Hildur Gudnadottir/Amy Sussman/Getty Images North America/AFP/Coringa/Warner Bros/Divulgação

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Coringa: como a trilha sonora estabelece a identidade do filme

Hildur Gudnadottir levou Emmy e Critics' Choice e é favorita a vencer o Oscar

31.01.2020, às 17H44.

Um dos maiores nomes em ascensão no mundo de trilhas sonoras atualmente é de Hildur Gudnadottir. Pouco conhecida há alguns meses, a violoncelista islandesa já fez turnê com algumas bandas (como Animal Collective e Sun o)))) e lançou álbuns solos, mas foi com seu trabalho de compositora para as telas que ela roubou os holofotes, tendo trabalho nas composições de Sicário: Dia do Soldado e Maria Madalena no ano passado. No início de 2020, a musicista vive uma explosão em sua carreira, colecionando prêmios em diversas cerimônias - incluindo Grammy, Emmy e Critics' Choice Awards - por seu trabalho tanto em Chernobyl quanto em Coringa. Com tantas estatuetas já colecionadas, e marcando a história como a sétima mulher indicada por Trilha Sonora na história do Oscar, Gudnadottir já está marcada como a favorita a levar o prêmio na Academia. 

Seus dois trabalhos premiados, tanto na série da HBO quanto no filme de Todd Philips, são únicos em sua própria maneira. Enquanto a música de Chernobyl foi admirada pela sua inovação – através da captura de sons de usinas nucleares abandonadas – Coringa é um trabalho à parte quando se fala de trilhas sonoras no cinema por seu papel fundamental em estabelecer o tom do filme. Ao contrário da maioria dos trabalhos de Hollywood de hoje em dia, a trilha sonora de Gudnadottir foi composta antes do início das filmagens. 

A maior parte das produções atuais introduz o compositor na fase final do processo, deixando que a pessoa responsável pela trilha assista ao produto bruto para que a trilha seja criada em cima, em um ritmo já criado pelo diretor nas filmagens. Ao inverter o processo, longas que trabalham com composições já feitas produzem em cima da trilha, criando um produto movido pelo ritmo musical, estabelecido pelo compositor. A estratégia, que exige uma relação muito maior entre diretor, roteirista e compositora, resulta em uma relevância maior da trilha sonora, que estabelece tanto passo quanto tom do filme.

“Todd me mandou o roteiro assim que ele terminou e me pediu para responder com uma música, de imediato”, ela explicou à Esquire. “Eu compus com o que eu estava sentindo, imaginando o som e o ritmo da narrativa. Ele entendeu muito bem o que eu escrevi e acabou filmando a maior parte do material com as músicas que eu já tinha escrito. Isso foi incrível porque a música e o filme crescem juntos”. 

O diretor Todd Phillips explicou a simbiose entre as cenas e suas músicas, dizendo que a tática se provou certeira para todos os aspectos da produção [via Blackfilm]: “Nós usamos a trilha enquanto filmamos, o que foi incrível para Joaquin [Phoenix], para mim, os operadores de câmera e toda a equipe. [A trilha] ajudou a formar o filme e a cinematografia de um jeito que eu nunca tinha experimentado antes”. 

Em Coringa, o resultado de um trabalho mais colaborativo fica transparente na tela. O ritmo claro que o filme tem do começo ao fim, assim como o seu clima sombrio, não são apenas complementados pelas músicas; eles foram estabelecidos por ela. A transição da psicologia de Arthur Fleck e o seu caminho à uma insanidade cada vez mais intensa fica ainda mais enraizada por ter sido trabalhada em conjunto com a música. A compositora explica este processo perfeitamente [via NPR]: “No começo, você só ouve o violoncelo. A medida em que vamos progredindo, a orquestra fica cada vez mais alta, até chegar um ponto em que ela sufoca o violoncelo. É como se a empatia que sentimos pelo personagem fosse o instrumento, e seu lado sombrio fosse a orquestra, quase inaudível no começo, até que ela se aprofunda totalmente no desenrolar do filme”.

Resta aguardar a cerimônia do Oscar em 9 de fevereiro para saber se Gudnadottir ganha a honra da Academia. Fique ligado no site e nas redes sociais do Omelete para não perder nenhum detalhe da premiação mais importante do cinema.