BBC/Divulgação

Séries e TV

Entrevista

Conheça Gabriela Toloi, a primeira atriz brasileira a atuar em Doctor Who

Atriz ficou conhecida no Brasil por viver Aurora na série Psi, da HBO

11.03.2020, às 19H27.
Atualizada em 28.07.2022, ÀS 10H04

Em seus 57 anos de história, Doctor Who já levou seus protagonistas, companions e espectadores para diferentes lugares e eras da humanidade. Do México no século XV em “The Aztecs” (1964) à Índia dos anos 1900 de “Demons of The Punjab” (2018), a clássica série da BBC explorou diversas culturas diferentes além da britânica, seguindo a premissa de entreter e educar crianças e adolescentes estabelecida por Sydney Newman nos anos 1960. Ao longo dos anos, o crescimento da produção fez com que atores de diversas nacionalidades entrassem para o elenco da série, mesmo que em papéis pequenos. Em 2020, a atriz Gabriela Toloi, mais conhecida por sua participação na terceira temporada de Psi, da HBO, se tornou a primeira brasileira a atuar em Doctor Who, aparecendo como Jamila no episódio “Praxeus”.

Não importa o tamanho do seu papel, eles sempre te dão uma importância grande, porque você está fazendo parte da trama, independentemente do tamanho do seu personagem”, afirma a atriz ao comparar HBO e BBC, duas emissoras internacionais responsáveis pela criação de séries icônicas. Toloi teve um papel de destaque no terceiro ano de Psi e agora foi uma das vítimas da misteriosa doença do sexto episódio da 12ª temporada de Doctor Who. Apesar da diferença de importância entre os papéis, ela ressalta que foi  tratada com respeito pelas equipes das duas produções, reforçando que ambas “têm um carinho muito grande pelos projetos e pelas pessoas que assistem, então é muito bacana”.

Sobre as diferenças nas gravações de Psi e Doctor Who, a atriz comenta sobre a questão confidencialidade que vem ao fazer uma série com quase 60 anos e um dos fandoms mais apaixonados do mundo. “Entre gravar o episódio e ele sair demorou um ano, e Doctor Who é uma série que movimenta muitos fãs, eles fazem teorias e correm atrás de informação. A gente foi instruído a tomar muito cuidado e realmente ficar bem quieto”, contou Toloi, afirmando que o público da série brasileira costuma ser formado por psicólogos e psiquiatras que não criavam preocupações em relação a spoilers. “Pra mim foi muito engraçado o quanto guardar aquele segredo era importante”.

Entrando no universo de Doctor Who

Atualmente, Doctor Who e os vários segredos que cercam sua produção são temas de discussão entre os fãs mais apaixonados, que teorizam desde o destino de companions à escalação de novos Doutores, que costumam ser anunciados com pompa em eventos dedicados ou teasers de um grande evento. Por outro lado, o chamado recebido por Toloi para integrar um dos mais ricos universos da ficção científica da cultura pop veio em um momento rotineiro. Visitando a família no Brasil após um ano de pós-graduação na Inglaterra, a atriz estava passeando com a mãe em um shopping em São Paulo quando recebeu uma ligação de seu agente. “Eu fiquei super eufórica, porque é uma oportunidade que não se espera tomando um café à tarde no shopping com sua mãe”.

Aqui no Reino Unido os testes para séries e peças são bem remotos. Você recebe um pedido de uma selftape, que nada mais é do que um texto que você recebe e grava em casa ou num estúdio, manda pros produtores de casting e eles analisam” continuou a atriz, que filmou as falas ao lado do pai. Como os produtores de Doctor Who procuravam alguém com um sotaque mais presente para interpretar as personagens brasileiras – além de Toloi, a portuguesa Joana Borja também vive uma viajante vinda do Brasil -, o teste de Gabriela foi um sucesso.

Com experiência em diversas peças independentes, formação profissional em atuação na Universidade de São Paulo e pós-graduada no Drama Studio London, Toloi não se sentiu intimidada com sua entrada para o Universo de Doctor Who. Apesar de ser o sexto capítulo da temporada, “Praxeus” foi gravado em janeiro de 2019, logo no começo da produção do 12º ano. Assim, o set contou tanto com o elenco principal, quanto com vários nomes importantes da equipe. “São pessoas extremamente bacanas, super receptivas e interessadas. A coisa que mais escuto é ‘nossa você é brasileira e mudou pra esse país tão cinzento, tão chuvoso, por que você não ficou lá, queria eu morar num país que tivesse tanto sol!’”.

