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A Viúva das Sombras imita A Bruxa de Blair, mas compensa com bons sustos

Produção russa consegue ao menos criar uma boa tensão no espectador

27.03.2021, às 15H05.

Os primeiros meses do ano costumam ser fracos para o cinema e não é diferente para os filmes de terror. Para contornar a seca, as distribuidoras aproveitam o momento para importar produções estrangeiras e é assim que, nos últimos anos, obras russas como A Sereia - Lago dos Mortos (2019) e A Maldição do Espelho (2020) ganharam espaço nas telonas brasileiras. Mesmo com a pandemia da covid-19 fechando salas país afora, 2021 manteve a tradição com A Viúva das Sombras, estreia do cineasta Ivan Minin na direção e roteiro.

A trama acompanha uma equipe de resgate enviada em busca de um garoto desaparecido nas florestas de São Petersburgo. A região é marcada por estranhos sumiços de pessoas e aparições de cadáveres, com os habitantes suspeitando do envolvimento de uma entidade chamada de a Viúva das Sombras. Com a estranheza da situação e do local, a busca da equipe de resgate é documentada por um grupo de jornalistas.

Soa familiar? Sim, o filme é descaradamente uma imitação russa de A Bruxa de Blair - inclusive, com estética muito parecida à sequência de Adam Wingard de 2016, ao usar GoPros em conjunto com a câmera tradicional. Há cenas tiradas diretamente do clássico de 1999, como a abertura documental, as entrevistas com os moradores da região e, claro, o clássico encerramento, com alguém misteriosamente encarando a parede em uma cabana abandonada no meio do mato.

Porém, a falta de originalidade não significa que tudo está perdido. A decisão de não se limitar ao found footage, com diversos trechos mais tradicionais, ajuda a quebrar um pouco a sensação de cópia vazia. Além disso, a ambientação e o teor da lenda urbana dão um gostinho de mitologia eslava que ajuda a diferenciar levemente da bruxa original.

A Viúva das Sombras também tem alguns bons truques nas mangas. Enquanto não traz nada de novo ou impactante, o diretor sabe muito bem como criar tensão, e os sustos também não desapontam. A falta de qualquer interesse nos personagens, ou qualquer tipo de desenvolvimento na premissa impedem que se torne um filme melhor ou minimamente marcante, mas sequências com aparições fantasmagóricas, ilusões e possessões criam um longa de 1h30m intrigante e bastante tolerável. Só é preciso perdoar as mortes em computação gráfica.

No fim das contas, o longa é bastante consistente na tradição de início do ano: filmes de terror russos de procedência duvidosa, amaldiçoados por uma terrível dublagem em inglês, e que sempre se tornam sucessos de bilheteria no país. Nem os cinemas fechados impediram que A Viúva das Sombras tomasse o primeiro lugar da arrecadação brasileira. O mesmo ocorreu com as obras antecessoras, até antes da pandemia. Talvez o público do Brasil tenha desenvolvido um gosto pelo horror russo de qualidade questionável? Talvez. De qualquer forma é um fenômeno que veio para ficar, com uma nova ameaça eslávica por ano.

Nota do Crítico
Regular