Notícia chocante: Jack Bender sabe fazer TV. Um dos nomes inevitáveis dos últimos 20 anos da televisão estadunidense, o diretor e produtor já colocou sua marca eficiente e sensível em produções que vão de Ally McBeal a Alias, de Família Soprano a Lost, de Game of Thrones a Origem. Essencialmente, ele também assinou episódios de Under the Dome, e produziu Mr. Mercedes e The Outsider - três séries que dividem com O Instituto, além do envolvimento de Bender, outro detalhe de bastidores: são todas baseadas em obras de Stephen King.
Explica-se, é claro: Bender e King são amigos. Em entrevista ao Omelete, o diretor se vangloriou de ser alguém em quem o mestre do terror “confia”, e em O Instituto dá para entender o motivo. Nos piores momentos de “The Boy” e “Shots for Dots”, primeiros episódios da série do MGM+, a mão firme de Bender é a única coisa que impede o espectador de se incomodar com a precariedade óbvia da produção - se é necessário que todos os diálogos aconteçam no corredor mais inconspícuo da história, decorado com os menores e mais patéticos pôsteres motivacionais de todos os tempos, Bender está lá para encontrar uma tomada menos óbvia, certificando-se que nossos olhos permaneçam no personagem ao invés de no cenário.
Um cineasta maior, é claro, acharia meio de fazer dessa precariedade uma parte do texto. É interessante que o Instituto do título da série, afinal, seja uma prisão de concreto modorrenta e brutalista muito mal-disfarçada com cartolinas coloridas e o eventual chapéuzinho de festa. Talvez King não estivesse falando das fachadas festivas capengas que as instituições mais mal-intencionadas do nosso mundo costumam construir quando escreveu O Instituto, mas a dimensão visual dessa adaptação poderia cobri-lo com este texto. Bender, no entanto, não é um cineasta maior - ele é eficaz. Sóbrio. Integral. Correto. Quando você está assistindo a Jack Bender, sabe que está vendo televisão.
Seguindo a mesma deixa, o showrunner Benjamin Cavell (que também já trabalhou com material de King, na minissérie de The Stand lançada em 2020) compõe O Instituto todo em acordes menores. O choque de Luke Ellis (Joe Freeman) quando é sequestrado, tirado da convivência da família e submetido a testes dolorosos, é sublinhado pela racionalidade obstinada do garoto, dono de QI elevado; a crueldade da Sra. Sigsby (Mary-Louise Parker, excelente como sempre), chefona do Instituto, é norteada por um pragmatismo e uma autonegação que parecem inquebrantáveis. E o embate entre os dois é mais provocativo numa dimensão intelectual do que emocional, apesar do conteúdo traumático da história em que ambos estão envolvidos.
É um tom que cai bem com essa literatura mais recente de King (O Instituto, o livro, foi publicado em 2019), que tende a se acomodar num tom mais “seco” mesmo quando abordando os elementos de fantasia que consagraram o autor. A ideia é refletir um mundo muito compatível com o nosso, e ir pinçando, aos poucos, as correntes agourentas que existem nele - no âmago dos personagens, e nas relações nefastas que vão se estabelecendo entre eles diante de pesares e dilemas morais que enfrentam. King é um observador tão arguto quanto sempre foi das decadências e falhas éticas dos seres humanos, e da sociedade que eles criam. Ele só tem escolhido, nos últimos tempos, fazer suas observações em voz baixa.
Quando funciona (como funcionou em Mr. Mercedes e The Outsider, para o crédito de King e Bender), o resultado é uma narrativa vívida mesmo que não seja muito movimentada. O Instituto, no entanto, ainda vai precisar de um tempo para provar que está no mesmo naipe das colaborações anteriores da dupla. Por ora, é televisão modesta e sólida, exatamente como Jack Bender sempre costuma fazer.