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No Ritmo do Coração: Como foi feito filme com atores surdos que conquistou Oscar

Omelete entrevistou a diretora do longa, Sian Heder; filme foi vendido para Apple por US$ 25 milhões

28.03.2022, às 04H01.
Atualizada em 27.12.2022, ÀS 10H29

No Ritmo do Coração (CODA), grande vencedor do Oscar 2022, quebrou um recorde e tanto meses antes, no Festival de Sundance: os direitos do filme, nos Estados Unidos, foram adquiridos, pela Apple, pelo valor de US$ 25 milhões, o mais alto já registrado no evento. E não é difícil entender por que ele fez tanto sucesso e chegou ao prêmio mais cobiçado do cinema. P longa é um drama familiar comovente, que emociona e faz rir com sua história centrada em Ruby (Emilia Jones), adolescente ouvinte cujos pais e irmão são surdos.

Ruby tem de conciliar suas responsabilidades familiares com a sua paixão pela música, em uma trama que fala de amadurecimento e identidade. É uma fórmula universal bem executada -- que, segundo a diretora Sian Heder, tem se sobreposto a qualquer resistência que o público possa ter com o fato de que boa parte do filme está em ASL, a língua americana de sinais.

Tive muitas pessoas contando para mim que esqueceram que estão vendo um filme em língua de sinais. Depois dos primeiros minutos, elas estão completamente investidas na história, e eu acho isso muito empolgante”, disse ela em entrevista ao Omelete, em setembro de 2021.

A história e o significado do título

CODA, o título original do filme, é um acrônimo em inglês para Child of Deaf Adults (filho de adultos surdos, em tradução livre). Mas “coda” é, também, o nome dado à seção com que se termina uma música -- uma metáfora bem apropriada para a trama.

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Heder, diretora que trabalhou em episódios de Orange Is The New Black e comandou o filme Tallulah, se apaixonou pela história ao vê-la retratada no filme francês A Família Bélier (2014), que serviu de base para sua versão: “Acho que a experiência de um CODA é muito única. Essas crianças se sentem parte da comunidade surda, mas ao mesmo tempo, são ouvintes, então elas têm que navegar nesses dois mundos”.

A cineasta, no entanto, quis dar um passo além do original, contratando colaboradores e atores surdos. “Queria encontrar uma forma de retratar a autenticidade dessa vivência, que nunca vemos nas telas”, contou.

Para isso, Heder -- que sabia que estava vindo como “um peixe fora d'água" para a comunidade -- deu início a um processo intenso. Ela entrevistou CODAs, aprendeu a língua de sinais, e começou a frequentar o Deaf West Theatre, uma companhia teatral que faz peças com atores surdos. Foi lá que ela encontrou Troy Kotsur, que vive Frank, o pai de Ruby (e é responsável por alguns dos momentos mais engraçados do longa).

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O que eu descobri é que tem muito talento dentro daquela comunidade, e havia muitas pessoas que poderiam ter feito esses papéis. Foi um processo de realmente encontrar as pessoas que se conectassem com esses personagens”, recordou. Além de Kotsur, completam a família de Ruby a vencedora do Oscar Marlee Matlin, como mãe da protagonista, e o ator Daniel Durant como seu irmão.

Os bastidores

A experiência nos bastidores do filme foi, também, única. “No começo, nós tínhamos sete intérpretes no set”, lembrou Heder. “Queríamos criar um ambiente em que a equipe pudesse falar com os atores, e todo mundo soubesse o que estava acontecendo. Mas quando eu tentei me comunicar com um intérprete, não gostei, porque eu não estava olhando os atores nos olhos”.

Com o aval do elenco, a diretora então começou a se comunicar com os atores em língua de sinais. “Nós tínhamos um intérprete pronto para agir se eu me perdesse com as palavras, mas foi um processo interessante de descobrir a minha voz criativa usando o meu corpo, e não uma língua falada”.

Ainda há a barreira das legendas?

Sobre o resultado final, Heder reconhece que é engraçado que seu remake de um filme francês também seja cheio de legendas para o mercado americano -- que por muitos anos foi considerado avesso a elas. Mas ela acredita que o cenário vem mudando bastante.

Acho que estamos em uma época muito multicultural, especialmente no entretenimento, com as pessoas abraçando histórias diferentes”, disse a cineasta. “Adolescentes estão acostumados com mensagens de texto, então ler legendas não parece grande coisa. Acho isso lindo porque permitiu às pessoas se expressarem em suas próprias línguas e não ter que sempre tornar tudo tão centrado no inglês”.

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