Eles têm muita curiosidade, acham muito bacana uma pessoa que vem de um país a um oceano de distância, que teve a coragem de vir pra cá e estar ali compartilhando o mesmo espaço que eles. Em nenhum momento aconteceu de eu falar ‘estou me sentindo diferente aqui’”, seguiu Toloi, que gravou grande parte de suas cenas na África do Sul. Segundo a atriz, as semelhanças entre os sul-africanos e os brasileiros também ajudaram na sua integração. “Eu me senti bem em casa, pra ser sincera. E tive também uma diária em Gales, em Cardiff, onde gravam a série, e também não notei diferença nenhuma”.

Toloi diz que o quarteto principal da série, formado por Jodie Whittaker (13ª Doutora), Tosin Cole (Ryan), Mandip Gil (Yas) e Bradley Walsh (Graham), também mostrou interesse pela vida e carreira dos outros colegas de elenco, convivendo sempre que possível com os outros atores. Juntos desde 2017, quando começaram a gravar a 11ª temporada, os quatro britânicos não formavam uma “panelinha” no set. “Pelo contrário, a gente almoçava todos juntos e entre as tomadas, no momento em que a câmera estava sendo preparada, ficava junto esperando para gravar o próximo take. São muito receptivos, sempre queriam saber sobre a gente, quem a gente era, conversar, bater papo, e até formamos amizade por causa disso”, conta a atriz, que contracenou principalmente com Whittaker e Cole, mas conviveu com os demais atores nos bastidores.

Doutor Quem?

Apesar da fama inegável na Inglaterra, Doctor Who não está necessariamente inserida no DNA dos atores da série. Por conta do espaço de 16 anos entre o fim da era clássica e a primeira temporada do reboot, em 2005, astros como Matt Smith (11º Doutor) e Whittaker tiveram seu primeiro contato real com o universo Whovian durante seu processo de testes para o papel principal e com Toloi não foi diferente. “Eu conhecia a série Doctor Who antes de fazer parte, mas nunca tinha assistido. Conhecia porque eu era bem fã da série Sherlock, e o showrunner das séries era o mesmo [Steven Moffat, criador de Sherlock, ocupou o cargo entre 2011 e 2017]”.

Também a exemplo de Smith e Whittaker, não ter assistido a série não foi exatamente um empecilho para a brasileira que, por viver na Inglaterra, contou com a ajuda de amigos e colegas para se inteirar sobre o universo do qual faria parte. “O menino que mora comigo fez uma lista de 10 episódios que eu deveria assistir antes de gravar e me ensinou toda a história todo o universo. Eu, que nunca fui uma grande fã de ficção científica e fantasia, achei super bacana, especialmente os episódios mais históricos, que são minha vibe”.

Os whovians, apaixonados fãs de Doctor Who, também abraçaram a chegada de Toloi à série. A atriz participou de um podcast sobre a série e da live do episódio promovidos pelo Doctor Who Brasil, um dos principais fan-sites nacionais da produção, e viu seu Twitter, ferramenta que raramente usava, receber diversas mensagens de espectadores após a exibição original do episódio, que foi ao ar em 2 de fevereiro na Inglaterra. “Até ficava meio perdida sobre como responder. O pessoal do Brasil é muito apaixonado pela série e é legal de ver o quanto o pessoal se importa, gosta e acompanha”.

O contato com o fandom britânico pode não ter sido tão intenso, mas também foi divertido. Além de algumas cartas e recados de fãs, Toloi conta que “um professor mandou pra gente no Twitter uma carta dizendo que passou pros alunos dele o episódio [“Praxeus” fala sobre poluição e o uso excessivo de plástico] e eles colocaram o que mais gostaram e o que menos gostaram. Falaram que não gostaram que minha personagem explodia, mas que a maquiagem era muito assustadora”.

Foi um contato muito legal e eu fico muito feliz toda vez que recebo algum comentário ou post, ou pessoas dizendo que o sonho delas era atuar, e por conta da minha participação elas se sentem motivadas”.