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Baby Love

Filme discute a homoparentalidade na França sem dar respostas

24.09.2008, às 15H00.
Atualizada em 11.11.2016, ÀS 13H03

Mais conhecido por aqui como o Merovingian de Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, o ator francês Lambert Wilson protagoniza este filme agridoce a favor dos direitos gays. Como um dos personagens de Baby Love (2008) diz logo no começo, até um país beato como a Espanha permite a casais homossexuais adotar filhos, mas na iluminista França isso é contra a lei.

Baby Love

Baby Love

Manu (Wilson) está desesperado. A saída seria arrumar uma barriga de aluguel por conta própria, o que já mostra o desespero... Pediatra, ele lida com bebês o dia inteiro. Foi justamente essa obsessão por ter filhos que afastou seu namorado, Philippe (Pascal Elbé). Ou seja, Manu está desesperado - e sozinho.

Eis que surge na vida de Manu uma bela espanhola, Fina (Pilas López de Ayala), que teve seu visto de permanência na França expirado e precisa achar um jeito de renová-lo. Não preciso me estender muito aqui para que você entenda o que vai acontecer...

Roteirista e diretor do filme, Vincent Garenq trabalha mais em TV do que em cinema - ele estreou como cineasta com dois curtas em 1992 e 1994 e só voltou a trabalhar em 1999, já na televisão. Baby Love tem a típica cara de filme produzido para telespectadores: investe mais no texto do que na construção de imagens, deixa claro seu discurso, evita muito confronto e pesa a mão nos momentos mais dramáticos.

Justiça seja feita, há alguns momentos muito bonitos em Baby Love, como a cena do estetoscópio, quando Manu, no auge do desespero, escuta o coração de uma criança com o aparelho. E o retrato que se faz do bairro parisiense de Belleville, região de misturas culturais, é, no mínimo, oportuno, dado o momento de intolerância que a cidade atravessa hoje em dia. Mas há as deficiências.

Garenq tenta não melodramatizar demais as coisas, mas às vezes perde o controle, como na cena da discussão na chuva, essa obrigatoriedade das comédias românticas. O diretor pega pesado para tentar dar mais carga à relação de Fina e Manu, uma carga que parece gratuita. Por outro lado, na hora de abordar alguns conflitos da paternidade, Garenq se sai com um gracejo - como quando os sobrinhos de Manu fazem uma pergunta incômoda e os adultos dizem para eles brincarem no quintal.

Em outras palavras, a exposição do drama de Fina - a quem cabem os desequilíbrios emocionais que movem a trama - é inversamente proporcional ao aprofundamento da história de Manu - que, afinal, é um sujeito de bem, com relação, temperamento e emprego estável. Garenq não poupa Fina, mas quando perguntamos mais sobre a condição dos gays (se o protagonista fosse promíscuo, por exemplo, ele teria "menos" direito de querer ser pai?), o diretor nos diz para brincar no quintal.