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As referências de Shang-Chi em sete filmes e uma série de TV

A Marvel tenta entrar no mercado chinês - mas fez a lição de casa direito?

02.09.2021, às 18H13.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis está chegando aos cinemas nesta semana, e com ele o Marvel Studios tenta desbravar o bilionário mercado dos blockbusters chineses. Do flerte com o gênero de fantasia wuxia aos diálogos em chinês, o novo longa do MCU é embalado para agradar o público de lá - nada mais apropriado para acompanhar a estreia, portanto, do que recomendar outros filmes (muitos deles disponíveis nos streamings brasileiros) que complementam essa experiência de intercâmbio, da comédia de imigrantes ao mais clássico dos filmes de kung fu. 

 

A Câmara 36 de Shaolin

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As pulseiras de ferro do Mandarim que estão no centro da trama de Shang-Chi são uma bela homenagem a um elemento consagrado dos filmes de kung fu, porque as argolas são tradicionalmente usadas para fortalecer os braços em treinamentos. Isso já apareceu em desenhos como Naruto e filmes de Jackie Chan, como Drunken Master, e está logo na abertura de A Câmara 36 de Shaolin, provavelmente o filme mais famoso de duro aprendizado de mestre de kung fu. Muito antes de se tornar o Pai Mei de Kill Bill, o ator Gordon Liu protagonizou este longa de 1978 que tem algumas das coreografias de luta mais imitadas do gênero.

A Despedida

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Se o ator sino-canadense Simu Liu ainda precisa se provar como astro de ação em Shang-Chi, sua coprotagonista Awkwafina parece ter sido escalada pela Marvel justamente para desequilibrar a balança e chamar a responsabilidade do carisma para si. Bem conhecida nas comédias, a atriz americana, de família sino-coreana, tem em A Despedida um veículo pensado para evidenciar o seu alcance dramático, na trama sobre uma neta que viaja com a família à China porque sua avó está doente, sem saber. Em Shang-Chi, Awkwafina nem se aventura tanto pelo idioma chinês; já em A Despedida, ela é colocada numa situação de ter que se comunicar no idioma - e entender a cultura dos seus antepassados.

Era uma Vez na China: Guerreiros à Prova de Balas

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Acabaram de entrar no catálogo do Prime Video os dois primeiros filmes dessa importante cinessérie do diretor Tsui Hark estrelada principalmente por Jet Li, para recontar em tom patriótico a consolidação econômica e cultural da China diante da ocidentalização das relações entre países na virada do século XIX para o XX. Se você precisa pegar apenas um filme para entender o que significam e como se fazem os filmes épicos de ação no auge do cinema de Hong Kong, então Guerreiros à Prova de Balas é uma ótima pedida. A câmera de Tsui Hark faz parecer simples - abusando dos contra-plongées, dos planos gerais e da profundidade de campo - o que tantos blockbusters ocidentais inchados se esforçam demais para conseguir: alcançar um senso mesmo do que é o relato épico, grandioso e abrangente.    

 

Arrebentando em Nova York

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A cena de porradaria no ônibus em Shang-Chi, em que o herói tira sua jaqueta e a usa como arma contra o bando do Punho de Lâmina, pode ser considerada uma homenagem a este filme de 1995 estrelado por Jackie Chan, embora esse golpe já tenha se diluído em mil referências de combate corpo a corpo no cinema ocidental. A ponte, neste caso, é que tanto o coordenador de dublês e o coreógrafo de lutas de Shang-Chi, respectivamente o finado australiano Brad Allan e o chinês Andy Cheng, trabalharam por anos com Jackie Chan como parte da equipe oficial de dublês do astro chinês, a partir do fim dos anos 1990, quando a produção de Chan migrou sensivelmente para o mercado ocidental.     

 

Fresh Off the Boat

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O interesse de Hollywood pelo intercâmbio com a China não é de agora. Quem acompanha a Marvel e fica sonhando com uma história estrelada por Randall Park pode se contentar com essa sitcom, que o ator coprotagoniza com Constance Wu, de Podres de Ricos. A estrutura é duplicada de sucessos parecidos, como Everybody Hates Chris, para lembrar com nostalgia dos anos 90 e permitir - por meio da memória das crianças - a caricatura dos personagens adultos. Neste caso, o foco é uma família de imigrantes de Taiwan na Flórida, e Fresh Off the Boat consegue encontrar um equilíbrio interessante - e frequentemente hilário - entre o estereotipado e o afetivo, para fazer graça com os conflitos culturais da imigração sem incorrer no preconceito.

 

A Lenda do Rei Macaco 2

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Saber que tem dragão gigante em Shang-Chi não deveria ser uma surpresa para quem já viu qualquer coisa de wuxia, o gênero de fantasia, medievalismo e artes marciais da China, ou para quem conhece o básico de Dragon Ball e da Jornada ao Oeste, as lendas que recontam as trocas entre China e Índia nos anos de consolidação do budismo no século VI. O que pode ser uma surpresa para o grande público é que no cinema chinês de hoje usa-se tanto (ou mais) CGI quanto nas produções da Marvel. Inclusive há diretores em Hong Kong que fazem disso uma arte, como Pou-Soi Cheang neste filme que adapta os eventos históricos da Jornada ao Oeste numa festa carnavalesca de divindades e criaturas míticas, de espetaculares fundos digitais e cenas de batalha apoteóticas. Não é preciso ter visto o filme anterior da Lenda do Rei Macaco para pegar o que acontece neste, mesmo porque o principal é o desfile de astros e a grandiosidade. 

 

Kung-Fusão

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Essa é manjada, e inclusive um pôster de Kung-Fusão aparece no quarto de Shang-Chi em San Francisco no começo do filme. Com o interesse do Ocidente renovado pelos longas de artes marciais, depois de O Tigre e o Dragão, Matrix e Kill Bill, o ano de 2004 viu O Clã das Adagas Voadoras se tornar um fenômeno mundial. Quem realmente serviu para mostrar ao mundo, porém, uma amostra da produção chinesa do período foi esta comédia de ação dirigida e estrelada por Stephen Chow. Nome forte dos pastelões de artes marciais nos anos 90, tanto atuando como dirigindo, Chow chegou aqui ao ápice, do ponto de vista da grandiosidade da encenação - que presta homenagem à Shaw Brothers na cenografia e resgata astros do cinema de Hong Kong para "abençoar" Chow como seu herdeiro, como Yuen Wah e Bruce Leung.

 

A Espada Selvagem

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A oportunidade de ver Michelle Yeoh e Tony Leung reunidos em um wuxia deve ser um principais apelos de Shang-Chi, afinal trata-se de dois dos nomes mais conhecidos do cinema de Hong Kong desde os anos 1990. Yeoh e Leung estrelam ao lado de Donnie Yen este filme de 1993 que, seguindo a regra do cinema de ação chinês, tem uma trama enroladíssima e cheia de reviravoltas, sobre confusão de identidades, jogo duplo e amores não correspondidos. O principal aqui é saber que o wire-fu também é outra arte do cinema de kung fu, e com os cabos suspendendo os atores (e as leis da gravidade) é possível ver Tony Leung sendo atirado como uma flecha por seu próprio arco, enquanto Michelle Yeoh degola seus oponentes com sua echarpe. No quesito wire-fu despirocado a Marvel também precisa correr atrás.