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Séries e TV

Crítica

1ª temporada de Naomi conquista fazendo o básico

Série não reinventa a roda, mas apresenta conto de amadurecimento competente

19.05.2022, às 20H03.

Desde seu primeiro episódio, ficou claro que Naomi, adaptação do gibi homônimo da DC produzida pela CW, seguiria caminhos bem diferentes daqueles apresentados no material original. Mais focada na jornada de autodescoberta do que nos aspectos heróicos da HQ de Brian Michael Bendis, Jamal Campbell e David F. Walker, a série se apega bastante a clichês de histórias de amadurecimento, mas nunca permite que esses tropes fiquem no caminho do desenvolvimento de seus personagens.

Liderada por Ava DuVernay e Jill Blankenship, a sala de roteiristas de Naomi consegue transformar o lugar-comum de narrativas adolescentes em uma de suas principais forças. Mesmo que às vezes escorregue nas breguices dos quadrinhos de super-herói, o roteiro da série usa o gênero como grande metáfora para as questões de identidade pela qual todos passam na adolescência.

Na série, Naomi (Kaci Walfall), uma jovem aparentemente normal, descobre que, na verdade, vem de um universo paralelo. Fã de quadrinhos - especialmente do Superman -, a garota acaba desenvolvendo poderes parecidos com o de seus ídolos das páginas ao mesmo tempo em que lida com questões mundanas - mas não menos urgentes - que surgem na juventude. Sexualidade, amizades, responsabilidades e decisões sobre o futuro se misturam à descoberta de habilidades sobre-humanas e destinos predeterminados, criando uma história que, embora não chegue a surpreender, cativa e entretém.

O roteiro também faz um bom uso de uma linguagem mais jovem, impedindo que o núcleo adolescente fique forçado. Mais verossímil do que em outras produções de herói, o texto de Naomi torna crível as relações entre seus protagonistas, que conversam sobre escola, namoro e quadrinhos com a mesma naturalidade com que discutem invasões alienígenas e superpoderes.

O texto, inclusive, é elevado pelo bom trabalho do elenco juvenil de Naomi. Comandados por Walfall, que vive a protagonista, os atores mais jovens dominam suas cenas, especialmente Mary-Charles Jones, que transforma Annabelle, melhor amiga da heroína-título, no elemento mais cativante da série. Fazendo o papel de “guia emocional” do público, a garota também é responsável por criar alguns dos melhores momentos cômicos da série.

Infelizmente, o entusiasmo dos mais jovens nunca é reproduzido pelo elenco adulto. Ao longo dos 13 episódios de Naomi, Cranston Johnson, Alexander Wraith, Mouzam Makkar e Barry Watson atuam de forma tediosa, deixando claro que cada tomada rodada exigiu deles mais esforço do que eles estavam dispostos a fazer pela produção. Essa perceptível falta de comprometimento por parte dos adultos se traduz em cenas truncadas e chatas, algo que, embora comum em produções que estão há anos no ar, já se torna preocupante para uma série que acabou de estrear.

Outro grande problema de Naomi está na sua falta de planejamento. Embora não houvesse como prever o cancelamento precoce causado pela reformulação da CW, a equipe por trás da série se mostrou otimista demais, deixando a resolução de todos os seus arcos para uma segunda temporada que nunca será filmada. Ao invés de criar um gosto de “quero mais” no público, a produção acaba se despedindo de forma insatisfatória.

Mesmo que não seja excepcional, Naomi cumpre seu papel de entreter ao mesmo tempo em que apresenta uma nova heroína para um público maior. Infelizmente, a série foi cancelada antes de alcançar seu potencial, privando o público de acompanhar o crescimento de bons personagens e de uma conclusão minimamente decente.

Nota do Crítico
Bom