Os primeiros meses do ano costumam ser fracos para o cinema e não é diferente para os filmes de terror. Para contornar a seca, as distribuidoras aproveitam o momento para importar produções estrangeiras e é assim que, nos últimos anos, obras russas como A Sereia - Lago dos Mortos (2019) e A Maldição do Espelho (2020) ganharam espaço nas telonas brasileiras. Mesmo com a pandemia da covid-19 fechando salas país afora, 2021 manteve a tradição com A Viúva das Sombras, estreia do cineasta Ivan Minin na direção e roteiro.
A trama acompanha uma equipe de resgate enviada em busca de um garoto desaparecido nas florestas de São Petersburgo. A região é marcada por estranhos sumiços de pessoas e aparições de cadáveres, com os habitantes suspeitando do envolvimento de uma entidade chamada de a Viúva das Sombras. Com a estranheza da situação e do local, a busca da equipe de resgate é documentada por um grupo de jornalistas.
Soa familiar? Sim, o filme é descaradamente uma imitação russa de A Bruxa de Blair - inclusive, com estética muito parecida à sequência de Adam Wingard de 2016, ao usar GoPros em conjunto com a câmera tradicional. Há cenas tiradas diretamente do clássico de 1999, como a abertura documental, as entrevistas com os moradores da região e, claro, o clássico encerramento, com alguém misteriosamente encarando a parede em uma cabana abandonada no meio do mato.
Porém, a falta de originalidade não significa que tudo está perdido. A decisão de não se limitar ao found footage, com diversos trechos mais tradicionais, ajuda a quebrar um pouco a sensação de cópia vazia. Além disso, a ambientação e o teor da lenda urbana dão um gostinho de mitologia eslava que ajuda a diferenciar levemente da bruxa original.
A Viúva das Sombras também tem alguns bons truques nas mangas. Enquanto não traz nada de novo ou impactante, o diretor sabe muito bem como criar tensão, e os sustos também não desapontam. A falta de qualquer interesse nos personagens, ou qualquer tipo de desenvolvimento na premissa impedem que se torne um filme melhor ou minimamente marcante, mas sequências com aparições fantasmagóricas, ilusões e possessões criam um longa de 1h30m intrigante e bastante tolerável. Só é preciso perdoar as mortes em computação gráfica.
No fim das contas, o longa é bastante consistente na tradição de início do ano: filmes de terror russos de procedência duvidosa, amaldiçoados por uma terrível dublagem em inglês, e que sempre se tornam sucessos de bilheteria no país. Nem os cinemas fechados impediram que A Viúva das Sombras tomasse o primeiro lugar da arrecadação brasileira. O mesmo ocorreu com as obras antecessoras, até antes da pandemia. Talvez o público do Brasil tenha desenvolvido um gosto pelo horror russo de qualidade questionável? Talvez. De qualquer forma é um fenômeno que veio para ficar, com uma nova ameaça eslávica por ano.