiga comédia romântica sobre vestibulandos. Inclusive o nome artístico Negi é uma homenagem ao protagonista da série Negima, obra posterior do autor de Love Hina.

Mas As Quíntuplas não é apenas um copia-e-cola de séries antigas, afinal o autor desenvolveu a história consertando alguns pontos que me incomodam em comédias românticas de harém, como a sexualização de personagens. Se Ken Akamatsu usava qualquer desculpa para dar closes em calcinhas de garotas menores de idade, Negi desenvolveu As Quíntuplas com pouquíssimo material para fãs de material ecchi, mais sensual. Em entrevista ao site Livedoor News, enquanto As Quíntuplas ainda estava sendo publicado na revista Shonen Magazine, Negi contou que queria fazer uma comédia romântica diferenciada, sem apelar para temas mais adultos. Claro que nem tudo é perfeito, e o próprio autor considerou uma evolução ter levado 92 capítulos para presentear os fãs com uma ilustração das cinco garotas de biquíni na praia, mas temos que aceitar uma vitória de cada vez nas batalhas.

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Essa mesma entrevista é também reveladora porque o autor desenvolve a respeito da relação dos fãs com a obra. Ele acredita que a torcida por cada uma das quíntuplas é parecida, o que faz com que cada uma das irmãs tenha 20% do público. Ou seja, qualquer final escolhido vai inevitavelmente irritar 80% dos leitores. E embora o autor explique que deseja que o máximo de fãs se sinta satisfeito no final da história, é necessário que o leitor exercite o desapego e entenda que nem sempre é possível acertar em uma torcida de comédia romântica. Em alguns casos, escolher uma favorita em história assim é perder sempre.

E que disputa amorosa divertida de assistir. Certo, o Futaro está longe de ser o personagem mais gostável do mundo (e às vezes penso até que o prêmio é não casar com ele), mas As Quíntuplas tem um ritmo quase magnético. Você fica grudado na história, e vai se emocionando e surpreendendo a cada reviravolta, por mais rasteira que seja. “Ó não, apareceu uma personagem misteriosa que é amiga de infância do Futaro!”, “um parente desconhecido das quíntuplas surgiu do nada” e outros clichês do gênero funcionam tão bem nas linhas criadas por Negi Haruba que você embarca naquilo e curte com todo prazer. E se numa comédia romântica normal você já fica pensando como ficarão as que não forem escolhidas, imagine neste caso que as “derrotadas” serão as cunhadas do antigo crush!

Por ter me engajado tanto em As Quíntuplas, a tristeza veio ao chegar ao longa-metragem que encerra o anime. Mesmo com um ritmo de episódios colados, e não de um filme, a história me manteve grudado na tela por duas horas até finalmente descobrir com quem Futaro se casou na primeira cena da série. Não fiquei satisfeito com o final escolhido, digamos que faço parte dos 80% revoltados porque sua favorita não casou com o protagonista, mas o trajeto até aqui foi tão prazeroso que me sinto satisfeito.

Fiquei muito tempo longe das comédias românticas de harém pela repetição do gênero e pelos elementos que me desagradavam, e agora percebo que voltei a me interessar graças a uma série que pegou todas as características e desenvolveu tudo bonitinho, com algumas pitadas de surpresa. Mas agora que voltei a esse barco, será que encontrarei alguma outra história no mesmo clima de As Quíntuplas? Torcendo para logo encontrar uma outra comédia romântica nesse estilo para acompanhar.

Onde assistir?

Felizmente tudo relacionado a As Quíntuplas foi lançado no Brasil. As duas primeiras temporadas do anime estão disponíveis na Crunchyroll (com o título The Quintessential Quintuplets), tanto com legendas em português quanto com dublagem. A versão localizada inclusive está muito bem feita, com Alex Minei (Taiju de Dr STONE) fazendo a voz do protagonista Futaro Uesugi e o ótimo trabalho das dubladoras Ana Paula Cadamuro (Ichika), Hellen Vasconcelos (Nino), Camila Cristina (Miku), Letícia Ida (Yotsuba) e Kandy Kathy Ricci (Itsuki).

No final de abril a Crunchyroll também lançou The Quintessential Quintuplets - O Filme, que continua a história da segunda temporada e encerra a trama revelando com quem Futaro irá se casar. O longa também está com legendas em português e dublagem com os mesmos dubladores da série. Vale lembrar também que ainda em 2023 será lançado um especial em anime da série com histórias que o anime não desenvolveu, vamos acompanhar.

Caso queira acompanhar o mangá, os 14 volumes da obra foram publicados pela editora Panini com o (ótimo) título traduzido As Quíntuplas, que é como a série é mais conhecida no Brasil.

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