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Netflix comprou a Warner Bros, e isso é perigoso para o cinema

Streaming adquiriu o lendário estúdio de Hollywood

6 min de leitura
05.12.2025, às 09H21.
Atualizada em 05.12.2025, ÀS 10H37

Créditos da imagem: Warner Bros./DC

O mundo do entretenimento acordou com uma notícia preocupante na manhã desta sexta-feira (5). A Netflix comprou oa Warner Bros. Discovery, dona da DC Studios, HBO Max, Cartoon Network, Game of Thrones e Harry Potter. Com Paramount Skydance e Comcast – empresa mãe da Universal Pictures – fora da jogada, o streaming está na pole para adquirir um dos mais históricos e importantes estúdios de Hollywood. Seria um desastre.

Mas estamos nos adiantando. Como chegamos aqui? Por que a Netflix, tradicionalmente mais focada em seu desenvolvimento interno do que em aquisições ou fusões, se interessou pela Warner? E quais seriam as consequências dessa compra, no cinema e no streaming?

Por que a Netflix quer comprar a Warner?

Nas próximas três semanas, Stranger Things acabará. Quando isso acontecer, seis meses depois do final já esquecido de Round 6, a Netflix terá encerrado suas duas mais valiosas produções num período mais curto do que uma gestação. É claro que ambos ganharão derivados até que não haja uma gota de leite sequer na vaca dessas franquias, mas o futuro imediato da Netflix apresenta um problema familiar para a empresa. Eles não têm marcas valiosas.

“Calma lá”, você deve ter pensado. E Wandinha? E Guerreiras do K-Pop? É claro que há enorme valor nessas duas propriedades, mas a primeira é uma produção da Amazon MGM Television, dona da marca Família Addams, e a segunda foi criada pela Sony Pictures Animation, e por mais que a Netflix tenha a maior fatia do bolo, o estúdio de animação também recebe umas migalhas – e corporações detestam dividir.

Ainda assim, é muito pouco. Podemos ser bonzinhos e adicionar Bridgerton Monstros aí, mas compare com a Warner Bros: O Universo DC – que inclui Batman, Superman, Liga da Justiça e muito mais – Harry Potter, Game of Thrones, It - A Coisa, Mortal Kombat (inclusive nos games), filmes de O Senhor dos AnéisLooney Tunes, tudo na história Cartoon. 

Em outras palavras, a Warner tem uma biblioteca de histórias, personagens e mundos pelos quais as pessoas se importam. Ela também tem, na HBO, o selo mais importante e reconhecido da televisão.

Há mais razões por trás disso, sempre. Razões que envolvem negócios, ações e estratégias corporativas. Mas tudo resume-se a isso: a Netflix quer dominar o mercado do entretenimento de maneira sem precedentes – seus concorrentes diretos incluem Fortnite, TikTok e YouTube. Ela quer mais armas para a guerra. David Zaslav está disposto a vendê-las.

Por que a compra seria um “desastre” para o cinema

Os relatos iniciais são de que a Netflix deixaria os filmes da Warner nos cinemas… temporariamente. Alguns dizem duas semanas. Eu aposto numa janela maior, mas só no começo. Um gesto para acalmar profissionais, políticos tentados a bloquear a aquisição e fãs revoltados. 45 dias. Depois, isso baixaria para 30. Depois, 15. Finalmente, esses 15 dias seriam algo reservado apenas para as maiores produções, ou para longas que precisam passar algum tempo no cinema para serem elegíveis ao Oscar que a Netflix nunca ganhou. Nessa quinzena, é claro, ninguém iria ver os filmes, aguardando seu lançamento no app. Então, a Netflix teria o argumento totalmente fabricado de que as pessoas não querem sair de casa.

Desastre” foi a palavra dita por James Cameron, diretor de Avatar Titanic, quando ele descreveu o que aconteceria se a Netflix comprasse a Warner. Se tem algo que a história do entretenimento nos ensinou, é que não é sábio duvidar de James Cameron. E a maior vítima desse cenário seria, claro, o cinema. 

A Netflix não tem interesse no cinema como arte, como experiência, como comunidade e como indústria. Seu CEO chama a ideia de lançar filmes lá de “ineficiente”, teimando mesmo quando o público que assiste aos filmes da Netflix claramente insiste no contrário e quando os talentos mais valiosos da empresa partem para outros campos porque querem colocar seus projetos na telona, e não deixá-los perdidos num oceano de algoritmo.

Ted Sarandos não acredita no cinema. Ele disse isso repetidas vezes, e isso continuará sendo verdade mesmo quando ele tiver alguns dos maiores filmes do cinema na mão, caso a compra seja aprovada. Em 2025, a Warner teve um dos melhores anos de sua história recente. Em qualidade, o estúdio lançou o filme definidor do século até agora em Uma Batalha Após a Outra. Em bilheteria, comprovou mais uma vez que adaptações de videogames são uma estratégia essencial com Um FIlme Minecraft. E nos dois, permitiu que Ryan Coogler e Zach Cregger criassem fenômenos financeiros e artísticos com Pecadores A Hora do Mal

Na Netflix, tudo isso ganharia o mesmo destaque que a próxima temporada de Casamento às Cegas. As superproduções como Superman Batman seriam colocadas, sem cerimônia, lado a lado a uma montanha de documentários true crime produzidos entre o sensacionalismo e o questionável. Não haveria mais blockbusters da DC. O legado de Cidadão Kane e Casablanca desaparecia enterrado debaixo de mais uma produção terrível de Ryan Murphy

O fim da HBO

Então, há o streaming. As manchetes do cinema serão mais preocupantes, e devem ser. Afinal de contas, streaming é streaming. Televisão é televisão. Ainda assim, ver a HBO entrando na Netflix é o tipo de visão reservada para pesadelos e apocalipses. 

“Séries de prestígio” não acontecem mais como antigamente. Mas, quando acontecem, quando algo domina os entusiastas mais dedicados do mundo televisivo, normalmente é na HBO. Para cada Pluribus ou (para crédito da Netflix) Adolescência, há TaskIndustrySuccessionEuphoria e Pinguim. Isso para não falar dos clássicos. True DetectiveSopranosThe WireGame of Thrones, etc.

Casey Bloys, o chefão da HBO, preza por qualidade. Algo que possa dominar a imaginação, intrigar e nos deixar fissurados por uma semana, aguardando ansiosamente a resolução do próximo capítulo. A Netflix preza por uma experiência que possa ser “consumida” de uma vez só. Um ruído de fundo para deixar ligado enquanto o usuário rola o feed no celular, lembrando ocasionalmente de levantar os olhos para a tela, onde um personagem certamente lhe responderá com um diálogo expositivo lembrando tudo que aconteceu nos últimos cinco minutos, quando o público estava distraído por um vídeo gerado por IA.

Isso não quer dizer que não haja séries muito boas na Netflix, mas com exceção de Adolescência, esses projetos tendem a ser completamente esquecidos no catálogo. O que a HBO faz é deixar suas produções respirarem, é dar um palco merecido para grandes obras, criadores e artistas. O selo “HBO” gera confiança nas pessoas, e permite que, ao invés de entupir a home do streaming, uma série chame toda a atenção para si.

Imaginar isso tudo na Netflix resume bem o problema dessa aquisição. A indústria do entretenimento iria diminuir, a do cinema levaria um dos maiores golpes de sua história, e tudo isso aconteceria para que mais tijolos fossem adicionados à parede de “conteúdo” de um aplicativo.