Ellen Pompeo em Grey's Anatomy/ Divulgação/ Richard Cartwright/ABC

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Grey’s Anatomy retorna para 15º ano mais focada que nunca em Meredith

Igualada a ER no número de temporadas, drama médico aposta suas fichas em sua protagonista

29.09.2018, às 17H44.
Atualizada em 29.09.2018, ÀS 20H11

É normal que séries que ficam no ar por mais de cinco temporadas sofram um desgaste natural. Em média, depois do sétimo ano as coisas começam a passar por um looping de repetições. Qualquer uma que fique mais de dez temporadas em exibição tem dificuldades notórias de oferecer momentos intensos, tais quais oferecia antes. Na maioria dos casos, o público já começa a implorar pelo fim, apenas para conseguir ver seus personagens dando as viradas que já estamos esperando há tanto tempo. Os roteiros não podem abrir mão de muito do que construíram e nem podem deixar as coisas como estão por muito tempo... Enfim, é um desafio constante.

Grey’s Anatomy está chegando a sua décima quinta temporada, se igualando a ER no número de ciclos, sendo ela o drama médico que ficou mais tempo no ar. Grey’s tem uma base de fãs das mais fortes do mundo do entretenimento e recentemente, seu prestígio entre eles se fortaleceu quando Ellen Pompeo, a estrela do programa, empoderou-se do seu papel de protagonista, deu declarações fortes sobre sua busca por respeito perante os produtores e ainda fechou um acordo milionário para mais dois anos - o que significa que a série deve chegar ao décimo sexto ano, passando para o primeiro lugar no ranking de longevidade.

Assim como em ER, os anos no ar foram desmembrando os elencos. Os fãs da série de Shonda Rhimes tem sorte, porque além de terem sua protagonista até hoje, Justin Chambers (Alex), Chandra Wilson (Bailey) e James Pickens Jr. (Richard) também são membros do elenco original. Há uma boa parte dos personagens secundários que também estão no quadro de funcionários desde muitos anos e isso ajuda o fã a continuar sua relação de afeto com o universo da série. Isso é primordial, já que com tão poucas histórias surpreendentes para contar, é mesmo a relação de afeto com os personagens que garante a sobrevida da atração. Sem isso, dificilmente Grey’s Anatomy estaria há tanto tempo no ar.

Couple Mistake

Com tantas críticas sofridas por causa de seu fetiche em tragédias, de uns tempos para cá que os fins de temporada da série e também suas estréias são cercados de calmaria e leveza. Há episódios extremos ali pelo meio do ano, ou antecedendo os últimos, mas temos nos despedido com um certo otimismo. Foi assim na décima quarta dessas despedidas e no décimo quinto desses recomeços. A vida dos personagens no Grey-Sloan Memorial ressurge como se esse fosse um episódio habitual, elegante, com calculados piques de emoção, mas também cheio dos recorrentes vícios de linguagem típicos do enredo. Depois de todos esses anos eles são perceptíveis e é justamente nesse tipo de momento que a gente se distrai.

Três casais dividem as atenções na première dupla. Jo (Camilla Luddington) e Alex casaram e iriam embora para Boston, mas o roteiro encontrou um jeito de impedir que isso acontecesse. E esse foi um dos pontos altos dos episódios, que colocaram os dois em posições diferentes das que tinham antes. Já Maggie (Kelly McCreary) e Jackon (Jesse Williams) começam de um jeito estranho, sendo salvos de um acidente por DeLucca (Giacomo Gianniotti) e ponderando essa pseudo-relação que nunca sai desse estado pseudo. O terceiro casal – Amelia (Caterina Scorsone) e Owen (Kevin McKidd) – são o problema maior. Os dois nunca funcionaram e jamais funcionarão enquanto a história deles for construída com entraves. O entrave dessa vez é Teddy (Kim Raver), que curiosamente foi poupada na maior parte da première. A tempestade, entretanto, virá.

O hospital segue com poucas inovações, pouco investimento nos internos (o que sempre faz falta), mas com um novo McSomething. Chris Carmack (conhecido como o namorado de Marissa em The OC e por sua participação em Nashville), ocupou o lugar de Callie (Sara Ramirez) na ortopedia e chegou para nos relembrar os tempos dos “médicos bonitões”, que serviam para ser alívio cômico de pacientes assanhadinhos. Não é possível saber ainda para onde o personagem vai, mas sua presença já transmitiu uma ideia de ajuste imediato, o que pode representar uma carreira longa para o Ortho God. Quando alguém entra e não funciona sabemos logo de cara (quem não se lembra de Erica?). É o que fica perceptível sobre Tom Koracik, vivido por um Greg Germann que está só repetindo seu papel em Ally McBeal.

Meredith Marriage

Enquanto as tramas dos casais e do hospital seguem com seus vícios de sempre (que incluem a velha mania de fazer com que ninguém fale sobre o que sente e prefira negações que geram comportamentos estranhos), uma surpreendente analogia ocupou o lugar dos pacientes escolhidos para ilustrar o episódio. Uma “casamenteira” que precisa encontrar um novo coração atropela uma jovem que nunca entregou o seu a ninguém. A dinâmica entre as duas costura a estreia com segurança, mas até mesmo a insistência de ter "Sleeping At Last" na trilha reproduz as mesmas conduções e os mesmos desfechos. Do mesmo jeito que notamos o “disco arranhado”, acabamos querendo de Grey’s que ela toque sempre a mesma música.

O que de melhor esse retorno teve foi todo o ponderamento acerca desse momento vivido por Meredith. Foi corretíssimo trazer a personagem para esse ponto em que ela volta a sentir desejo, a ver possibilidades, a compreender-se como mais que mãe e médica. Mas, ciente de que esse “sol” que descobriu ser não vai mais estar a sombra de ninguém. Então, vai ser divertido vê-la encarar o sexo casual, vivendo o desapego, sem nunca esquecer de se divertir. Foi desnecessário ter vendido a imagem dela com DeLucca quando na verdade tudo não passava de um sonho, mas o deslize não prejudicou o resultado final. Meredith segue sendo tudo que Grey’s Anatomy precisa.

A série tem muitos episódios pela frente, muitas possibilidades que possivelmente manterão a série em sua zona de conforto. O curioso é que mesmo que isso aconteça nada deve mudar na resposta alcançada pela produção. Grey’s Anatomy virou uma série de aconchego e geralmente quando recorremos a ela não há como se decepcionar.